Reflexões sobre a rejeição


"Texto rejeitado". Aos 41 anos de idade, enfim, um texto meu foi rejeitado. Parecia que eu tinha levado um tapa na cara, ou que não tinha mais nada a fazer na face da Terra. Porque eu descobri que posso aguentar quase qualquer coisa, menos que eu não tenha a certeza de que sei escrever. Meu estilo pode até não agradar, mas nunca fiz algo tão ruim ao ponto de ser "rejeitado".

Rejeitado é uma palavra horrível, não? Ser rejeitada é um dos sentimentos negativos mais poderosos que existem. Me dei conta hoje, com o email do meu chefe. Em uma linha ele destruiu todas as chances de que minha sexta-feira fosse solar e radiante como o dia que faz lá fora. "Texto rejeitado". Foi um baque, uma decepção. De repente eu percebi que meus textos são falíveis. Que eu não passo de uma pretensão de mim mesma. Que eu sou mais arrogante do que sempre supus que eu fosse (e isso não é pouca coisa).

Quero Matar Meu Chefe

Veja o que o sentimento de rejeição é capaz de fazer com uma pessoa...  Me colocou numa crise de fé na minha habilidade. A única que eu tinha certeza de dominar. Nunca me considerei talentosa em nada além de escrever.  Por isso me sinto a pior das criaturas, chorosa e despedaçada. Só me resta desabafar para elaborar. Promover a minha autoanálise bloguística.

O que o meu chefe nem suspeita é que atirou no que viu e acertou no que não viu. Feriu minha alma almejante de morte. Ele já deve ter escrito "texto rejeitado" para um monte de subordinados. Deve ser até uma mensagem padrão tipo: "obrigado pela preferência". Não era para eu levar para o lado pessoal. Mas se sou uma pessoa, fica complicado. Ainda mais uma pessoa que se julga orgulhosamente dona de suas ideias escritas.

Alguns de vocês vão dizer: é bom, fortalece o caráter. Não se pode ganhar todas. Não deixa de ser uma lição de humildade... Entretanto a única coisa que eu enxergo no momento é uma tremenda rudeza da parte do meu chefe. Típico autoritarismo de quem está no poder e acredita não ter a obrigação de prestar explicações, argumentar seu ponto de vista. Isso significa que sou eu quem vou ter de defender o meu texto com unhas e dentes ou simplesmente largar de mão, engolir minhas suscetibilidades e tentar arrancar de alguém que não está acostumado a ser flexível, a solução para o mistério: o que ele quer eu escreva, afinal?

Caramba, a rejeição é esmagadora! É você descobrir que fez tudo para agradar aquela pessoa e ela simplesmente achou esse tudo uma grande merda. Coitado dos amantes rejeitados... Quanto sofrimento! A autoestima esparramada na sarjeta. Ao menos em relação de amor, você pode nunca mais olhar para a figura que lhe colocou no chinelo. Xinga, bate e solta um vá se foder redentor. 


E com chefe, o que se faz? Até dá para sair batendo a porta, gritando: para mim, chega! Lembro agora de um caso contado por uma amiga que é juíza do trabalho: o empregado fez cocô na sala do chefe, em cima da mesa dele. A vingança é um prato que também pode ser desgusting! Entretanto, com dois filhos para criar e sendo servidora pública há tantos anos, não me sobram muitas alternativas. E ser escatológica não é, definitivamente, a minha praia.

Ainda bem que hoje é sexta e eu terei o fim de semana inteiro para ruminar esse capim amargo. Na segunda,  espero estar nutrida o bastante para fazer cara de parede: não foi nada, imagina. O texto estava pronto há semanas e só agora que o folder saiu você percebeu que tinha de rejeitá-lo? Compreensível, claro. O tempo   dos outros não é tão importante como o tempo do chefe. Por isso ele recusa o seu trabalho em duas palavras. Razoável. Você é que é uma menina mimada, estrelinha de décima quinta grandeza posando de sol.

Humm... Acho que vou rever "Como eliminar seu chefe" e "Quero matar meu chefe" em sessão dupla.

Leitura complementar:





Comentários

  1. Como sempre, muito bom!

    Beijo,

    Renata.

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  2. Que é isso, Lu, Luciana Assunção? Seus textos são e sempre serão ótimos! Mas não pense que agradar a todos é tarefa fácil, aliás, é tarefa impossível mesmo! E daí? Da rejeição tiramos forças para continuar naquilo que acreditamos. E isso não é palavra de amiga não, é a realidade!!

    Bjsss,

    Ana Claudia.

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  3. Rega as tuas plantas,
    Ama as tuas rosas.
    O resto é a sombra
    De árvores alheias.

    A realidade
    Sempre é maios ou menos
    Do que nós queremos.
    Só nós somos sempre
    Iguais a nós própios.

    Suave é viver só
    Grande e nobre é sempre
    Viver simplesmente.
    Deixa a dor nas aras
    Como ex-voto aos deuses.

    Carmem.

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  4. Lu,

    tem gente que tem prazer em ser insuportável, já me pediram pra mudar nome de programa ou ação de governo porque "tava muito grande pro texto". Pode? O pior de tudo nem era chefe, mero editor...kkkk ! Pura implicância, acho que nem publicou...Continua lá paradinho no mesmo lugarzinho e eu cada dia melhor! Parafraseando Quintana, eles passarão... e nós passarinho, amiga!

    Bjs,

    Juliana.

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  5. Eu acho que a sua Amiga Ana Claudia disse tudo. No elogio vc estaciona mais eh na critica que vc cresce!!!!

    Bjs.,

    Evelyn.

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  6. Seu talento como escritora é incontestável, Lu. Força na peruca!!!!

    Beijos!

    Fabíola Reich

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  7. Queridas amigas comentadoras,

    agradeço o carinho e o suporte emocional. Eu realmente acredito que há críticas e críticas. E esse tipo que eu infelizmente recebi não me acrescenta nada além de fel.

    Sei que gosto de escrever e sei escrever. Entretanto é um trabalho ingrato esse da palavra escrita... É muito subjetivo, não? Mas, vamos lá. Acendi uma velinha para São Judas Tadeu pedindo força nessa minha causa perdida profissional...

    Talvez em outra encarnação eu consiga ser feliz no jogo... Por enquanto, só feliz no amor, que não é pouco coisa, é claro!

    Beijão verdadeiro e afetuoso para todas!

    Lulupisces.

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