Minha Goiânia

Mãe é uma categoria de gente estranha. Uma subespécie (sem que o prefixo nos subestime ou menospreze) que não se convence de que o sonho do filho não pode ser realizado.

E havia orquídeas no meio do caminho...
Eu tinha de encontrar a tal fantasia de abelha para o Tomás de qualquer jeito. Missão praticamente inatingível porque ele tem sete anos e altura de nove. Além disso, é menino e as indústrias acreditam que só meninas mais velhas gostam de se fantasiar. Entretanto é o primogênito que faz questão de se transformar em outras coisas, sejam elas de fácil realização ou não.

Bosque dos Buritis
Sorte estar de bobeira em Goiânia porque Goiânia é uma versão miniaturizada de São Paulo, sem poluição e com verde de sobra, o que melhora qualquer astral. A capital do estado de Goiás é uma pequena esmeralda, lapidada de forma aprazível e hospitaleira. As ruas lotadas de árvores amenizam a temperatura ardente e há praças para todos os lados. Basta caminhar um pouquinho para tropeçar em algumas delas.

The greenbrick road...
Por isso passear a pé pela cidade é um prazer. Há muitas calçadas em ótimo estado de conservação, muitos bancos para descansos estratégicos, plantas variadas, sombras, grama, passarinhos. De quebra, você ainda conta com a simpatia do povo, sempre pronto para bater um papo no ponto de ônibus. É tanto "bem" pra lá e tanto "bem" pra cá... Os goianos falam bom-dia nos elevadores, nas portarias, na padaria e também dão informações corretas para os turistas perdidos como yo.

Uma ilha de prédios cercada de verde por todos os lados
Portanto é tranquilo fazer turismo em Goiânia. O transporte público eficiente  e acessível te leva para qualquer lado. Eles têm um sistema chamado sitpass (que eu achei que fosse citypass. Quase acertei no inglês, ô Brasil colonizado!!) que acabou com a figura do cobrador. A existência de vários terminais também faz você economizar passagem, pois, com um único bilhete, você pode pegar dois ônibus. Além disso, os motoristas são motoristas e não trogloditas.

Entender é parede. Procure ser uma árvore
(Manoel de Barros)
O mais interessante é que visito Goiânia desde que nasci, pois meus parentes maternos estão ali e em Inhumas. Entretanto, só agora, aos 40 anos, me dei ao luxo de encarar a cidade como uma turista anônima. Sem ninguém para me fazer companhia, loba solitária adorável, curti horas a desbravar Goiânia e descobrir, encantada, uma cidade vibrante, eclética, moderna, interessante, organizada (não falo do trânsito, que continua um dos mais confusos que já vi na vida) e limpa, muito limpa.

Passarinho canta para os enamorados
Falem o que quiser dos goianos, mas, sinceramente, os estereótipos pejorativos caem por terra com um simples passeio pela cidade. Quem vive em Goiânia aprendeu a valorizar o espaço público de maneira civilizada. Os habitantes ocupam seus lugares ao ar livre enchendo as praças e parques. E isso é qualidade de vida acontecendo no dia a dia.

Meu prédio preferido na cidade
Nada de garotos nos semáforos. Nada de praças pichadas, quebradas, destruídas, abandonadas. A praça é do povo e o povo jogo o lixo na lata de lixo. Para uma cidade do tamanho de Goiânia, é incrível constatar essa limpeza toda. Os parques são bem frequentados e você não tem medo de fazer uma trilha urbana e ser atacado. Não tive receio de ser assaltada, importunada ou sequestrada. E eu estava apenas na companhia da minha máquina fotográfica.

As noites pedem um barzinho na calçada
Tá, a gente vê centenas de camionetes e seus sons ligados em horripilante música breganeja. É uma marca registrada de Goiânia, porém acaba virando detalhe de mau gosto ofuscado pelo calor humano geral. Circulei dos lugares mais populares (Av. Bernardo Sayão, Setor Fama, Setor Campinas, Av. Araguaia e Anhanguera) aos mais sofisticados (Goiânia Shopping, Setor Bueno, Parque Vaca Brava, Shopping Buena Vista) e recebi - sempre - o mesmo atencioso e amistoso atendimento.

