Ecumênica

A amiga Evelyn me pede que escreva sobre a minha experiência no templo budista aqui no blog. A verdade é que eu não me sinto legitimada a escrever sobre esse assunto. Eu sou apenas uma participante da meditação cantada. Não sou budista, não pretendo me converter ao budismo, pelo menos por enquanto.

Quem me levou ao Templo Shin Budista da Terra Pura pela primeira vez foi outra amiga, a Isabel. Mas eu já rondava aquele lugar desde a adolescência. Não perdia nunca a quermesse do mês de agosto, que acontece ao redor daquele lugar misterioso, destoante da paisagem concreta moderna do Plano Piloto. Um pedaço nipônico em pleno Planalto Central.

Acreditava, naquela época, que o lugar era reservado apenas para japoneses ou descendentes de. Mas não perdia a oportunidade de mergulhar naquele mundo diferente do meu, seguindo os passos da dança-da-colheita-do-arroz. Os quimonos tão expressivos, femininos. A delicadeza dos gestos e dos rituais. Adoro um ritual, é verdade! Bem que tentei virar antropóloga! Rola até hoje um tantico de frustração por ter abandonado o curso.

Mas, apesar de gostar das liturgias, as religiões não conseguem me prender. Não me sinto confortável fazendo parte de um grupo fechado. Quero ser ecumênica; me espiritualizar e me tornar um ser humano mais íntegro, sereno e solidário. Não acredito que precise me filiar a dogmas específicos para alcançar esse objetivo de vida toda.

Cresci na religião Católica. Minha madrinha era devotíssima de São Judas Tadeu. Passei a infância e adolescência em igrejas: colégio de freiras, primeira comunhão, Escalada e Segue-me. Mas nunca, de fato, me senti realmente abraçada pelo catolicismo. Identifico-me com as canções: “Segura na mão de Deus e vai...”, “Obrigado, Senhor!”, “Eu te ofereço o sol que brilha forte, te ofereço a dor do meu irmão”, “Senhor, fazei que eu procure mais: consolar que ser consolado; compreender, que ser compreendido...”

Choro copiosamente ao ouvir esses e outros hinos que fazem parte da minha vida, da voz da minha madrinha cantando poderosa como negra-gospel que foi. Portanto, não recuso uma boa missa. Também já ensaiei algumas participações nos encontros espíritas. E agora participo da meditação cantada do Templo Budista. Porque sinto a necessidade de buscar o autoconhecimento, a serenidade do espírito. Preciso acalmar minha alma marcada por tantas perdas e pela ansiedade. Onde eu encontro “o abrigo da luz absoluta”, me aconchego.

Creio (pensemos no poder desse verbo) que a ioga, que pratico há cinco anos, e a filosofia budista se complementam e se tocam em diversos pontos. A própria posição do Buda sentado em meditação é a mesma dos iogues que buscam controlar impulsos acalmando a mente. E o monge Sato, muito tranquilo e seguro, não força a barra de ninguém: “Não estou aqui para converter ninguém ao Budismo”. Para mim, esse compromisso é a chave para que eu continue ali, bebendo daquela sabedoria milenar.

“Eu me alegro na bênção do Buda. Respeitando e auxiliando os outros, hei de me dedicar ao bem da Humanidade.” Namastê, Amém, Reverenciamos sempre, Assim Seja!

Comentários

  1. Li o seu blog, não só o de hoje. Fui lendo os que estavam embaixo também. E gostei muito por você ter aceitado a minha sugestão!!! Me senti uma leitora que participa e contribui com outros leitores.

    Sabe, eu também não gosto de falar que faço parte de uma religião. Ser religiosa é como entender algo, é ser uma parede como diz o Manoel de Barros. Eu prefiro me considerar uma pessoa que consulta Deus para tomar decisões.

    Será que sou espiritual,então? Ou uma árvore? Será que incorporo os ensinamentos de Deus?

    Dizem que o escritor deve escrever todos os dias, mesmo que não tenha inspiração, uma ideia na cachola. Voce sabe que depois que voltei do Brasil, perdi a minha inspiração de continuar escrevendo o meu Memoir?

    Por outro lado, eu quero chegar no final da linha, entende?

    Então, pelo o que entendi, voce gosta de ir no templo budista porque gosta da meditação cantada e de rituais. Te fazem bem ao corpo e à alma, mas você não tem planos de se converter ao budismo.

    Eu também não me converteria ao budismo. Nao sei por quê, mas um dia eu cheguei perto de uma estátua do Buda, era uma estátua bem grande, tinha doces e chocolate num potinho em frente a ele. Ele era gordo e tinha uma cara de todo poderoso. Ao lado tinha uma placa que dizia: "Nao toque no Buda" Eu olhava para ele com um certo ar de desprezo, sem ele ter me feito nada... Só sei que eu não me senti à vontade perto daquela estátua.

    Beijos, Eve

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  2. Dear Eve,

    claro que você é uma árvore!!! Do contrário, não seríamos amigas de tantos anos, sobrevivendo à distância e à frieza da troca de emails.

    Gosto de pensar que tenho você em White Plains, NY. E que vou reencontrá-la para um bom papo espiritual em breve. Parece que, enfim, vou poder rever essa terra na qual aprendi e conheci tantas pessoas e coisas legais. Acho que em junho do ano que vem nos veremos na Big Apple. Vai dar certo!

    Obrigada por suas palavras tão sensíveis e inteligentes. Acho que, às vezes, você nem tem ideia do tanto que é sabichona.

    Um beijão e continue por aqui,

    Lulupisces.

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  3. Luzinha, seu texto evocou mais um flash no resgate de nossas felizes memórias juvenis... a festa do Buda era sempre tão mágica! Ansiava para que chegasse o dia daquela noite de brilho especial...

    beijos!

    Patty

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  4. Como diz o monge Sato, "ninguém precisa se converter ao budismo, para frequentar o templo.
    Basta querer um pouco de paz."
    O Budismo da escola Terra Pura, que vai completar 700 anos, faz parte do budismo Mahayana, que defende a teoria de que a natureza búdica está ao alcance de todos. Ou seja, todos nós podemos nos iluminar, podemos vir a ser um buda. É isso que me atrai no budismo, ao contrário do catolicismo, onde fui criado e vivi durante mais de 40 anos. Eu jamais vou poder ser Cristo.
    A consciência desse fato, (posso me iluminar um dia) faz com que todo dia eu tente ser melhor que o outro E isso é muito difícil, porque a mente humana está impregnada de julgamentos, censuras, etc.
    Por outro lado, a iconografia no budismo é só para lembrar que ele existe e que você pode ser um buda. Não existem imagens sagradas no budismo. Deveriam ter deixado passar a mão no buda.
    Pronto. Molhei as mãos nesse aquário. Obrigado por me dar a chance.

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  5. Caro Beto, imagina! Obrigada você por ter mergulhado nessas marolinhas daqui.

    Pois é, que pena que os homens complicam o que é para ser simples, como a imagem do Buda que tem apenas o efeito de facilitar a meditação.

    Espero poder te conhecer ao vivo e em cores. Se a minha amiga deixar, né?;)

    Abreijos,

    Lulupisces

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