Pedaços de mim





“Além de um livro, “For Freddie”, ela também prepara gravações, anotações e separou até mesmo seu perfume, para que o filho se lembre da letra, da voz e do cheiro da mãe”.

Lendo uma matéria sobre a apresentadora da BBC, Rachel Brand, que está morrendo em decorrência do câncer de mama, atesto o quanto esses pequenos fragmentos das pessoas mais importantes da vida da gente são fundamentais para compreender a nossa própria essência. 

Meu pai também foi devastado pelo câncer aos 50 anos. Ele morreu em janeiro de 1972. Eu faria 1 ano no mês seguinte. Por motivos vários, pouco da memória dele foi preservada para que a filha caçula montasse o quebra-cabeça paterno.

Semana passada, tia-irmã Leila Brandão me diz que, organizando o antigo arquivo da Delegacia do Trabalho, havia encontrado a pasta funcional de papai, que foi fiscal daquele ministério. 

Corri pra lá em busca de qualquer traço do homem responsável pela metade do que sou (inclusive no gosto pela poesia e pela escrita). Não havia muito, mas o pouco é tesouro quando tudo é deserto. 

Descobri quando tomou posse, algumas diligências que fez, as licenças médicas que tirou já lutando contra o câncer... 

Tinha uma assinatura bonita, não?


Comentários

  1. Ontem a noite conversava com o meu marido sobre essa questão, ele perdeu o pai e depois a mãe num intervalo de pouco mais de 2 anos, o quanto ele lamenta que o Augusto não conviveu com os avós, ele disse que os pais dele ficariam muito orgulhosos do neto e claro, os dois seriam uma excelente referência para Augusto. Coisas da vida, não viemos para ficar e acredito que temos dia e hora marcada para partir, não temos como fugir do destino. Temos aqui poucos registros dos dois, mas já pedi que ele conte mais histórias dos pais e desse tempo que ele teve com os pais, certamente vão ficar na memória do Augusto.

    Anna Luiza

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  2. Poxa Lú,
    acho muito bacana essa sua busca por construir a imagem do seu pai, não que você não tenha, mas este resgate físico palpável do que ele foi e mostrar isso para os meninos é bárbaro. Primeiro precisamos valorizar a cultura e história de nossa família e antepassados assim fica fácil de valorizar a cultura. Linda a assinatura do seu pai, que letra linda.
    Bjcas,

    Renata

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  3. Que nome lindo! Seu pai tinha um nome lindo!!! Parabéns! até me emocionei com o seu achado!!!

    Evelyn

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  4. Lu, tambem perdi meu pai com ano e meio e minha irma com três meses, tudo que tenho dele sao meus tesouros. E olha que depois a vida me deu um padrasto feito por encomenda. ♥️

    Ângela Maria Sollberger

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  5. Minha mãe além de ter 99 empregos, era advogada. Há uns anos a OAB noticiou que iria entregar aos parentes dos advogados falecidos a pasta da inscrição na Ordem, contendo vários itens. Fui lá pegar a da minha mãe e também encontrei vários tesouros, fotos, diplomas, provas, itens que eu nunca tinha visto. Foi uma iniciativa excelente e creio que como eu vários órfãos souberam um pouquinho mais do seu passado.

    Mônica Ramos Emery

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  6. Você passou muita emoção no seu texto Luciana ! Posso imaginar a lacuna que fica com a ausência da figura paterna. O documento é para você um tesouro. E tem foto e assinatura! Guarde bem guardado!

    Socorro Melo

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  7. Que legal, Lu! Acho que o meu pai vai gostar de ver esses documentos!

    Ceci

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  8. Linda assinatura! E lindo texto tbm.!

    Sinara

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  9. Emoção pura esse seu texto, Lu. Lembrei, não sei por que cargas d'água, de um poema da Adélia Prado. Olha só:
    "Uma ocasião,/ meu pai pintou a cada toda/ de alaranjado brilhante./ Por muito tempo moramos numa casa,/ como ele mesmo dizia,/ constantemente amanhecendo."
    Lembranças de pai... Obrigada!
    Francis.

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