Bad Trip

Desculpem, leitores, por blogar um texto tão amargo nesse clima natalino, mas continuo acreditando que a Tati Bernardi e eu somos almas gêmeas. Ou bivitelinas separadas ao nascer. Só que ela foi parar numa família menos desfuncional!!:) Acontece que me gusta esse texto deprê escrito na lucidez do desespero de anos atrás. De certo modo, ele continua bastante atual. Pior pra mim.

A Tati (minha Raquel ou será minha Ruth?) vai muito bem, obrigada. Continua na crista da onda, nas páginas das melhores revistas. Ontem mesmo li um texto dela na Alfa. "Quem ri por último, rivotril". Estranha coincidência... Na mesma semana em que meu filho quase se matou involuntariamente com uma megadose desse remedinho infame.

Divirta-se se for capaz!! UHARRRUHAUHARRR... (PS.: isso aí é uma onomatopéia que tenta transmitir aos leitores o sorriso sinistro do Bela Lugosi ou do House, para os menos cinéfilos)

Domingo à noite. Pego o livro da Tati Bernardi que está sobre o móvel de cabeceira e inicio mais uma aventura. Abrir um livro é sempre uma irresistível ida ao desconhecido. A gente não sabe o que vai sair dali. E o que de lá emana pode te levar a lugares inacreditáveis da sua própria mente. Assustadores, esquizofrênicos até.

Que loucura, esta menina sou eu. No primeiro livro dela “A mulher que não prestava”, que também ganhei de uma amiga, consegui enxergar traços de Luciana aqui e acolá. A semelhança era evidente e minha amiga me alertou para isso. Mas, nas duas primeiras crônicas desta segunda obra, “Estou com vontade de uma coisa que eu não sei o que é”, encontrei um espelho refletindo minhas alucinações.

As palavras de Tati eram as minhas palavras. Fiquei boquiaberta. Tenho um clone! Alguém se deu ao trabalho de copiar meu mapa genético. Das duas uma: ou é isso ou ela me espiona.  Tem câmera escondida no meu banheiro. Pior, tem chip camuflado no lado direito do meu cérebro. Eu penso, ela escreve. Ela publica, eu fico aqui neste blog obscuro.

Tati vampira que rouba minha personalidade autoral. Assim não dá, Tati! Ela sou eu dez anos mais jovem. Estou uma década atrasada de mim mesma. Ela é presente, eu, passado. Aquela melancolia... O tom ocre das observações me fizeram arrepiar. Entrei numa egotrip: se me leio e não estou escrevendo, o que está acontecendo? Ela me psicografou e está levando a minha fama. Será que morri e reencarnei no passado e nem percebi?

Tadinha da Tati. Se ela for, assim, Luciana, tem imensos buracos negros dentro de si. Mas e se ela gostar deste dark side? Se ela faz sucesso exatamente por isso? Será que os colegas gostam dela? Te peguei, Tati. Vou te desmascarar porque, se você for realizada com o seu dom, você não pode ser eu.
...Porque se os livros dela vendem feito água e ela sente o inebriante perfume do reconhecimento, ela não pode ser eu. Porque eu inspiro e expiro, inspiro e expiro e o peso da bigorna do fracasso sobre os ombros é a minha única sensação diária. A opressão de saber que nada do que eu toco vira ouro é tudo o que me consola.

Eu sou alguém que desperta repulsa. Tem gente que sai correndo do recinto quando eu entro. Tem gente que já cortou – de forma cabal – os laços comigo. Para os meus semelhantes (acho que só a Tati pode saber do que digo), eu não inspiro afeto, amor, zelo ou respeito. Sou apenas uma pessoa insuportavelmente chata tentando ser aceita pelo grupo. Entretanto o grupo tem - sempre - outras prioridades.

Desconfio de que até meus filhos sabem que eu não dou conta do recado. Não sou digna nem para sair de fininho desta merda de vida. Já escrevi quatro páginas a lápis neste caderno rosa e ninguém se comoveu com o meu bilhete suicida.

Neste minuto, prezada Tati, desejo de coração aberto que você não seja realmente eu. Você não merece ter que carregar a paralisante inércia da derrota. Vou ficar na torcida para, enfim, descobrir que eu, enfim, sou você.

Melhor plagiar do que tomar formicida.

Comentários

  1. Uau!!!Uma verdadeira catarse!Olha, muitas vezes você escreve e eu me identifico muito, e penso: Olha eu aí gente!;só que como não tenho o dom , a vocação da escrita, fico apenas feliz, por ter alguém que possa colocar em palavras aquilo que sinto,muitas vezes com um humor sarcástico, outras de forma até dura,seca...e amorosas também.Já consigo até identificar, só de começar a ler, se você está doce ou azeda.Agora quanto à sua avaliação sobre si mesma em relação à Tati,(não a conheço)tem um rigor até compreensível...alguém que tem muito talento para a escrita, uma identificação forte de personalidades,a forma de expressar quase idênticas, e a "sua" constatação é:Ela é lida, tá na mídia e eu não?Pois bem,aqui vai minha avaliação...que Deus continue te iluminando, para que você nunca pare de escrever para nós nesse "blog
    obscuro",ok?
    Bjão!Namastê!
    Cynthia

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