Eram os deuses pianistas?

Quais deuses criaram o piano? Porque suas notas divinais não são, definitivamente, desse mundo. E nem tampouco pertencem à humanidade os pianistas virtuoses. Porque desvendar os mistérios de instrumento tão diáfano quanto monstruoso parece obra sobrenatural.

As mãos de um grande pianista existem independentes da vontade dele. É autônoma, como se sofresse da síndrome da mão alienígena. Ou mais: é o Thing da Família Addams. A mãozinha genial e sinistra. O mentor da personagem deve ter inspirado-se num recital de piano para compor a criatura etérea, enigmática e assombrada.

Porque uma apresentação de piano de verdade é inesquecível, um fenômeno extrassensorial. É sublimação. É transcendência. Até a respiração para de correr. Como se humildemente reconhecesse sua inutilidade perante a música.

Dei-me conta de que não inspirava ou exalava quando meu coração - a galope - fez voltar a alma ao corpo. Estava ela levitando entre as brumas daquela composição perfeita. Rodopiando trôpega nos desvãos do teatro. Alfa e ômega. O oito deitado: infinito.

Franz Liszt. Que combinação perfeita de óvulo, espermatozoide, genes e células cria um prodígio? Imagine só: se na atualidade, abarrotada de acontecimentos, ainda nos deslumbramos com composições desse húngaro tocadas pelas mãos extraterrestres de um impecável pianista, já pensou ter tido a honra de assistir ao próprio Liszt executando uma de suas obras?

Diz a história da música clássica que ele era fabuloso!!! Espantoso!!! Não duvido. Ou seja: Liszt realmente descendia de uma linhagem além. Não pisava rés do chão. Beethoven subiu ao palco para cumprimentá-lo após um concerto. Pensa: ser reverenciado por ninguém menos do que o criador de “Ode à alegria” (Nona Sinfonia). Um deus reconhecendo outro no meio dos mortais.

Não à toa os gregos já narravam a presença de divindades amando e odiando entre você e eu. Depois dessa experiência metafísica proporcionada pelos pianistas Flávio Augusto e Franz Liszt, começo a crer na (i)realidade de toda mitologia.

Curtam Lang Lang na execução do mesmo Noturno nº 3, de Liszt, que ouvi na terça-feira no CCBB:


E para confirmar o poder da música, outro vídeo bacaninha:

Comentários

  1. Realmente as pessoas têm sensibilidades diferentes. Tirando uma 9ª Sinfonia de Bethoven eu não tenho o menor saco de ficar escutando concerto, seja de que instrumento for.

    Meu pai bem que tentou. Tive aulas de piano dos 5 aos 11 anos, mas na primeira oportunidade dei o fora!

    Para os mais sensíveis tanto pode ser uma viagem (no bom sentido) como pode levar à depressão. O Divaldo já até citou em uma de suas palestras um caso de sinfonia que instigava ao suicídio, mas não me lembro de cabeça o nome do compositor.

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  2. Oi Luciana,

    levei as crianças no festival de cinema, foi ótimo ! Legal dar a oportunidade de nossos filhos assistirem outro tipo de cinema, outros referenciais, não?!

    Bom, mas escrevo pra te dizer que amei o texto das avós. Nossa, chorei horrores aqui no trabalho. Acho que foi o melhor texto seu do blog, e olha que sou fã de todos os outros. Parabéns e obrigada por nos compartilhar textos tão bem escritos e com tantas reflexões!

    Eu estou com um projeto de blog, dá uma olhadinha lá depois:

    Valeapenapublicar.blogspot.com

    Beijo,

    Marina

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