Comercial de margarina




Na literatura e no cinema eles são tema central de obras que emocionam. Citemos apenas dois: Florentino Ariza e sua amada imortal, Fermina Daza, no belo “O amor nos tempos do Cólera, de Gabriel García Márquez. E o recente filme “O curioso caso de Benjamin Button”, em que o sentimento inigualável acompanha aqueles dois por toda a vida. Estes casais que se amam para sempre sempre nos cativam e nos fazem acreditar que pode acontecer, por que não?

E não é que acontece? A gente pode topar com um casal raridade num dia de semana qualquer. Uns a gente conhece por acompanhar a vida pelos telejornais e revistas de fofocas, tipo Jorge Amado e Zélia Gattai. Mas existem outros que damos a sorte de apertar as mãos e presenciar o amor irradiando de seus poros ao vivo e em cores.

Minha grande amiga do peito é uma dessas felizardas: os pais dela estão juntos há mais de 40 anos, e a gente percebe que é pra valer. Casal que se curte, que se respeita. Os pais de um amigo do meu marido também vão completar bodas de ouro neste ano. Vivem viajando para lá e para cá juntinhos, saudáveis e confiantes. E no último dia 23, tive a sorte de conhecer um outro par que merece nota: Glênio Bianchetti e sua simpática Ailema (Amélia ao contrário, como ela mesma me disse).

Glênio, 80 e poucos anos, é um dos artistas plásticos mais respeitados do país. Gaúcho de Bagé, adotou Brasília à época da fundação da UnB. Eram tempos de vanguarda, de idealismo. A capital teria a universidade mais desbundante do Brasil. Um corpo docente invejável em conhecimento técnico e fervor ideológico. Bianchetti conviveu com Darcy Ribeiro, Ferreira Gullar e tantos outros nomes fundamentais para a formação cultural e social brasileiras. A UnB estaria para o Brasil como Princeton e Yale estão para os EUA, e Oxford, para a Inglaterra

Veio o endurecimento do regime militar, a universidade foi até fechada, mas Glênio já não podia mais viver longe da capital. Criou os seis filhos ali na 305 sul, a criançada estudando em escola pública, mantendo acesa a utopia da cidade. Depois, montou lar e ateliê no setor de Mansões do Lago Norte, onde vive rodeado das crias adultas e dos 12 netos.

Não sei se a felicidade familiar de Bianchetti está refletida em seus quadros de cores intensas e traços suaves. Mas as mães carinhosas estão lá. A placidez de um mar de barcos ancorados também. Às vezes, suas mulheres deitam em redes. As cirandas de meninos alegres parecem que vão saltar da tela. As formas femininas são ancestrais, nos remetem às esculturas da figura da fertilidade na arte pré-colombiana. Pelo menos eu as vejo assim. Não li nenhum manual de como entender a pintura de Glênio antes de escrever este texto.

Só sei que sempre gostei do que ele fazia e do que eu via numa exposição da Caixa ou numa galeria de arte do Casa Park. Da sua simplicidade verdadeira, aquela que possui apenas os que são grandes de fato, eu tomei conhecimento na semana passada. Em sua bela casa projetada pelo filho arquiteto, ele me contou que estudou com um professor que havia sido do grupo do Portinari. Já imaginou? Que abre-alas! E que pintar não é nada divino, mas pura transpiração diária: “Ser pintor é ser igual a qualquer um, não tem nenhuma mágica, apenas trabalho”.

Dali a pouco veio a sorridente Ailema trazendo um vinho do porto para a gente beber. “Eles estão fazendo aniversário de casamento”, revela o animadinho Glênio para a esposa o motivo da nossa visita. Continuamos a conversa sobre Brasília e suas trajetórias, filhos, netos, Arte e Amor. Ele sentadinho ao lado da esposa, de mãos dadas. Mãos que repousam sobre a coxa daquela pacífica mulher que deve ter aguentado tanta barra para o marido poder pintar em paz.

Naquela hora, senti o poder transcendente que emana das almas gêmeas. E entendi que muito mais valoroso do que ganhar um quadro de Bianchetti de presente de casamento, era compartilhar daquela força vital da união do homem Glênio com a mulher Ailema. Desconfio que meu marido, sem se dar conta da riqueza de seu gesto-surpresa, me deu a maior das bênçãos: acreditar no “felizes para sempre”. Pode acontecer, por que não?


Comentários

  1. Luzinha,

    Suas palavras sobre esse amor estão traduzidas aqui. Eu pude VER!

    http://www.flickr.com/photos/anavolpe/4997146368/

    E a origem e o significado do nome Ailema é: Gótico - Trabalhadora, ativa, laboriosa. Ou seja, a mulher que realmente trabalhou muito para que este homem pudesse trabalhar em paz... Ailema também é que é a mulher de verdade! rs

    Amei!

    Bjs
    Patty

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  2. Eis o casal de pombinhos eternos, na foto bacana que a amiga Patty sugeriu:

    http://www.flickr.com/photos/anavolpe/4997146368/

    Lulupisces.

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  3. Luciana,
    pena realmente pela manchete do Jornal.
    Mas, muito bacana vocês terem passado momentos juntos com o casal.
    Exemplo de amor e convivência de longo-prazo.
    Espero que possamos, todos nós, vivermos experiências semelhantes com os nossos companheiros do caminho da vida...

    Um beijo,

    Paulo.

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  4. Querida, você sabe da minha torcida pelo seu amor eterno. De depender de mim, Bernardo e Luciana completam bodas de diamante e levam adiante a mensagem de que, mesmo nos dias de hoje, é possível construir relações amorosas longas e sensíveis. beijitos

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  5. Concordo plenamente com a Isa...é muito "possível construir, relações amorosas longas e sensíveis", e não é mágica, não tem receita pronta, essa relação surge a partir de uma construção que conta com um tempo, que requer claro, amor, amizade, compreensão, cumplicidade, aceitação e respeito à individualidade do outro e ainda, acredito também numa afinidade de almas que facilita o encontro dos seres.Exemplo:Eu e o Caca juntos há 42 anos...uma linda história de vida que ainda está sendo construída...que seja eterna enquanto dure.
    bjs.Namastê!
    Cynthia

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  6. Também achei uma grande perda. Com ele vai também meu sonho de ter uma obra do artista... Fiquei tanto tempo pensando, tenho que comprar logo um quadro do Bianchetti, ele tá velhinho, qualquer dia morre, mas não comprei... Snif.

    Bj pra você,

    Ana Cláudia.

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  7. Oi Lu,
    Noticia triste. Um dos meus artistas contemporâneos favoritos. O pai do Lucas ficou com alguns quadros dele e eu apenas com um...Fomos também na casa dele. Grande recordação.
    Bjão,

    Márcia Renault

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