O zumbi queria me matar de medo...
Mas me matou de rir!

Não importava se estivesse descabela, suada e fedida de tanto caminhar pelas ruas. Os vendedores goianos sabem de cor como tratar o cliente com deferência e boa vontade.  Sem contar que paguei preços justos e razoáveis por tudo o que eu comprei.

Primas, priminhos e tia Book: todos queridos!
As goianas são bonitas e produzidas. Mães e filhas desfilam o mesmo visual verão: shorts jeans e rasteirinhas. O calor excessivo impõe guarda-roupa com pouco pano. Se não fosse pelo clima quente, talvez adorasse viver em Goiânia. Mas a menina que curte um "inverno da alma" se assusta com a cidade que tem um sol para cada habitante. E uma moto para cada circulante também.

As primas e as filhas das primas
Todavia, se eu morasse em Goiânia, compensaria a falta de teatros e exposições com a observação de pássaros e micos. Me tornaria uma degustadora oficial de sorvetes e, como não, viraria uma Manoel de Barros, desconstruindo a linguagem para me banhar de terra e me transmudar (verbo manoelino) em minhoca ou beija-flor.

Prima Santinha (o nome dela é esse mesmo, tá? Não é fofo?)
E se eu de Goiânia fosse, teria o convívio quase diário com o meu primo-irmão. Pessoinha que adivinha o que eu penso ao ponto de descobrir qual era o meu prédio preferido na cidade: "Aposto que é aquele em frente ao Bosque dos Buritis. Você sabia que ele se chama Paris e ninguém vende ou troca o apartamento, só quando morre?"

A lindinha Ana Luísa e mamãe coruja Dje
Impressionou-me a sua visão impressionista de mim mesma. E também a minha sapiência instintiva de arquitetura. Por olhar para esse prédio desde a tenra infância e saber que aquele lugar me trazia uma França que eu só veria com os meus olhos gulosos bem mais tarde.

Primos do coração!!!!
Na casa do meu primo me sinto na minha casa. Liberdade para ser Luciana no tempo que eu desejar. E até lavo louça com gosto só porque a torneira da pia tem chuveirinho (coisa de goiano). Barulhinho bom de ducha. As mãos tomando banho... Unhas de estrela com esmalte vermelho ensaboando o copo azul...

Stairway to heaven...
Mas onde foi parar a tal fantasia de abelha? Bem, quando já me dava por derrotada, entro numa loja de brinquedo e zás, encontro uma abelhinha masculina tamanho quatro anos. "Vou levar essa mesmo", aviso à solícita atendente. Com a máquina de costura que acabara de comprar para o maridão de presente de Natal (eu não disse que Goiânia é uma miniSampa? Existe um setor onde você encontra máquinas industriais e caseiras de todos os tipos e valores), o zangãozinho vai fazer bonito na colmeia. Vou acender os olhinhos do filhão testando os dotes de alfaiate do paizão...

A Brasília que deslumbra no Museu de Arte de Goiânia
A Sampa que amo na parede do Museu de Arte de Goiânia

Comentários

  1. Às vezes é preciso um olhar estrangeiro para nos fazer ver o que está bem na nossa cara.

    Que bom gostou de tudo.

    Goiânia e nós estaremos sempre prontos pra te receber.

    Valdeir Jr

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  2. Preciso ser breve... tô de mudança prá Goiânia HOJE!rsrsrs
    Vão te contratar como guia turística, hein?
    Que bom saber que existe uma cidade assim no Brasil e sem estarmos falando do Sul do país.
    Bjs
    Patty

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  3. Lu querida! O seu texto, de tão belo e profundo, me deu uma saudade danada da “minha Goiânia”, mexeu bem dentro de mim, com sua sensibilidade você percebeu como é bela e acolhedora a nossa cidade, amo cada pedacinho de lá, e através de suas sábias palavras e belas fotos, pude enganar um pouco a saudade , vou pedir para todos lá lerem e colar nos murais o seu maravilho texto. Bjs. Suelene

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  4. Lu,prima amada e querida por todos.
    Como sempre,você com suas sábias palavras
    disse tudo sobre nossa cidade,as fotos ficaram otimas!
    Sabes que é e sempre será bem vinda!
    Bjos
    Dja.

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