Elevação espiritual







Que seria de nós sem os elevadores nesses tempos de verticalidades? Meio de transporte que bota medo em muita gente e tem participação especial em tantas passagens icônicas do cinema (depois de Vestida para Matar, a abertura automática de portas nunca mais foi a mesma). E aquele filme chamado Demônio, do excêntrico Shyamalan? Se você é claustrofóbico, não veja!

Mas os ascensores também propiciam encontros inusitados e poéticos como o que eu tive ontem, chegando em casa (Grata, Mr. Otis!). O elevador de serviço fora de serviço levou um rapaz a esperar na entrada social portando um enorme tapete enrolado e embalado. Devia se entrega da lavanderia.

Geralmente, vou de escada ao terceiro andar, entretanto puxava a mochila escolar de Romulito, que pesa uns 550 quilos. Por isso, passei a aguardar junto com o moço pelo elevador que agora sempre vive no sexto andar, onde a família de Amina, a muçulmana linda, mora. (Creio que estão trazendo todos os parentes do Quênia para o Brasil. Já são umas 15 pessoas diferentes subindo e descendo dali diariamente).

De repente, o carregador de tapete me interpela aos moldes dos small talks americanos:

- O que significa esse desenho aí? (apontando o dedo para a tatuagem no meu ombro direito).

- Ah, isso significa o OM, é um mantra. (Me senti meio ridícula porque era evidente que a explicação não explicava nada ao carregador). Então reformulei:

- É como se fosse uma música, um som para acalmar a mente...

Entramos no elevador e segui:

- Se você estiver cansado, irritado, estressado, você pode cantar: OMMMMMM! Pode fazer isso apenas para você, baixinho, ou até em pensamento.

- Mas a gente precisa fazer num lugar tranquilo, né?

- Não, é exatamente quando a gente está no meio da confusão que pode lembrar de acalmar a nossa cabeça cantando baixinho.

- É, quem não vive estressado nesse mundo, refletiu um instante. Eu ia morrer sem saber disso, obrigado.

A porta do segundo andar abriu, o tapete enorme tinha como destino o apartamento do casal 20 chiquérrimo do segundo andar.

Segui a viagem vertical matutando no que ele estaria pensando daquela mulher trajando um indiscreto chapéu verde, no caso, eu. Será que vai adotar um pouco de OM na vida dele? Espero que sim. Namastê!


Comentários

  1. Muito informativo esse encontro, para ele e para você que refletiu rapidamente sobre o quão importante é a forma de passar um contéudo para o mesmo ser apreendido...
    A forma, muitas vezes, é mais importante que o conteúdo...

    Marilena

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  2. Amei ! Poderia ser um comercial ou cena de um filme. Já pensou em ser roteirista?

    Karla

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  3. Muito OM na sua vida!

    Cláudio Stacciarini

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