Presente!


Para Patty, Giovana  e Carmemcita




Sextas, sextas, gosto tanto de sextas-feiras que meus dois filhos escolheram nascer em sextas-feiras encantadas... Imagino cestas transbordantes de pensamentos gordos: sorvetes, cremes brûllées, mousses de chocolate, morangos, silvestres, selvagens... 

Sexta é dia de andar a pé pela cidade e cheirar suas verdades. Sexta é dia de fotografar o céu de brigadeiro, as nuvens de algodão, a grama de alface fresquinha colhida da horta orgânica. Sexta é dia de Shabbat, que começa no pôr-do-sol (esses judeus sempre espertos). De ouvir canções que elevem o espírito ao astral máximo do júbilo. 

De voltar ao passado e relembrar coisas boas. Dar de cara com o consultório da médica que fez o parto do seu primeiro filho e ter vontade de dizer olá pra ela, que nem deve saber mais quem você é. Ao contrário de você, que lembra até das palavras que ela disse, pois nascimento de filho é sempre inesquecível nos mínimos pormenores que você revive quando precisa ser feliz. 

Sexta é dia de ler textos escritos pelos outros amantes das letras com todo o frescor das frutas vermelhas. De fugir do trabalho para brincar no jardim. Sexta é dia de celebrar os melhores aniversários. De almoçar sabores exóticos. Ah, sexta... É dia de morrer de pavor na frente da TV depois de escolher aquele filme de suspense que você ainda não viu. 

É hora de conversar sobre amores futuros e pretéritos. De encontrar no meio do caminho vasos repletos de copos de leite (não creio, de novo? Que bom!). É dia de mascar chiclete, de comer bombom Sonho de Valsa. E de esperar a visita da mãe mesmo que você não tenha o dom de renascer os mortos.

Nas sextas, dá vontade de fazer a sesta sem data pra acordar... 

Ir ao cinema, namorar, rir de piadas bobas, bater papo com a amiga querida pelo email (quando queria estar ao vivo), reclamar do calorão que engolfou a cidade sem pedir licença e está assustando a população... Na sexta, todos esses hábitos e mais alguns tornam-se mais fluidos, mais intensos, mais líricos, mais meigos. As sextas são diáfanas e tagarelas. Livres e paradisíacas. 

Sexta é nadar com os golfinhos em Fernando de Noronha. É escalar o Pico da Bandeira. Sentir o mundo ancestral se abrir diante de seus olhos no Grand Canyon ou respirar as manhãs de Curitiba em seu banheiro... É ler Grande Sertão: Veredas, um poema de Drummond. É recordar tantas cenas de filmes que lhe fizeram chorar e criar uma colcha de retalhos da tia Lurdinha com elas.

A sexta é uma praia deserta de águas mornas para boiar sem relógio e ver-se refletida no infinito. Ainda que você esteja encarcerada num cubo de concreto com as persianas fechadas.

As sextas-feiras não têm explicação.



Comentários

  1. Adoro também Lu, as sexta feiras...
    bjão.Namastê!
    Cynthia

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  2. Sexta é o dia da esperança, adoro sexta!

    Renata.

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  3. Emocionada com seu texto, mas, principalmente, com a foto do bebê Tomás, não?

    Carmem Cecília

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  4. que lindo, Lu!
    obrigada! adorei!
    beijo,

    Giovana.

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  5. Querida Luzinha, passei o dia fora, hoje é o meu dia mais cheio com relação às aulas, prá completar tive reunião de professores à noite e depois saí para comemorar meu aniversário, que ninguém é de ferro!rs. Só cheguei agora! Vi seu telefonema, desconfiei que era o seu numero, mas qdo tocou meu cel estava no silencioso, pois eu estava em sala já. Agora sei que era vc, vi no email... muito muito muito obrigada, sei que vc não esquece de mim jamais! Amei a mensagem e esse post tão lindinho! Como vc sabe expressar preciosamente o que é uma sexta-feira não? Realmente é tudibão ter caído meu níver numa sexta... melhor ainda é ter uma amiga de palavras tão doces! Ai.... e essa foto de vcs é linda!!! Só quem passou por isso sabe, né? O que é esse momento... Realmente, lembro de cada besterinha trocada até entre as enfermeiras no dia do nascimento da Bruna! rs. Coisas que elas falaram e que nem sonham em lembrar... isso é fantástico, né? Ah, e felizes os que nascem numa sexta mesmo! Sabe que não sei em que dia nasci? Vou procurar no calendário de 1970! Será que tem na net? rsrsrs Depois te falo!!!! 1000 bjs!!

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  6. Que bom que inspirei esse texto tão lindo e poético, Lu! Ainda que eu ame períodos longos e rococós, também amo textos com períodos curtos, flashes, tiradas, instantâneos de boa escrita. A foto eu havia visto no blog e é muuuuito bonita! Bom, como bem afirma minha analista, eu amo o amor, então, vai período longo, período curto, sou ecumênica no texto.

    Beijos,

    AnaCris.

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  7. "Sexta é dia de andar a pé pela cidade e cheirar suas verdades." Adorei...
    beijos Luzinha
    Isa

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