Que os deuses tecnológicos nos preservem as amizades!


Escrevi esse texto no fim de 2008. E como me parece ainda mais atual com o advento do facebook, remasterizo aqui para nova leitura ou leitura nova. Desde já desejando bons amigos ao seu lado nesse ano que se fecha à espera de outro, ainda mais amoroso e fraterno.

"Reconheçamos o básico: uma vida sem amigos é uma vida vazia”. A afirmação perfeita da escritora e dramaturga Martha Medeiros, lida na Revista Globo, lá no Rio de Janeiro, foi relembrada nesses dias em que o valor da amizade ficou evidente em dois episódios. No primeiro, uma amiga do primeiro grau – hoje chamado de ensino fundamental – me envia uma foto resgatada do Orkut onde lá estava euzinha nos meus 12 anos. Tão infantil, tão inocente. Era um evento cultural do Colégio Notre Dame, no qual reproduzimos uma dança típica dos alemães. Ao meu lado, sentado no chão do pátio da escola, estava Marco Antônio, meu primeiro amor.

Não sei se naquela foto já estava apaixonada por ele, mas isso é outra história. O importante foi voltar ao passado, sorrir e encher os olhos d’água com a recordação. Eu não tinha essa fotografia. Não está no álbum da família. Naquela época, que parece realmente muito distante, não havia máquinas digitais e seu fácil registro em 300 cliques. Nem havia computador, as fotos tradicionais eram caras e as câmeras manuais também.

“Procure seus desaparecidos, resgate seus afetos” também podia ser lido na crônica da Martha. E assim aconteceu o segundo episódio relacionado ao valor da amizade: ao visitar a exposição “Lusa” no Centro Cultural Banco do Brasil, um encontro acabou ofuscando a beleza e a importância da mostra. Eu revi Daniela e nada mais tinha nenhuma graça além daquele rosto, daquela voz e daquele abraço há tanto ansiado por mim. Foi um frente a frente casual com a maior amiga que tive em toda a minha adolescência e início da fase adulta. Levei alguns minutos para tomar coragem de chamá-la pelo nome: Dani! Ela levantou a cabeça e sorriu.

A gente viveu muita coisa boa e ruim juntas. Um período fértil, divertido: de afirmação da identidade e de liberdade. A Universidade de Brasília com suas festas, seus banquinhos, suas discussões metalinguísticas, filosóficas e sociológicas. Eu na Comunicação, ela na Programação Visual. Eu na Antropologia, ela na Computação. Caminhávamos, lado a lado, construindo nossas vidas e nosso futuro. Naqueles idos dias coloridos de conversas até altas horas ouvindo Beatles e cruzando o universo com a paixão dela por astronomia e a minha por poesia, dividíamos segredos, opiniões e brigadeiros feitos para comer de colher.

Nesse encontro não-marcado resgatamos um pouco da nossa cumplicidade. Os maridos se cumprimentaram voltando ao passado em que foram apresentados como namorados. A tecnologia deu o ar da graça, mostrando o seu poder de resgatar laços: trocamos números e mostramos fotos dos meus filhos tiradas pela câmera do celular.

“Faça um inventário do que vale a pena preservar e do que vale a pena desvencilhar-se”, receita Martha. O meu já está pronto. Que o facebook, messanger, skipe e outros deuses tecnológicos me ajudem nessa tarefa de vida toda. Amém.

Comentários

  1. Xiii, Dona Luciana!
    Até tentei adoçar meu comentário, mas ele vai sair azedo mesmo.
    Pra mim, essas geringonças tecnológicas mais afastam do que aproximam.

    Ainda não aderi a nenhuma rede social virtual (msn conta?), mas testemunho diariamente o isolamento que ela provoca.

    O estranho que isso só acontece quando as pessoas estão fisicamente próximas. Ex.: 4 amigos num bar. Todos eles ficam o tempo tudo fuçando em seus Ipads, Iphones e afins.

    Agora, realmente, quando se está a uma certa distância, o troço funciona.

    Esse comentário é prova disso, né?

    Estamos longe alguma centena de quilômetros.
    Mas tô coladinho no seu blog.

    Valdeir Jr

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  2. Obrigada por comentar aqui no blog, primo!

    Concordo contigo numa coisa: as redes sociais podem afastar mesmo as pessoas. Principalmente aquelas que já não têm a menor vontade de conviver ou de fazer força para ver as outras ao vivo e em cores. Aí, é mamão com açúcar.... As redes caem como uma luva para seres pouco preparados para desenvolver uma amizade verdadeira.

    Mas se a pessoa souber utilizar a rede para fortalecer as amizades, também dá certo. É tudo uma questão de como usar...

    Eu nunca vou abrir mão de ver meus amigos frente a frente. Mas sei que muitos já abriram mão. Mas estes que abriram, já não são aqueles que nunca foram realmente amigos?

    Fiz vários encontros lá em casa nesse mês de novembro. As pessoas que eu tentei reunir que não via há tempos, foram exatamente as pessoas que não foram. Que não ligaram para o meu convite, como se hoje em dia, um convite dessa natureza já não fosse tão raro...

    Então eu concluí: não dá mesmo para forçar a barra de quem não está a fim de se envolver pessoalmente com você. Nesse caso, invista nos reais afetos. E deixe essa galera arredia para os virtuais afetos. Que não são ruins, mas nunca serão completos.

    Um beijo,

    Lulupisces.

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