Nome de sucesso

Essa história me foi contada pelo agora ex-marido de uma amiga, há uns dez anos: Era uma vez um office boy que trabalhava numa agência publicitária de Brasília. A esposa dele estava grávida e ambos não sabiam que nome dar ao herdeiro.

Impressionado com aquele ambiente criativo, descolado, elegante e bem-sucedido da agência na qual trabalhava, o boy tomou coragem e pediu sugestões de nomes para os redatores e diretores de arte que lhe pareciam tão inteligentes e poderosos. “Mas eu quero um nome de sucesso”, advertiu, com ênfase, o futuro pai.

Rolaram diversos palpites, uma lista razoável de possibilidades. Os caras estavam felizes em poder contribuir para a escolha da alcunha da criança. Então, imaginem a surpresa dos publicitários da agência X quando o office boy, orgulhoso, apresentou a certidão de nascimento do filho: Ronicley. “Nossa, isso sim é um nome de sucesso!”, respondeu o ex da minha amiga.

Pois é, todo mundo tem uma história de nome de sucesso para contar. A impressionante mania do brasileiro de inventar antropônimos (olha aí uma aberração de palavra que significa nome de gente) coloca muito filho e filha de Deus em situações constrangedoras, engraçadas e até mesmo cruéis.

Tanto é que uma quantidade expressiva de pessoas consegue, na Justiça, a tão almejada troca da alcunha de batismo, para alívio e quase fim dos traumas. Eu conheço uma bela moça que se chamava Ananias. Pode uma coisa dessas? Uma menina com nome de menino? Quando se tornou adulta, mudou a certidão de nascimento. Rebatizou-se. Agora é Nana, de fato e de direito.

Esse lance de nome mexe mesmo com a cabeça da gente. Depois que tive meus dois filhos percebi a dificuldade, a responsabilidade que é nomear alguém. Chegar à decisão final em relação as duas escolhas foi muito complexo, e ainda fico um pouco aflita: e se o Rômulo preferisse ser Érico, como o pai queria? Pelo menos não pode reclamar que o nome seja escalafobético. Ufa! E tudo porque eu não queria algo trivial, in, vigente.

E por que não? Porque Luciana foi moda no início da década de 70, o que significa que cresci rodeada de xarás por todos os lados. Parecíamos produzidas em série! Chatice. Luciana Assunção, da Silva, Alvarenga, Luciana disso, daquilo. Uma Luciana entre as outras quatro da minha mesma turma do colégio, do balé, do inglês...

Quanto ao nome do meu filho mais velho, o problema é que insistem em chamá-lo de Thomas. Haja subserviência ao american way of life, meu povo! Tem H? Nãããão! É com Z? É Tomás, pronunciado e escrito no velho e bom Português, tá ligado? Aconteceu de gente me perguntar se Rômulo tinha dois eles. Peraí, é demais! Que necessidade de se diferenciar por meio do mau gosto, meu!

Por outro lado, na busca pela novidade e exclusividade, segue o ritual assustador de dar às crias “nomes de sucesso”. Bem batizou o casseta Hélio de La Peña um dos capítulos do seu livro de dicas para o pai de primeira viagem: “Xingando o seu bebê”.

Quando penso que poderia ter recebido um nome impronunciável, Luciana torna-se gratificante. Afinal, os clássicos são eternos e raramente constragem ou ofendem alguém.

Comentários

  1. Olha só que coincidência: Hoje à tarde na escola conheci uma linda menininha de cachinhos dourados, filha de uma auxiliar de serviços gerais. Perguntei o nome dela e a mãe respondeu: é Adonis! (ou era algo semelhante, não consigo lembrar ao certo, acho que bloqueei de pânico...rs. É algo pior que isso...) Adonis é da mitologia né, mas é bem parecido, juro! Iniciando com A e terminando com S, tipo a Ananias do texto!!! Uma linda menininha com um nome masculino e estranho como esse... só falei assim: oh, diferente... foi a palavra mais sutil que encontrei...rs. Coitada! Se eu lembrar do xingamento, digo, do nome certinho, posto aqui.

    Bjs
    Patty

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    Respostas
    1. Patty,

      seu comentário me lembrou o filme "O cheiro do ralo". Uma pequena obra-prima brasileira com o Selton Mello. Veja! Lá, a personagem dele fica a fim da garçonete do lugar que ele frequenta para comer. Só que a tal garçonete gostosona tem um nome desses impronunciávies, esquecíveis e confusos que a gente nunca guarda na primeira ouvida, sabe? E é muito engraçado o Selton Mello tentando lembrar do nome dela...

      Aqui no trabalho existe um estagiário chamado Wasny Thailon. Bem, eu tive que falar o nome dele para mim mesma umas 50 vezes. Só assim eu decorei! E hoje, quando eu chego eu saúdo: WASNY THAILON!!! Acho que eu preciso dizer para mim mesma: é verdade, eu não estou tendo um pesadelo. KKKK!!!

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    2. Ei, Luzinha, tive que voltar aqui prá falar... ouvindo pela segunda vez o temido nome da menininha linda de cachinhos dourados, como fiquei te devendo, digo agora: É ÁVILA, isso mesmo: Á-v-i-l-a. As poucas vezes em que escutei esse nome na minha vida, eram sempre se referindo a um homem: "O sr. Ávila se encontra?" "O doutor Ávila chegou". Concorda?
      Pelo amor de Deus, não há artigo penal prá um delito desses? rsrsrs.
      Bjs
      Patty

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