Sexismo pra quem, cara pálida?

Quem é publicitário de coração não perde o olho nas novidades do intervalo. É mania de ficar babando com os insights comoventes e alegres ou de criticar as derrapadas de outros colegas... Que ideia estapafúrdia, patética!!!

Com a internet, estou sempre recebendo filmes publicitários dos amigos. Hoje é mais fácil acompanhar a evolução da publicidade que, na essência, continua a ser “Felizes para sempre em 30 segundos”, título da monografia de conclusão da faculdade escrita a quatro mãos com a amiga Marisa em, bem, deixemos para lá, idade não importa.

Pois agora estou de cara com essa polêmica vazia em cima do filme da Hope com a Gisele B. Vou dar a minha opinião como publicitária e como mulher. Estarei também sendo sexista com essa dicotomia? Como profissional da área, um pouco enferrujada, é verdade, acho o mote da campanha interessante. Se bem que preferiria ver uma bela ao estilo Marilyn Moroe de calcinha e sutiã. As modelos são lindas vestidas, não peladas. E isso vale até mesmo para a rainha Gisele.



Homens ficam muito estressados quando o assunto é carro. As suas esposas - que não são bestas nem nada - podem, devem, querem fazer um jogo sensual com seus maridos, apostar no fetiche e na sensualidade femininos e dão uma notícia catastrófica (para os homens) armadas de lingerie. Tem leveza, graça, sacanagem, sacada.

O filme trata a mulher como um objeto sexual. Ahã, então tire todos os filmes de cerveja do ar!!!!! Parem de publicar Playboy, fazer novela das nove... O governo não tem mais com o que se meter para chegar ao ponto de pedir a retirada da campanha da TV? Ah, lembrei, tem sim: gastam nosso dinheiro em sessões ligeirinhas da CCJ e aprovam leis incríveis como essa que obriga os órgãos públicos a hastear a bandeira do Mercosul ao lado da nosso querido "pendão da esperança" nacional. Darrrrr!!!

Como mulher, não me sinto ofendida pelos filmes da Hope. Ou seria da Gisele? O risco de colocar um ícone para fazer a sua publicidade é ninguém prestar atenção na marca e só lembrar do ícone. Vou dizer o que me irrita, me faz arrancar os cabelos e gritar que ideia patética!!!!! na propaganda: os filmes que vendem sabão em pó, máquinas de lavar roupa e louça; limpadores Veja e similares; arroz, feijão e similares. produtos para bebês...

Estes sim são um tapa na cara das conquistas femininas, pois continuam a mostrar a nossa espécie presa nesse estereótipo ultrapassado da dona de casa feliz. O marido só chega para encontrar a comida prontinha, o filho dormindo... Ridículo e, o mais idiota: não condiz com a realidade da maior parte das famílias contemporâneas, nas quais a mulher compra ovo frito na mercearia enquanto os homens, eles sim, vão para a cozinha preparar pratos inventivos e colocam os rebentos na cama.

Há uns dois anos, Rômulo insistiu para ganhar uma pia de brinquedo. Ele ficava encantado com o comercial das garotas rindo a valer na lavação (olha que coisa linda, as meninas na cozinha desde cedo). Comprei a pia – que só havia na cor rosa, é claro - com a caixa ricamente ilustrada por fotos de meninas contentes lavando xícaras. Isso sim me deixa doente. Quer dizer que garoto não precisa aprender a limpar o que sujar?

Então não me venha a Secretaria de Políticas para as Mulheres da Presidência da República corar o rosto, ficar envergonhada e taxar o filme da Hope de preconceituoso em relação ao gênero mulherzinha. A publicidade é apenas um reflexo da sociedade. E a nossa mostra que ainda é muito mais confortável ver a mulher recolhida ao lar doce lar do que sexualmente dominante, utilizando de artimanhas para enfeitiçar o marido. Imagina se fosse para enfeitiçar o amante... Colocariam uma bomba no Conar, né não?