O lado zen da fobia





É chato quando a gente sofre de um temor sem explicação. Fico imaginando quem é realmente fóbico (será que eu sou e ainda nem percebi) e o medo paralisante guia a vida, ou melhor, limita a vida. Outro dia, zapeando os canais pagos, vi um pedaço de um programa sobre fobias que mostrava a parte final de um tratamento de dessensibilização envolvendo uma jovem com pavor de rãs e sapos. Ela tinha de passar a mão em sapos e rãs de borracha quase vivos de tão bem feitos. Provação absoluta.

O ímpeto inicial foi de rir, achar ridículo. Como assim, medinho de rã e sapos? Mas o mesmo ela pode dizer de mim: como assim, horror de viajar de avião? Então no meu eterno tratamento de choque, eu entro no avião e viajo, pronto. Porém confesso que está cada dia mais difícil manter o espírito viajador com este fantasma que veio sei lá de onde e se instalou ao meu lado. Sombrio.

E ontem eu me peguei separando os amuletos que me farão não entrar em pânico completo dentro do avião sozinha, sem mão do Bernardo para espremer. O colarzinho do OM que a professora de yoga me deu, o medalhão de São Judas que a herdei da minha madrinha, o caderninho de anotações, a revista que eu vou comprar, o livro que eu vou tentar ler... 

Peço proteção às minhas duas mães, atualmente sentadas à direita de Deus pai todo poderoso, para que elas me deixem viver um bocadinho mais, que não permitam que nenhuma turbulência mais turva entre na rota do meu voo para que eu não paralise de vez. 

Se vocês me perguntarem quando e onde essa história de medo de voar começou, não saberia precisar. Minha primeira viagem no céu aconteceu na pré-adolescência, num voo para Salvador registrado na foto-mico da primeira vez. Acho que ali eu não senti nada demais, além da emoção de viajar de avião, algo chique e caro para os nossos padrões classe média baixa. Mamãe estava comigo e recordo que estava feliz, só isso.

Depois, na próximas viagens, eu sentia desconforto, enjoo, ficava amarela e muitas vezes acabava vomitando. Sempre cri que sofria de motion sickness, mas se assim fosse, por que não sinto nada quando viajo de carro, trem ou ônibus? Será que esse descompasso físico já não era a somatização do medo?

Agora eu não passo tão mal como antes, mas padeço dos entreveros psíquicos... Rola uma certa mão suada, um pouco de taquicardia e muita, muita tensão. Geralmente acabo o voo esgotada com se tivesse levado uma surra. Tento me distrair, respiro fundo e medito OOOOOOMMMMMMM. Fico de olho nos comissários atrás de qualquer sinal de perigo ou alerta, como se fosse fazer grande diferença a 10 mil pés de altura saber se vou morrer em cinco ou dez minutos...

Então está aí a raiz do medo: a falta de controle absoluto da situação. Ou seja, sou uma autoritária ditadora que precisa ter nas mãos as rédeas completas da vida. Mas a vida não tem lá muito volante ou direção. A insônia, dizem, também é fruto dessa necessidade de vigília eterna... A desconfiança de se entregar aos braços de Morfeu. 

OK, racionalmente eu já sei qual é o ponto de partida do pânico. Todavia, e daí? Os dias se aproximam e a minha apreensão cresce... Não me perdoaria jamais em abandonar meus filhos sozinhos nesta jornada. E aí vem a outra razão para tanta paranoia: a minha própria orfandade, cicatriz que lateja.

Todavia, todos estes estrangulamentos mentais não passam de amarras inúteis. O imponderável faz parte da existência. Horóscopo, mapas astrais, cartomantes, videntes, bolas de cristal... Nada nos prepara para as surpresas e sustos da vida. Só viver e se desafiar, sem dar chance para acumular mais muletas de pensamentos negativos (não consigo, não dá, não vou, não posso). 

Ainda reverberando as palavras da monja Coen, "nem sempre fluir com o darma (a lei verdadeira) é prazeroso, mas é a única saída. Se não há relacionamentos, eu construo". Se o avião e eu temos essa relação espinhosa, cabe a mim criar o equilíbrio. Nossos inimigos primários são nossos próprios pensamentos e projeções. O que é bom, o que é ruim, em que confiar ou não... O universo, entretanto, não funciona da maneira como pensamos. Ele funciona de acordo com o que ele é sem nos dar a mínima pelota.

"Desconfiando, exalamos medo e rejeição. Confiando, irradiamos amor, compaixão e mente aberta. Uau! É tão simples! Paz é um estado de espírito." (Genro Roshi).

Que a paz esteja comigo nesta viagem para Curitiba! Namastê!



