A chave do sucesso


Pobre do meu blog que anda tão desamparado. E com ele, os meus leitores, aqueles que me dão a graça do tempo dispensado e o prazer supremo dos comentários. Porque hoje em dia, com essa loucura toda, alguém parar para ler um texto da gente - e ainda se dar ao trabalho de comentar - é pura poesia.

Minha vida virou de ponta à cabeça. Parece que meu destino, além de pecar, é viver intensamente, nunca rendida a tal rotina por tempo demais. Entretanto sair da zona de conforto, mesmo quando ela não é lá tão confortável, dá certo trabalho e medo, não é verdade?

Porque o comodismo, sem muito esforço, cria raízes e frutifica sua sonolência. Há 16 anos eu fazia praticamente tudo igual no STJ. Não porque eu quisesse, imagina, mas porque a dinâmica no serviço público é, geralmente, uma não-dinâmica. Bem que eu tentei por todos esses longos invernos e primaveras sacudir a poeira e dar a volta por cima. Algumas vezes consegui fôlego extra, noutras, morri na praia.

Eis que de repente (e por obra do acaso, se é que existe este deus a nos encaminhar), vim parar no CNJ. Depois de quase uma vida sou obrigada a encarar de frente outras possibilidades. Fui tirada do estado de torpor. Digo fui tirada porque, na verdade, eu não esperava uma oportunidade destas. Aconteceu, que susto!

O novo despertar já começou no dia um, com a primeira lição: tudo tem dois lados. Não há bônus sem ônus. Poucos órgãos da Administração tem a infraestrutura do STJ. Abri mão da suntuosidade, da limpeza extrema, da elegância, dos jardins suspensos da Babilônia, do silêncio, do status de trabalhar em um ambiente imponente, a fim de me aventurar em um edifício velho, degradado, ao lado do barulho intenso de uma das avenidas mais movimentadas da capital, a W3.

Este é o retrato da coisa pública no Brasil: dicotômico. Enquanto havia serviçais limpando janelas e portas do STJ todo santo dia, as escolas e outras instituições públicas sofrem com a falta de zelo, de estrutura mínima para funcionar decentemente todo santo dia. E agora é esta a minha realidade: o CNJ não é um palácio. Não sou mais uma serva dos faraós, me refastelando com as rebarbas das benfeitorias.

Por outro lado, ganhei em juventude e liberdade. Não ter de bater ponto biométrico e passar pelo crivo do detector de metais e raio-X diários é um alívio. Uma leveza que só quem já viveu na prisão sabe. Eu tinha a noção de que aquilo me pesava de algum modo, mas não sabia o quanto era capaz de adoecer a alma este tipo de invasão - travestida de segurança e seriedade - a nos tratar como inimigos dia após dia.

Registradas e arquivadas as devidas comparações e diferenças (pra ficar apenas na parte mais visível delas), pretendo daqui para a frente começar do zero. Dar chance a mim mesma de não me apegar ou criar aversão a nada ou a ninguém, pois nem precisamos ser zenbudistas para saber que essa é a fonte de toda a complicação, de todo sofrimento. Ter a consciência clara de que estou aqui de passagem, no CNJ e na vida. E me esforçar para não elaborar expectativas que quase sempre levam à frustração. 

Meu caçula, um tenro sábio, vive a me ofertar, livre de taxas, a chave do sucesso: "mamãe, pára de brigar!". Quero crer que, enfim, meu Deus, estou pronta. Vamos lá!




Comentários

  1. Isso aí, Luzinha, abrace o novo e que vc tenha mais surpresas positivas que o contrário. É melhor mesmo qdo não criamos expectativas, pois o que vier é lucro né? rs

    Hoje apresentarei na escola aquele vídeo do Manoel de Barros, que vc me enviou, aquela pérola. Valeu muuito, depois te conto a repercussão dos meninos e expectadores em geral.

    Beijos!
    Patty

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  2. Quando nos abrimos de corpo e alma ao novo,quando esvaziamos a nossa xícara, criamos bastante espaço, para que infinitas possibilidades possam surgir...e é nesse espaço, que ganhamos a clareza para verdadeiramente fazermos nossas escolhas,a partir de um discernimento que vem do coração, aí é só se lançar, aproveitar o momento, mas sempre sem se envolver muito, o equilíbrio entre os pares de opostos...sucesso...tranquilidade e paz.
    Namastê!
    Cynthia

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  3. Lulu, minha querida, bom dia!

    Seu texto, como sempre, belo.
    Sobre ele só uma coisa tenho a lhe dizer, e é de um filósofo chamado Jorge A. Livrarga.. "Vivemos em um grande um grande teatro. Em um dia, estamos em uma cena, e de repente... Estamos em outra?", e segue dizendo "Então sejamos bons atores, e deixamos que a vida nos aplauda".

    Grande Semana, Lu!

    Reginaldo.

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