Barroco

As palavras corriam nuas pela boca numa enxurrada de cânticos,
confissões e desejos.
Os gestos: simples e firmes.
A poética ação dos que caminham sobre a terra arada,
grávida e devota.

Os cheiros traziam as pequenas alegrias profanas
E, em meio as frutas, verbos e sons
fomos vivendo
fomos sendo
fomos.




Rosa bem piegas

Não te beijei naquela mesa de bar e hoje me arrependo.
Só penso bobagens quando amo as pessoas.
Ontem imaginei a morte de Bernardo:
chorei
chorei
chorei.

É tanto drama que também me arrependo.
Às vezes assim assim,
outras, sentimental.
O horóscopo disse:
hoje é dia de amor!
Por isso desde a madrugada eu amo
e me arrependo
eu amo e choro
eu amo e ouço música...


Um tic e tac maluco.
Um coração de pulsos cortados.





Legado

ao querido Mário Quintana

Para onde você foi, Velho?
As pessoas me telefonaram, mas eu não sabia.
Por quê não fiquei triste?
Sufoquei soluços na colcha de retalhos que são seus poemas.

Você foi embora, Velho?
É de não acreditar.
Mas os seres precisam.
Carecem de dormir de sapatos.

Tive inveja de você.
A liberdade depois de tanta vida nas mãos.

Não fiquei triste foi por isso.
Você me mostrou que escrever é ainda muito novo
e definitivo.

O melhor remédio para as velharias cotidianas.







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