Despeitada com muito orgulho, com muito amor!







A menina que pensou em ser médica na adolescência, evidentemente aprecia séries sobre o tema. House foi brilhante até a quarta, quinta temporadas. ER, mais antiga, também via. Grey’s Anatomy foi massa no início, mas se transformou em novelão e Chicago Med carece de personagens cativantes porque os atores são fracos. 

Só que ser uma paciente da vida real já é outra história. Aqueles holofotes sobre o seu corpo, todos os aparelhos bipando ao seu redor... 

Primeira parte do ritual foi receber as marcações. Me senti como uma representante do povo maori que tanto estudei nas aulas de Antropologia. Os seios ganhando linhas enigmáticas ao estilo cerâmica marajoara ou pintura timbalada. 

Dei um suspiro de cansaço e dor nas costas depois do dia exaustivo para chegar ao consultório em Goiânia. O cirurgião pensou que eu fosse desmaiar:

- Tudo bem?
- Tudo, apenas exausta.
- Tô perguntando porque tive uma paciente que desmaiou quando comecei a fazer isso. Eu não vou cortar em todos esse lugares, ok? São apenas referências para mim.
- Ah, bom, pensei que iria virar uma colcha de retalhos...

No centro cirúrgico, o anestesista e a instrumentista são pura simpatia. Ele avisa que vai me sedar antes da picada da agulha da peridural na coluna. Agradeço a gentileza. 

No nervoso da hora, esqueço de lhe avisar que sou canhota e ele esparadrapa o catéter para receber soro e medicação justo na mão esquerda... Ok, me viro com a direita. Atualmente temos de saber lidar com a extrema direita, não é mesmo?

Saio da sala de cirurgia por volta das 13 hora já devidamente vestida com um espartilho Escrava Isaura ou Sinhá Moça. Depois não entendiam porque as mulheres daquele tempo viviam desfalecendo... Difícil pacas respirar decentemente com esse adereço. Mas não sinto dor, só incômodo, o que é lucro. 

E para fechar o rol de experiências inéditas, apago de forma tão profunda que, ao ser acordada para o remédio da madrugada, levo um susto tremendo:

- Que foi, Rômulo, indigestão de novo?
A enfermeira me estende um copinho descartável, porém, sigo no delírio percebendo que talvez seja Tomás, pois a silhueta à beira da cama é maior do que o caçula:

- O que aconteceu, Tomás?
- Você se esqueceu que está no hospital...
- Hospital, mas o que estou fazendo no hospital??? Quase caio da cama e sinto um repuxão em todos pontos. 

Ai, Jesus, que a cirurgia não tinha ido para o brejo!!! Mãe louca nas drogas dá nisso!



Comentários

  1. Nota dez! Você, de médica, seria dez! Sorrisoterapia!

    David

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  2. Peitinho novo! Tb quero fazer. Me transformei numa autêntica Índia depois amamentar duas bebês. E acho insuportável usar sutiã. Viva a liberdade dos peitos pequenos.

    Re Osório

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  3. Que bom que está dando tudo certo, Lú. Que fique muito mais lindona!

    Renata Assumpção

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  4. Graças a Deus correu tudo bem!! Torcendo pra que você volte logo, mais linda ainda!

    Mônica Emery

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  5. Escrever a própria experiência em uma cirurgia é heroísmo, estimada Luciana. Que os médicos possam ler seu lindo texto!
    E vale mesmo fazer aquilo que podemos para elevar a autoestima!

    Socorro Melo

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  6. Magnífica para escrever, amei tudo. Principalmente saber que correu tudo bem. Deus te ilumine e proteja!

    Mônica Martins

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  7. Fica aí falando, falando, falando... quero ver quando vai mandar nudes!

    Dani Maia

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  8. Bom diaaaa, prima!!! Que bom que correu tudo bem.... Vc vê poesia em tudo, consegue transformar sua tensão em inspiração!! Pra mim, a pior parte foi quando eu calcei as sapatilhas e mandaram que eu entrasse no centro cirúrgico (Uiii).

    Jôsy

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  9. Ufa! Pelo visto, só sucesso e a maluquice habitual!

    Rodrigo Chaves

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  10. Vc é fantasticamente incrível!!! Narra uma tensão com maestria que nos encanta!! Parabéns por fazer desse momento essa magia!! Já deu td certo... Vc é demais!!! O repouso é fundamental...Cuide-se!

    Tia Book

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  11. Em tempo, sua vida dava uma série!!! Já pode roteirizar isso aí!

    Anna Luiza

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