Medalha milagrosa




O massacre diário de obrigações e chateações às vezes no faz esquecer da beleza de pequenos episódios pueris. Todavia eles estão lá, sempre acontecem. Nada é só azar, Deus me livre!

Estou parecendo um livro de autoajuda, concordo. Tudo porque hoje, a caminho de uma atividade burocrática do trabalho, fui abençoada por um destes minúsculos prazeres cotidianos que, de tão delicados e singelos, podem passar despercebidos. Por isso resolvi escrever. Para que eu mesma, uma pessimista por natureza, puxe as próprias orelhas para enxergar o bom da lida diária.

Correndo pelos corredores, atrasada para uma sessão extraordinária de julgamentos, sai do elevador colocando a mão no bolso do casaco para guardar a balinha que me salvaria do tédio e do sono, companheiros que sempre me visitam quando estou sentada lá, naquele sepulcro isolado térmica e acusticamente do mundo, fruto das pirações de Oscar Niemeyer.

Esse prédio é um sarcófago. Se a gente pensar na soma da idade dos ministros, então, fica ainda mais verossímil. Reward ao tempo dos faraós e de seus humilhados servos (no caso, eu) enterrados vivos para continuar a obedecer a seus imperadores absolutos por toda eternidade.

Mas voltando ao bolso do casaquinho, ao depositar a balinha de morango lá dentro, percebi que ela não estava só. “Êpa, peraí, tem algo aqui dentro”. Era o meu colar com a medalha da madona (não a cantora, please), mas sim a mãe de Jesus Cristinho pintada não sei por qual artista, porém linda, e que eu dava por totalmente perdida em algum hotel da Alemanha.

A deliciosa surpresa mudou a manhã de enfado na sessão de julgamento. A minha madona não tinha sido afanada ou esquecida numa bancada de banheiro estrangeiro. Ela estava de novo comigo! Meu pequeno tesouro garimpado com olhos de lince em bazar de igreja...

Quem é mulher sabe o quanto estas bugigangas às vezes assumem caráter de bem indispensável à felicidade. Nunca havia parado de lamentar a perda da minha madona. Inconsolável, tentava entender a distração que havia nos separado. Imagine você o prazer indescritível de reencontrá-la, assim, numa manhã qualquer, saindo do elevador. Priceless!!! (Quem inventou essa campanha do Mastecard é gênio!).

Esbocei um sorriso debilóide e simultâneo com a abertura da porta do elevador. O segurança sentado à mesa do hall não entendeu nada daquela efusiva demonstração de amabilidade e ficou desconcertado. Se Barack Obama pode apertar a mão do impassível guarda do Palácio de Buckingham ignorado por todos, por que eu não posso sorrir rasgadamente para o vigia do STJ?

Só espero que meu gesto não desperte uma segunda intenção da parte do rapaz. É que o cara não faz o meu tipo, sabe como é...


Comentários

  1. O sarcófago é esse aqui?

    http://perlbal.hi-pi.com/blog-images/390579/gd/131958638513/STJ-admite-casamento-entre-pessoas-do-mesmo-sexo.jpg

    Cruzes! Que claustro! Haja medalha milagrosa e balinha (de erva doce para acalmar!)rs.

    Bjs
    Patty

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  2. É esse mesmo, amiga!! Uma verdadeira Karnak!!!:)

    Sabia que ontem encontrei outro badulaque que considerava perdido lá em NY? (Minhas bijus rodam o mundo, que chique! KKKK): um anelzinho que uso no dedo mindinho comprado na Praia dos Coqueiros no Piauí. Fiquei tão feliz!! Ele está aqui no meu dedinho enquanto digito... Foi encontrado no fundo da mala...

    Viajo para o Piauí em 2011 e encontro o portal do anel que comprei em 2006... Só mesmo as conexões telúricas podem explicar tal fenômeno.

    Beijos,

    Lulupisces.

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  3. Maravilhoso, como tudo o que a senhorita faz! Que alegria encontrar o camafeu perdido! Que história! E ele é lindo! Nasceu pra ardonar o teu pescoço. Amei te ler e amei te rever.

    Monalisa

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