Não vá antes do almoço

Eu sempre achei que queria participar de uma autópsia. Ok, mais uma das minhas lúgubres, sórdidas e sombrias esquisitices. De uma menina que praticamente aprendeu a ler nas páginas policiais dos jornais e que gostava de jogar Detetive tanto quanto gostava de boneca. E que continua paralisada em frente às séries de investigação que, para a sorte desta mentia doentia, se multiplicam na TV a cabo.

Mas a exposição "Corpos" veio para derrubar o mito. O mito de que eu realmente gosto de sangue, vísceras e ossos expostos. A percepção do meu lado Hyde agora se divide entre antes e depois de "Corpos", pois gosto é da estética mórbida envolvida nas histórias de vampiros, lobisomens e seres torturados em geral. Tudo de longe, como boa expectadora. De perto, ninguém é normal mesmo e eu não quero ter nada a ver com isso.

Mal conseguia olhar aqueles esqueletos de verdade cobertos de músculos, peles e órgãos. Aquilo ficou um dedinho assim da completa repulsa. Os membros separados, com as devidas explicações, achei muito maneiro. Talvez eu seja uma esquartejadora em potencial. Vá saber...Mas tudo juntinho, formando o que foi um ser humano, nossa, era dose para serial killer babar de realização.

Pelo menos comprovei não ser uma psicopata. Com tantas horas elucidando crimes na telinha e telona, já cheguei a pensar que talvez fosse uma mente assassina que ainda não tivesse tido a oportunidade de florescer.

Entretanto, imersa naquele mundo de médicos e doidos (todos temos um pouco e eles, os doutores, muito) descobri que aprecio é invenção e não realidade. Minha veia gótica se encerra nos livros e nas imagens estetizadas, pois o corpo morto real é trash demais.

De qualquer modo, me dou por satisfeita. Tive meu vislumbre do que seja uma autópsia. Estive literalmente por dentro e sabe o quê? Não deu barato nenhum.

Comentários

  1. Beleza de texto, Lu. Ah, não se preocupe, a única coisa que tens em potencial é o talento da escrita, explícito nesse 'blogasso'. abs.

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  2. Oi prima açougueira.

    O título que dá nome ao seu último post (ou um dos últimos, dependendo de quando ler essa mensagem) no blog é insuficiente.
    Quem vai antes do almoço corre o risco de perde o apetite.
    Quem vai depois é sério candidato a devolver tudo o que comeu.

    O que não causa indigestão e continua saboroso é seu texto.
    Pelo contrário: deixa sempre um gostinho de quero mais.

    Beijos sangrentos.

    Valdeir Jr.

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