Nomes


Singeleza é coisa que comove.
Diadorim e o amor impossível
Taís, Luíza, Lolô e seus rostos de amanhã.

As perguntas inocentes de Márcia,
dignas dos cadernos caprichados de Marianna.
No quarto de Alexandre me deito,
ouvindo Caetano e Paulinho da Viola.
Releio aqueles poemas de Quintana.
O coração se torna mais vermelho,
sentimental como Zizi.
E o gesto automático de Mário passando as mãos
[nos cabelos encaracolados de Marisa,
tão bonita!
Diva.

Lindinalva. Seu nome me traz as velhas canções das rainhas do rádio
[que a outra Marisa canta.
Do Cacau aprendi as palavras inexatas.
Geraldo me deu seu Dia Branco, nunca mais fui a mesma
como Daniela, sempre inédita.
Nos telefonemas imprevistos, Bernardo.
E Maria de todo o meu viver...luz!

Doces são os poemas que Neide me deu
como Alessandro que me deu seu amor calado, tímido
assim Rodrigo, tranqüilo.
Dedéia eclética 
Lara fiel,
Marilena certeza.

E cadê aquele menino que me ofereceu seu tesouro:
um grande búzio rosa na praia deserta.
Me fez descobrir a singeleza!
Esqueci seu nome, menino.


32


A Cura

Estava ardendo desde o final da tarde
quando me vesti de selvagem,
me observando no espelho.

Um cabelo de fera
um olhar brilhante de sexo.

Me acho bonita nesta cama vazia,
plena de tamanha feminilidade.
Vem,
meu instinto não te desconhece.
(tanta ternura em ser tua)

Vem,
me molha o corpo com seu beijos...
A febre é alta.


Para quem perguntar

Porque não sei desenhar,
escrevo.
Escrevo porque desenho sinais
códigos que pingam da mão esquerda, torta.

As palavras pingam no papel à vontade.
A mente é um lugar transitório.
Lugar de palavra é na boca,
no asfalto,
no meio do povo,
nos alto-falantes.

Nas cartas sem fim ou no começo de tudo.
Nas folhas brancas, pardas...
Porque só sei desenhar palavras,
escrevo.


75


Celestial

Um anjo me tocando após o sexo.
Suas mãos: plumas
brumas
Exploram as diferenças dos corpos em seus volumes
densidades,
cumes.

Um leve vapor abrigando as partes
guardando a memória do gozo
devolve à matéria a castidade inicial

Um anjo que chega após o
ato consumado
prepara os homens
para o próximo ritual.


Umas coisas

As letras da vida podem dizer coisas simples:
água
madeira
pão.

São estas besteiras que conto para minha amiga nas cartas.
Utilizo o verbo cartear.
Conjugo tecendo umas tramas sórdidas, mágicas,
más.

Também tenho doçura, é verdade.
Desenho flores e pergunto:
“...e as letras da vida, minha amiga?”
Só para ler coisas simples como
amar
escrever
ouvir...

Essas coisas, sabe?


178


A gota

A gota
no bico do seio nua
acima do rosto
próxima da boca tua.

A gota atravessa o corpo quente desejo
na pele
flor.

Nua na água fria
próxima de explodir ofegante
nua.

O que faço com a gota que não é tua saliva?
O que faço nua sem boca tua?



À moda de Lispector

Permaneço sentada no parapeito do Martinelli.
Vejo a vida pequena lá embaixo.
As frustrações infantis, os desejos juvenis
nada parece ameaçador a esta distância.

Minúsculos seres se movem entre os prédios e o vento queima.
Porque é inverno e porque quero
permaneço imóvel sobre o parapeito do Martinelli.
Imaginando cobrir a vida com asas num belo salto.
Certamente ela não sobreviveria se sobre ela estivesse eu:
segura, forte, sublime.

São 28 andares ou 26...





Comentários

  1. Super profundo. Conheci um lado seu que nao conhecia antes, o seu lado mulher, femenino. Adorei todos os poemas, te conheco um pouco melhor. Vi a sua essencia!!!

    Beijos,

    Evelyn

    ResponderExcluir
  2. Que poemas belos...gostei muito!
    bj.Namastê!
    Cynthia

    ResponderExcluir

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