Fenômeno paranormal

Sou um pouquinho mais maluca que a média das pessoas. Até mesmo que a média dos meus amigos, sobre os quais mamãe acertadamente concluiu: “Minha filha, você tem uns amigos tão esquisitos!” Tadinha... Não queria admitir que a própria cria era uma rebelde existencial...

Mas esse preâmbulo todo é para perguntar uma coisa: vocês não sentem um nó na garganta quando têm nas mãos o peso de um livro clássico? Ou será que sou só eu que passo vexame? Veja bem (hum, eu não gosto dessa expressão, mas não tive outra no calor da escrita). Não, não! Não me dou por vencida, substituam o veja bem por P.S.: esse peso aí da pergunta não é fardo, tá legal? É reverência.

É como se, ao tocar uma obra clássica, todas as sensações vividas por gerações e gerações de leitores automaticamente chegassem até você de forma fulminante. Acho que na doutrina espírita existe algo que explica esse fenômeno. Como tocar a roupa da pessoa e sentir tudo o que a pessoa viveu vestindo aquela roupa. Aqueles programas sobre detetives paranormais nos mostram essas situações, certo? Pois é assim que me sinto com uma história universal nas mãos.

Leio sempre. Nunca paro. Termino um livro e começo outro. Não compulsivamente ou com pressa. Não leio vários livros ao mesmo tempo. Gosto da leitura assim, nesse motocontínuo... Uma companheira da – espero – longa estrada da vida. Não tenho uma lista prévia na cabeça. Muitas vezes a obra me chega pelas mãos de amigos. Outras eu mesma compro, futucando na Livraria Cultura (um perigo para o cartão de crédito). Meu marido também me indica boas leituras. Vou lendo, sem parar, como uma eterna formiga. Aliás, como uma eterna cigarra, pois ler é diversão, não trabalho.

Entretanto, como obrigação devota com a Literatura e também por ter uma pretensão literária, eu gostaria de ler alguns clássicos antes de bater as botas. Claro que há obras que, nem por decreto, eu me aventuraria a engatar namoro: Em busca do tempo perdido, do Proust e Os Sertões, de Euclides da Cunha estão nesse contexto.

Entretanto há autores que não descem, mesmo com boa vontade da minha parte. Eu sei que deveria apreciar Dostoiévski e Virgínia Woolf, mas não consegui. Mesmo sendo uma metida à intelectual, não rolou romance entre Crime e Castigo e eu. Muito menos flertei com os Irmãos Karamazov e Mrs. Dolloway. São megaclássicos, mas não deu!

Incompatibilidade de mentalidades, sei lá. Ainda vou descobrir quais as razões da ziquizira com esses dois escritores. Porque o problema está em mim, obviamente. Outro dia eu li uma mulher metendo o pau em algumas canções do Chico Buarque. Francamente!!! (Né, tio Raimundo?) Se você fala mal de alguma letra do Chico o erro está em você, minha cara. Afinal, Chico Buarque de Holanda está para a cultura nacional assim como Hemingway está para a literatura mundial. Se você não é capaz de compreender essa simples premissa, admita a sua falha e siga tentando.

Falando em Hemingway, ainda não li nada dele. A confissão me deixa vermelha... Mas pretendo desvendar os segredos de A Montanha Mágica em breve. Agora estou nas últimas e emocionantes páginas do clássico O sol é para todos, ou bem melhor no original: To kill a Mockingbird. São quase 40 anos ouvindo sobre esse livro que, se até a ex-spice girl Victoria Beckham leu e afirmou ser o preferido dela, eu também tinha de ler.

Hoje entendo o magnetismo e adoração que a obra provoca. Talvez eu também batizasse minha filha com o nome de Harper (Harper Lee é autora deste ganhador do Prêmio Pulitzer), assim como fez a senhora Beckham.

Quando peguei To kill a Mockingbird e senti a textura da capa, me deu o tal nó na garganta. Um suspense, um medo bom de abrir e ser tragada pela primeira página. É uma sensação incrível! Que poder tem uma história universal! O mesmo temor do bem me envolveu ao ler À Sangue Frio. Obra-prima. Ponto.

Grande Sertão: Veredas, Cem anos de solidão, Ana Karenina, Guerra e Paz, A Náusea, A Metamorfose, A Hora da Estrela, Os Três Mosqueteiros, Memórias Póstumas de Brás Cubas, Morte e Vida Severina, Vidas Secas, O Príncipe, Madame Bovary, O Retrato de Dorian Gray, Admirável Mundo Novo, O Evangelho segundo Jesus Cristo, Sagarana, Coração das Trevas, Dom Casmurro, As Meninas, O nome da Rosa, Memórias de um Sargento de Milícias... Clássicos de ontem, hoje e sempre que não servem apenas para enfeitar as estantes, mas para iluminar e encantar.

