Abaixo as tábuas de passar!!!!

Quando a tarde é tranquila na vida de uma mãe, a gente estranha. Estava de bobeira, um dormindo, o outro no período integral da terça-feira (ô bênção), então me joguei no sofá para zapear os canais a cabo. O problema é que nada de interessante passa – também - na TV fechada às três da tarde.

No desespero, descobri que “Espelhos do Mal 2” tinha acabado de começar e fiquei ali tentando ver aquela porcaria. O original tinha grande apelo: Kiefer Sutherland. Gosto do jeito bruto Steve MacQueen dele. E a premissa do filme é até interessante (para quem gosta de suspenses como eu). Mas o que era aquilo... O samba do crioulo doido sangrento!!!!

Mas quando já estava desistindo, uma frase salvou os minutos perdidos com tamanho lixo: “Eu já disse que não quero tamanhos grandes. A Mayflower precisa passar a impressão de uma boutique. E boutique, você sabe, são skin and bones.” Achei divina. Em poucas linhas, um resumo do mundo anoréxico das mulheres contemporâneas.

Quem é da espécie sabe de cor sobre o que a personagem está falando. Outro dia eu experimentei dessa perversa armadilha que vem transformando as meninas em vítimas de torturas excruciantes para manter o peso ideal de graveto. Ganhei uma linda blusinha de aniversário de uma amigona. Ao experimentar, ela não serviu. Era tamanho M e eu sempre fui tamanho M. Primeiro sinal.

Apaixonei-me pela peça, mas não havia outra igual na boutique (minha amiga já havia me alertado). Então saí experimentando o estoque da loja. Nada me servia. De repente eu estava perdendo a noção do meu próprio corpo. Será que eu engordei tanto assim? Será que eu estou enorme? Será que eu sou uma jamanta? Camiseta após camiseta e o pânico se instalou. Preciso de uma dieta já.

Mas não é nada disso, não é verdade? A questão está invertida. As fábricas e boutiques é que estão fazendo roupass com medidas cada vez mais reduzidas. A ideia é transformar mulheres feitas em ninfas esquálidas pós-puberdade. Mas que fêmea parideira é capaz de manter o quadril de 13 anos? É artificial, sem contar que incentiva a pedofilia.

Nunca fui gorda. Nem sequer cheinha. Mas o manequim 40 passou a vestir garotas de 20 anos. E para as de 40, que tal experimentar o tamanho 44? Pele e ossos: o sadismo dos fashionistas, dos estilistas, das donas de boutique. Aposto que as próprias empresárias são incapazes de caber nas roupas que vendem. No máximo servem para as garotinhas sem volúpia que estão atrás do balcão. Já repararam que cada dia contratam vendedoras mais jovens e mais magras?

Os modelos estão chegando às lojas para corpos insípidos. Não cabem no quadril, porque o quadril não pode arredondar. Não cabem nas coxas porque elas precisam ser do tamanho das panturrilhas. Não cabem nos bustos porque eles precisam ser insignificantes como peitinhos de menina-moça. Depois reclamam da erotização da infância... Como não? Com esse padrão de beleza sem curvas, chapado?

E aí a gente presencia mulheres lindas como Demi Moore e Angelina Jolie desfilando seus cotovelos e joelhos cadavéricos de moleques. Negando a sensualidade feminina para adotar um visual cabide. Vivem de lutar contra a própria natureza do gênero e, inevitavelmente, perdem a batalha para o vício em vomitar, em passar fome, em tomar comprimidos e bebidas destrutivos.

Não sei exatamente quando a sociedade passou a admirar essas mulheres de corpos franzinos e inexpressivos. Terá sido nós mesmas quem criamos nosso próprio monstro? Ou foi uma ideia masculina para enfraquecer o poder da fêmea fatal? Pouco importa agora. Devemos é partir para o contra-ataque e desprezar, boicotar com fervor as lojas e grifes que querem destruir a autoestima de mulheres com tantas histórias bonitas para contar em cada curva da estrada.

Quem gosta de tábua de passar é ferro. Confiem em mim.

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