Na calçada da fama

Você sabia que Brasília também tem calçadão onde as "celebridades" podem ser vistas como simples mortais? Só que, por aqui, as nossas estrelas são os políticos e ministros do Executivo e Judiciário. Nada comparável à beleza das globais ou ao talento musical e poético do Chico, do Caetano e de outros bambas que circulam pela orla carioca, mas qual candango já não teve de responder à pergunta: “você vê o presidente todos os dias?”

Pois é, quando descobrem que a gente vive na capital da República, acreditam que somos íntimos do poder e que tudo na cidade se resume à Esplanada dos Ministérios. Que todos os dias tomamos café com a Dilma e almoçamos com o José Sarney (blergh!). Culpa da mídia, que faz questão de mostrar Brasília como uma freak, localidade cheia de vazios monumentais e de políticos inescrupulosos. Mas somos, sim, uma cidade de carne e osso. Acredite! E, no calçadão da Asa Sul, podemos nos sentir leves para usufruir um lugar quase normal, onde a arquitetura não se sobrepõe aos habitantes.

Nos quilômetros da calçada que liga as quadras 300, as manhãs são uma festa de estilos, idades e objetivos. São velhinhos tomando sol; barrigudos passeando com cachorros de variados tamanhos, formas e cores; mulheres de meia idade com suas viseiras e muito protetor solar; quarentões correndo em passadas vigorosas; ciclistas disputando espaço; jovens indo e vindo da escola ou mesmo matando aula em grupos saltitantes.

E você encontra até malucas que sobem e descem os braços exercitando os bíceps e tríceps com pesos-laranja de um quilo, isto é, euzinha, a blogueira sem vergonha de malhar! Bebês com suas babás; crianças na primeira infância com os pais... No calçadão, tem cantinho para todos: os que vêm e vão por lazer ou por obrigação. A cidade ganha vitalidade e alma transitando embaixo das árvores frondosas, testemunhas oculares dessa Brasília que cresceu e se multiplicou muito além das expectativas.

Caminhando pelo calçadão, a gente também encontra cidadania. Quem passa pela altura da quadra 306 sul lê numa placa: “você já abraçou a sua comunidade hoje?”. O painel simpático dá dicas de como zelar pelo bem-estar de quem compartilha a vizinhança. É um belo ensaio para que um dia nos tornemos uma sociedade civilizada de fato. Alentador.

Mas o mais divertido, devo admitir, é pegar as autoridades no flagra. Nada mais delicioso do que desmascarar um ministro do STJ (Superior Tribunal de Justiça) que pensa estar anônimo na multidão, irreconhecível em seus trajes plebeus. Eles sempre se assustam, coitados! Como se, despojados da enorme capa preta e do terno bem cortado que os protegem nos “templos” da Justiça, voltassem a ser crianças indefesas. Exercito o meu lado perverso e lanço displicente: bom-dia, ministro! Eles se chocam e eu me delicio. Eureca! Magistrados também pingam de suor, fedem e sofrem para manter a linha! E quem não tem Cauã Raymond ou Fernanda Lima, caça com gato arrepiado mesmo.

Para os habituês do calçadão da Asa Sul, cruzar com as celebridades brasilienses não causa mais comoção. No máximo, repulsa. Outro dia, sem ser avisada com antecedência (para mudar de horário e até de calçada), esbarrei com os deputados Rodrigo Maia e Ronaldo Caiado. Caramba, às oito da manhã é demais para qualquer fígado cristão!!! Porém, há encontros amenos com o senador Eduardo Suplicy e seu jeitão desengonçado e afável de ser.

Brasília é assim, um tantinho perto da humanidade mais prosaica. Como protestar pela escola pública de qualidade, fazendo discurso e tudo, e perceber que o cara que já foi governador da cidade e no qual você votou para presidente do País está ao seu lado, participando da manifestação como um cidadão comum que, afinal de contas, é.

“Gostei do seu discurso”, me confidencia o senador Cristovam Buarque. Dessa vez, foi a perversa aqui que se desconsertou. Senti minhas bochechas corarem. Colegial emudecida na frente do ídolo.

P.S. Graças aos discursos dos pais e da presença de alguns deputados distritais e do senador Cristovam, o ex-governador Arruda (que vá pra bem longe e nunca mai apareça) não conseguiu fechar os jardins de infância públicos do Plano Piloto. O povo unido, jamais será vencido, galera!

Comentários

  1. Vc fez um discurso? Quando, onde e como? Não tô sabendo... conte!

    Aqui em JF só vemos as celebridades depois que elas se aposentam e se forem da terrinha. Outro dia vi a Márcia Fu (do volei, lembra?) entrando num táxi. Figurinha fácil por aqui, digo, figurona, né, dois metros de mulher... rs. Babado: tá com uma pança de fazer dó, credo, que desleixo prá quem já foi uma atleta!

    Beijos
    Patty

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  2. Eu, de vez em quando, cruzo com políticos no parque da cidade, quando vou fazer minha caminhada. Mas legal mesmo é cruzar com o Chapolim. Você já viu que figura é aquele cara andando de bicicleta todo fantasiado?

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