Comentários

  1. Pôxa Luzinha, vc está consciente mesmo das explicações psicológicas para estes problemas de medo. No avião enfrentamos o medo maior, o da morte. Mas no fundo todo medo tem essa característica, o de perdermos o controle sobre o que nos acontece, sobre nosso corpo, nossa mente. Tem gente que teme ser abandonado por alguém e olha aí o real medo de novo, o da morte, que significa, no caso, a solidão completa. Então qualquer medo é meio que o medo mesmo da morte, do descontrole fatal.

    Que consigamos exorcizá-los!

    Bjs
    Patty

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  2. Eu já posso até imaginar... Fique assim, não (olha quem fala!).
    O tempo aqui está ficando lindo e vai permanecer assim. Quando a situação no sul está clara, geralmente o céu é generoso!
    Será que a fobia não era essa????
    Estamos te esperando!

    Um beijão,

    Ana Cristina.

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  3. Olá Lu!!!!!!!
    Como você mesma disse, os medos falam muito sobre nosso interior. Medo da morte, medo do abandono, medo das surpresas, medos que a vida vai construindo em nós ou que construímos em nossa vida... moldamos tijolo a tijolo as paredes que nos mantêm seguras, mas que, diminuem a paisagem...
    Quando você vem, é porque quer ter mais horizontes...
    bjos corajosos! Ana Lucia Darú! Esperando...

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  4. Coragem amiga!!!Um teste para saber se já cumpriu sua missão aqui na Terra:se está viva,ainda não!Então lembra daquelas palavrinhas mágicas do querido Hermógenes, entrega(desapega),confia(darma),aceita(a realidade é o que é),agradeces(as bençãos de tudo que você já realizou e ainda realizará), pois a sua missão ainda não foi cumprida.Curte a vida, o aqui e agora e voe livre de medos, pensamentos negativos...Curitiba te espera de braços abertos, pois sua missão lá, sei, é nobilíssima.
    Beijo grande...vá em paz...Namastê!
    Cynthia

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  5. Lu,

    há uns anos eu tive síndrome do pânico, que é uma coisa terrível. Definitivamente não é racional. Eu tentava por tudo achar uma explicação e não conseguia (no mínimo, a explicação estava no "subconsciente").

    O medo era como um buraco negro que me puxava na medida em que eu não reagisse. O mais engraçado de tudo: eu já havia escrito uma matéria sobre síndorme do pânico e nunca tinha passado pela minha cabeça viver aquilo.

    Fiz terapia com psicólogo e no centro em que eu frequento e os sintomas sumiram. Mas já vi vários casos em que a regressão foi muito eficiente (vi uns casos mostrados pelo programa da Oprah. O médico/terapeuta parecia uma pessoa realmente séria)

    Enfim, no final, deu tudo certo =]

    bjão =]]]

    Fabiana.

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  6. SEU SITE SEGUE 10!!!

    BJUS,

    Davi Doss.

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  7. Querida Lu,

    Nossos medos são experiências vividas em tempos idos de que não nos lembramos. Mas, a mente espiritual (acreditemos nela ou não) acumula arquivos que nos envia flashes de acordo com as situações que vamos passando e que nos remete ao passado encoberto pelo véu do esquecimento.
    Não, querida amiga de tempos igualmente idos, a conclusão não é minha. O amigo Chico Xavier deixou milhares de ensinamentos registrados em seus livros psicografados durante sua existência aqui neste mundão velho de Meu Deus.
    É isso mesmo, é preciso enfrentar os medos e vencê-los. A partir daí eles passam a tomar novas feições de outros sentimentos e sensações como o alívio e, sobretudo, a coragem.
    Tudo na vida tem um significado, embora a gente nem sequer perceba. Todas as pessoas que fazem parte de nosso convívio, os amigos, os "inimigos", os cachorros e também os cavalos soltos nas estradas...
    Beijocas e abraços a pleno galope
    Márcia

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  8. Realmente Luciana essas fobias são inexplicáveis, eu por exemplo, fui criada no interior do Ceará vendo a minha mãe indo ao açude lavar nossa roupa, aquilo para meus irmãos e primos era uma farra, mas pra mim sempre foi assustador. No final todos tomavam banho, menos eu, sempre fiquei a beira do açude olhando todos brincando, pulando...depois fui morar em Fortaleza e me encantei com o mar, mas sempre aquele medo da água. Hoje entro no mar mas somente com Fernando e mergulhar nem pensar! Tive problema de hérnia de disco e na hidroterapia precisava ficar deitada na água, mas não tive coragem de fazer esse exercício pois o medo de afundar me paralisava. Enfim, é muito ruim qualquer tipo de fobia, pois não controlamos e essa falta de controle não tem nem social que dê jeito!

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