Mermão





Cosme e Damião: saudade de montão desse tempo bão. Brasília, 27 de setembro na década de 70, tinha cara de subúrbio do Rio de Janeiro. Era um pouco do Méier com Lins Vasconcelos, onde passava as férias de verão. Mas no mês da primavera, a tradição carioca de distribuir balinhas e doces esquisitos como aquele de abóbora em forma de coração laranja, pegava o ônibus e aportava na nova capital federal. 

O Cosme e Damião tinha a cara e o gosto da irmã da minha madrinha, tia Lizete, que vinha todos os anos passar uma temporada brasiliense. Com ela, trazia o costume de rechear de guloseimas os saquinhos de papel estampado com a imagem dos santos gêmeos. Suas mãos magras entregavam a alegria às crianças da 709 sul. 

Criança daquela época era menos opulenta. A gente se contentava com o pouco que a vida gastronômica nos dava. Balinha chita, soft, erlan, maria mole com gosto de nada... Quem se lembra daquele pirulito-chupeta vermelho e cascorento que arrebentava a boca irresistivelmente? 

Dindinha morreu, tia Lizette morreu, morreram aqueles 27 de setembro de garotada na rua pra lá e pra cá apertando campainhas (nossa versão do Halloween). Talvez seja por isso que eu goste tanto do Dia das Bruxas americano. Por lá, eles ainda perseveram na chama do folclore. Aqui, a violência acuou as famílias. 

Mas não é dia de pensar em coisas tristes. Porque além de Cosme e Damião, hoje é o dia do meu primão favorito. Sabe aquela história do “irmão que a vida me deu”? Sim, é isso. Clichê, mas explica sem necessidade de detalhar. 

Tornamos-nos amigos muito depois de sermos parentes de primeiro grau. Já éramos adultos e a afinidade de tantos gostos em comum foi se revelando a cada encontro. Hoje não vivo sem ele a me ofertar seu bom humor delicioso quase diariamente. É casmurro também, preciso admitir. Ermitão com coração. 

Conselho bom, dá. Dicas de filme bom, dá. Crítica precisa às minhas criações textuais, dá. Sua casa está sempre aberta para mim e para a família Zéprépré (e isso não é pouco para um eremita). 

Ele não tem FB, não tem Instagram, não aprecia as vaidades mundanas. Vai receber essa homenagem por e-mail e zap. Porém, faço questão de deixar registrado em ata pública meu apreço por ele: Júnior, Valdeir, que se considera um cabeçudo quando, na verdade, é um cabeção!

Feliz Aniversário, amado primo-irmão!!!


Comentários

  1. Que delícia de texto...me fez voltar no tempo...minha mãe fez uma promessa de distribuir as guloseimas de Cosme e Damião por não sei qts anos, acho que uns 7...morávamos no Guará I...era tão divertido....realmente aqueles doces eram esquisitos, mas nos bastavam...kkk

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  2. Adoro o doce de abóbora!

    Leila

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  3. Nossa, me lembrei da maria mole, quanto tempo não como! Adorava aquela que era passada no coco queimado. Bala de chita eu amo, aqui não tinha, só no Barretão. Não tive essa experiencia de Cosme e Damião que você teve, estudava em um colégio católico e eles eram meio proibidos. Adorei o paralelo com o Halloween. Por fim, parabéns pro primão. Que ele seja feliz!

    Renata Assumpção

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  4. Ah vontade danada...Quero suspiro!

    Lara

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  5. A tradição de Cosme e Damião ainda está viva aqui no Lago Norte.
    E tbm via pessoas como a Cléo. Além dos pacotinhos para meus netos e crianças aderentes, ela distribui na quadra dela inteira para filhos dos porteiros e crianças anônimas no eixo da 215 Norte...
    Legal e genuíno prazer em fazer isso todos os anos...
    Como a Lizete e o pessoal da 715 Sul, outrora.
    Bjs,

    Marilena

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  6. Oi prima. Obrigado pelo carinho.

    Valdeir Jr.

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  7. Estava lembrando hoje dos doces: bananada, jujuba amarela e vermelha, Maria mole, suspiro, pé de moleque, doce de abóbora, doce de batata, pirulito chupeta... hoje em dia as crianças (pelo menos as de casa) não gostam de quase nenhum deles... tempos idos...

    Ana Cláudia

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  8. Só quando morei no RJ pude desfrutar dessas guloseimas!! Salve COSME E DAMIÃO!! Minha casa se enchia de docinhos rsrsrs porque eu tinha gêmeos!!! hehehehehe... Era bom demais!! E viva o nosso querido JÚNIOR!!!

    Ambrosina

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  9. Amor de primo é lindo , mesmo. Com certeza ele gostou do texto , mas vc leu a resposta? 5 palavras. Bem como vc o descreveu ....
    No interior onde morava, não havia essa tradição, não... Acho que nem na roça onde meus pais cresceram. O Brasil é grandão, né?
    Beijos,

    Karla Liparizzi

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  10. Morro de saudade dos docinhos, Lu!!!!

    Maria de Fátima Venceslau

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  11. Eu também morro de saudade!!! No Guarazinho véio era a tarde toda correndo de casa em casa...

    Andréa Bolzon

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  12. Legal demais!
    Bons tempos!....

    Rodrigo Holanda

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  13. Sim!
    Docinhos, oba!!!
    Kkk

    Marisa Assunção

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  14. Deu saudades…no Rio onde passei minha infância e alguns poucos anos da adolescência, tinha muito disso ….correria pra cá e pra lá, a criançada doida atrás dos saquinhos recheados de docinhos trash😂😂mas como era bom!

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  15. Lu, minha irmã é doida no doce de abóbora!! Sabe que desde pequena os gêmeos dão um jeito de chegarem até mim em formato de guloseimas? E eu sou muito grata a eles por isto...

    Bianca Duqueviz

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  16. Eu na 715 tirava o dia pra pegar na redondeza. Chega tinha um carrinho do jumbo que dona Leila deixava lá em casa.
    Eu e Beto usávamos esse carrinho pra buscar as sacolinhas
    E dava os doces de abóbora tudo…Hahahahahahahaha!

    Juliana Brandão

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  17. Saudade desse tempo bão de comer porcaria sem gosto e correr de porta em porta.

    Tania Benn

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  18. Ahh... dia de Cosme e Damião me lembra da Tia Vera (provavelmente está lá distribuindo no Além, junto com sua Tia Lizete), que fez promessa em favor de um parente nosso para minha mãe pagar: 7 anos distribuindo Cosme e Damião rsss
    Sei bem o que é isso, primo quando é bom, é ótimo! O seu Jr. é o meu N 😊
    Felicidades pra ele!!!! 👏👏👏

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  19. Saudades das tradições também... Mas, queria mesmo era ter um primo Jr desses pra chamar de meu! :)

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