Dos usos e frutos virtuais

Remasterizar está na moda. Tudo é tão fugaz hoje em dia que já vira clássico em dois anos e cai no esquecimento. Então, nada mais prático do que ressuscitar o velho com uma nova roupagem. As tais releituras tão em voga e às vezes tão enjoadinhas. Mas isso tudo é pra dizer que estou remasterizando alguns textos que haviam sido publicados no blog do Vicente, mas não aqui, no meu blog.

Esse aí debaixo é um deles. Alguns vão ler e recordar, outros achariam que era inédito se eu não tivesse escrito esses paragráfos que agora faço surgir na tela com as minhas mãozinhas saltitantes no teclado (eu digito com todos os dedos, uma elegância pouco comum aos que nasceram na era do computador). Para alguma coisa serviu as aulas de datilografia do século passado... Mas, sem mais delongas, vamos a ele, o astro-rei da vida em sociedade:

Geringonça moderna chamada computador. No meu curriculum vitae estava lançado o desafio: entender esta máquina. Não faz muito tempo. Uns 15 anos, no máximo. Hoje, ele reina absoluto. O computador passou de moderno a pós-contemporâneo. Um prolongamento das mãos e do cérebro, espécie de sétimo sentido. Ganhou versões compactas e diminutas, e nunca mais vai sair da vida de ninguém.

A internet é tema de música e matéria de poesia. Se tudo que pulsa e vibra é passível de rimas, esse complexo emaranhado de códigos, de memórias, ícones, programas e ferramentas também guarda, em si, a possibilidade de deslumbrar. Porque é belo e sujo o que podemos fazer por meio da web.

Inventamos esse mais novo membro do corpo humano, da família, da empresa, do governo, da escola para saciar a vontade de conhecer o mundo de perto. A gente clica num botão e jorram conteúdos na mesma velocidade com que o homem muda de ideia, de camisa, de sensações. A internet também é símbolo do caráter mutável da humanidade, carregando o mito e a constatação. Escorpião?

Cercada de opiniões controversas, geradora de lendas, a web ganha contornos maquiavélicos quando nos amedronta com o seu poder, parecendo elaborar o seu próprio pensar. É 2001- uma odisséia no espaço na real, a ficção quase superada. A internet ‘superrelativizou’ todo mundo e todos os lugares. “Tudo ao mesmo tempo agora”. Fonte de inspiração para histórias mirabolantes, de trajetórias infinitas.

Roubar a privacidade, desumanizar as relações, transformar o homem num autômato. São também mitologias nascidas com a tecnologia. Tentativa de domar o espanto diante da vastidão criativa que o próprio homem sabe ter e sabe usar. Andróides malditos e cruéis vingarão se a humanidade permitir ser vencida pelo tédio e pela falta de solidariedade. Melhor é fazer da internet um instrumento de conquistas poéticas, uma fonte de poder positiva. O recheio dos endereços virtuais é humano na poesia e na podridão.

Mas a existência da internet não mudou apenas o nosso universo mítico. A rede está na rotina mais banal das pessoas. É a constatação da pós-modernidade. A internet e suas prodigiosas ferramentas de encurtar distâncias, solucionar problemas, projetar realidades e realizar sonhos. 100% de assuntos úteis e inúteis já fazem parte da web. Viver sem o facebook já não se sustenta.

Rolar o mouse pode ser trabalho e diversão. Consciência e perversão. Verdadeiro balaio de gato. Invadimos os computadores da NASA; criamos uma página para falar mal da estrela global ou ensinamos fazer bombas a favor do racismo, do etnocentrismo, da ignorância. Reflexos. Flashes sociais saudáveis: pluralismo de ideias, interatividade. Degradação: pornografia, pedofilia, escândalos imaginários e reais, pirataria.

Estamos condenados a escolher. Nas palavras de Sartre, somos prisioneiros da liberdade, pois ser livre define a humanidade. Opção é poder perene, contínuo, “a escolha incondicional que o próprio homem faz de seu ser e de seu mundo”. Portanto navegar na internet carece de alguma filosofia. A poesia está no que fazemos com nossas possibilidades, certo?

Comentários

  1. Certíssimo!
    Até a energia nuclear pode ser usada para o bem!
    As ferramentas nos são dadas para nossa evolução. A gente é que desvirtua...

    E até na hora de desvirtuar pode ser por uma boa causa. Lá onde eu trabalho, por exemplo, todo mundo ataca de engenheiro, advogado, jurista...

    Tá com dúvida sobre algum assunto? Pergunta para o Dr. GOOGLE. Se ele não souber, ninguém mais sabe. E se ninguém mais sabe, pode escrever a besteira que quiser né?

    O mais divertido é ficar assistindo os que ainda resistem ao computador, perguntando se alguém tem uma calculadora, uma lista telefônica etc.

    Ou aquele colega vascaíno que recebe um arquivo JPG sacaneando o time dele e fica tentando clicar para adicionar um título. E já que me lembrei dele, vê se o seu Corinthians não tropeça no domingo, afinal, ninguém pode tirar do vasco o título de vice de novo.

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  2. Oi Luciana.

    O texto e o vídeo no link abaixo ilustram um pouco mais sobre as mudanças comportamentais provocadas por tecnologias que você pontuou tão bem.

    http://www.quasesexta.com/%E2%80%9Cmeu-bebe-esta-tentando-usar-uma-revista-como-se-fosse-um-ipad%E2%80%9D/

    Valdeir Jr.

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  3. Olá primo,

    já conhecia esse vídeo da menininha... Uma loucura, né?

    Essas informacidades... Revoluções por segundo.
    Outro dia, Rômulo estava espantadíssimo quando viu, na abertura da Lista de Schindler, uma máquina de escrever: "O que é isso, mamãe?" Parei o filme e ri... Eu me chocando com a morte dos judeus e ele se espantando com um objeto obsoleto da minha época. Pirações do mundo atual.

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