A gente precisa é entender disso: que essas obras não estão aí para alimentar a alma de eruditos de plantão ou de boçais arrogantes. Elas não nos afastam da Literatura, é exato o contrário. Essas histórias que ultrapassam os séculos são um presente para todos nós. Tê-las nas mãos e concluir a leitura de cada uma delas é deixar uma cicatriz boa no coração.

Taí uma boa pedida para a gente desmistificar esses "livrões": 

Língua e Literatura

Entrelinhas estreia quadro sobre clássicos

PublishNews - 26/08/2011 - Redação
A obra de Dante Alighieri será o tema do “Por que ler os clássicos” neste domingo


Pensando em apresentar os maiores clássicos da literatura universal de modo didático e contando, para isso, com a ajuda de escritores e críticos, o programa Entrelinhas estreia neste domingo o quadro “Por que ler os clássicos”. O programa vai ao ar às 21h30 pela TV Cultura e terá, nesta primeira edição, a presença do poeta Eduardo Sterzi, maior estudioso brasileiro da obra de Dante Alighieri. Sterzi irá apresentar ao telespectador a obra Divina Comédia, complexo poema que parte da cosmologia medieval (Paraíso, Purgatório e Inferno) para iniciar da literatura moderna. O Entrelinhas também pode ser assistido pela internet.

Comentários

  1. Caramba! Cê passou meu curso de Letras a limpo!?rsrsrs. Eu adorava viajar nessas obras, analisá-las em conjunto com meus colegas e professores "figura", que eu tinha na faculdade... só faltávamos flanar como Baudelaire nas ruas de Paris, de tanto que curtíamos refletir sobre tudo... éramos verdadeiros "pscicanalistas" dos personagens, montando seus perfis psicológicos, desvendando seus pensamentos e mistérios (se bem que o único que jamais será desvendado é o se Capitu traiu realmente ou não Bentinho) rs.

    Engraçado como me afastei da ludicidade poética da ficção e hoje tenho gosto por livros que são analíticos de uma forma mais direta, que defendam alguma tese, uma idéia, principalmente os de psicologia. Comprei até uma "bíblia" da área, apesar de não pertencer a essa classe...rs. Sou uma bicuda mesmo, mas até que já recebi alguns "elogios da academia" vindo dos psicólogos com os quais estou fazendo curso, em função de algumas inferências pseudo-entendidas minhas... rs!

    Mas que horas vc lê, menina? Como tudo na vida tem que ter disciplina, né? Se for deixar prá horinha de dormir lá na cama quentinha, já viu... vai ser sempre a mesma leitura: "Sonhando com os anjos", conhece?

    Bjs

    Patty

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  2. O Fantasma da Opera eh considerado um classico? Depois que eu assisti o filme eu resolvi ler o livro porque eu quiz entender um pouco mais da vida do Eric. Senhoras e senhores: Eric, nome do fantasma da opera existiu em carne e osso - o author tem provas.
    Eu som que nem a Lu, um livro atras do outro. Gosto de recomendacoes ou livros que encontro por acaso como os que sao largados na lavanderia do meu predio. Adoro quando os livros me acham!
    Boa leitura a todos!
    Evelyn

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  3. Olá comentadoras,

    o importante é ler, qualquer coisa, e também os clássicos. A ideia é não parar de ler e sempre se deslumbrar com as descobertas da literatura.

    Eu leio mesmo antes de dormir, Pattygirl!! Por isso eu vou na velocidade tartaruga... Leio umas três, quatro páginas por noite e adormeço.

    E sempre levo livro para as viagens de férias. Nesse caso, eu, às vezes, consigo terminar um livro inteiro em 10, 15 dias.

    Um abraço apertado,

    Lulupisces.

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  4. Olá, Luciana.
    Francamente! Que texto legal você produziu!
    Como, além de livrófilo, sou cinéfilo, percebi que muito do que você disse se aplica também a filmes, pois acabei de assistir Orfeu Negro, a obra prima de Marcel Camus, ganhador de Oscar e Globo de Ouro, e Palma de Ouro em Cannes.
    Pois o filme acabou e não me senti radiante. Embora conheça a lenda, não sei nem se entendi o filme. Fico com a sensação de que não tenho cultura ou inteligência suficiente para compreender algumas belezas e mensagens.
    Não sou musicófilo, mas considero Chico Buarque superior a todos os compositores populares que conheço, e também gosto dos livros dele, alguns dos quais dão nó na cabeça (tanto como os filmes baseados nos livros).
    Por outro lado, não tenho capacidade de desfrutar de Bach, Mozart, Schubert, Chopin e outros mestres. Não é uma vergonha?
    Bem, acho que já estou falando demais, quando a penas queria dizer que gostei do seu texto.
    Abs.
    Jraimundo.

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