A impostora

Sentada entre o taxista e a cuidadora da creche. No mesmo banco vermelho da escola pública esperávamos nossa vez para ouvir a professora sobre os progressos de nossos filhos. A mãe da 303 sul divaga na preocupação: empregada doente, três dias de licença... O que eu vou fazer?

Mas olho para o meu lado e vejo aquela mulher modesta, curvada e envelhecida. Talvez uma empregada doméstica (ainda não sei que ela cuida dos bebês de outras mães numa creche de baixa renda). A espera ameaça ser longa, não custa puxar uma conversa. O taxista atende o celular e diz que vai levar um passageiro e aí eu fico sabendo que ele é taxista. Pergunto qual é o nome da filha dela, essas coisas. Ela reclama da demora, que precisa voltar para a creche, que cuida de 11 nenéns entre cinco meses e um ano.

- Onde você mora?
- Na Estrutural. Consegui me livrar do aluguel. Depois de 12 anos em Brasília, comprei uma casinha de uma mãe que eu conhecia da creche. Ela estava indo embora para Teresina. Paguei sete mil reais, é uma beleza. Grande, chão de cimento vermelho. Mas eu coloquei cerâmica na garagem. Ainda está toda nos tijolos, mas é minha.

Engasgo em pensamento. Sinto-me uma impostora, uma fingida, uma burguesa ridícula sentada num banco vermelho (cor significativa para quem se julga liberal, meio bolchevique, discurso de escola pública de qualidade). Uma daquelas que gritou em altos brados: essa invasão da Estrutural é um absurdo!!!! Uma palhaçada!!!! Roriz, seu ladrão!!!!!

Envergonho-me das minhas frivolidades e penso, ainda mais frívola: que bom que estou de calça jeans, cabelo preso, blusa velha. Mas mesmo assim percebo que ainda estou numa distância intransponível daquela mãe que agora se abre comigo. A filha dela estuda junto com o meu filho. A filha dela mora numa casa de tijolos na Estrutural e pega um ônibus lotado às seis da manhã para vir para a escola. A filha dela se chama Ruane. Nome de pobre, porque ela é pobre. Porque a pobreza é uma chaga purulenta que começa pelo nome.

A mãe de Ruane e Lorraine foi abandonada pelo marido, levou surra dele, que depois ajoelhou pedindo perdão. "Não merecia", ele disse. Não, não é novela das oito, literatura de cordel. É vida na lama, no lodo, no lixão da Estrutural. É a real de tantas mulheres nessa batalha diária pela dignidade. "Mas eu nem tenho mais amor por ele não. Arrumou filho com outra de 25."

- Mas ele lhe ajuda com alguma coisa para as meninas? 
- Não quero nada dele, nem pensão, nem nada. Tenho a minha casa e sou guerreira. Vendo Natura, Mary Kay e ainda fiz cartão para trabalhar de baby "siste" e garçonete. E me mostra a revistinha de cosmético na intenção de me vender qualquer coisa.

De novo aquela sensação de fingimento, de asco, de horror de mim mesma. A batalhadora e a patroa. A dondoca e a borralheira sentadas no banco vermelho da escola, que podia ser praça, pois é pública, espaço de nivelamento social que deveria ser total, mas é mínimo. Afinal, o meu ponto de partida para a vida já foi outro. Eu nunca estive onde ela está. 

Será que a Ruane, que senta ao lado do meu filho na sala de aula, viu a mãe apanhar do pai? Enquanto eu reformo o apartamento e cubro o meu banheiro com cerâmica Brennand, ela põe grade estreita nas janelas de casa: "quem faz o lugar é a gente mesmo, não é verdade? Eu não vou sair à noite para levar um tiro."

Enfim a gente entra na sala e a professora nos recebe com o ar derrotado. É problema demais para tentar resolver sendo apenas uma professora bem intencionada. "Eu tenho de dizer que é muito angustiante dar aula nessa turma. Uma parte dos alunos está bem, outra está muito atrás. São muitas faltas. E mostra o diário lotado de ausências. Fico chocada! Como os pais podem não saber que a escola é a única saída para o fim da miséria existencial?

A professora credita o número excessivo de faltas à promoção automática. "Os pais sabem que os filhos vão passar de qualquer jeito e não se importam se eles aprendem ou não. Se os pais querem uma escola pública de qualidade eles têm de fazer por onde".

Apoio a professora, parabenizo-la por ser rígida, por passar muitos deveres de casa, por cobrar disciplina e assiduidade. Ela chora comovida e eu fico sem graça. Serei a única mãe - exatamente aquela cujo filho tem todas as possibilidades - a lhe dar suporte? E aí fico ainda mais deslocada, desolada e triste. Casa grande e senzala nunca desaparecem do Brasil.

A escola pública taí, com professoras com gabarito e comprometimento, mas os pais não conseguem enxergar que estudo é a coisa mais valiosa que podem dar a seus pobres filhos pobres. "Tomás, não preciso dizer, é um menino excelente, disciplinado, inteligente, que está sempre lendo um livro". Eu sei, professora, sei de tudo isso. Eu vim nessa reunião só para me sentir a pior das criaturas. Só para ter uma aula de sociologia brasileira sem precisar ler nenhuma teoria.

Ressabiada, a mãe guerreira pergunta: e a Ruane? "A Ruane precisa de mais leitura, de fazer a pasta literária com mais frequência, precisa continuar no reforço escolar. Ela está vindo, né?" Será que a professora sabe que a mãe da Ruane chega em casa exausta de cuidar dos filhos dos outros? Que faz bico no fim de semana para garantir um vida básica para as filhas? Que dá uma escapada do emprego correndo o risco de levar bronca do patrão para acompanhar o desempenho escolar da menina? Como pedir para uma mãe nessa brutalidade cotidiana um tempo de qualidade para o lazer e a cultura? Que leitura quando é impossível ser? 

É evidente que a professora sabe de tudo isso, assim como eu sei que meu filho é nota dez. Ela está nessa lida há muito mais tempo do que eu. E ela não é uma impostora, e sim uma vocacionada. Alguém que tenta extrair a flor-de-lótus do pó e do lixo que chega na sala de aula todo bendito e maldito dia. E que tem momentos de desespero, como o de hoje, com seu choro desabafadamente contido.

Saio pelo portão da escola sem me entender. O que eu faço aqui? Por quê? O Brasil profundo é tão abissal e tão burro... Burro... Adjetivo ofensivo e pedante. Assusto-me ao escrevê-lo para definir toda essa situação paradoxal em que vivo, entre a babá e o taxista (que acabou não voltando para falar com a professora).

Comentários

  1. É... Luzinha, depois do seu texto, só duas coisas me vêm à mente. Todo espelho pede coragem de quem o mira, então parabéns pela auto-crítica. Mas tb nem se execre tanto assim. Aí vem a oração de São Francisco: me ajude a perceber onde posso fazer a diferença e vale à pena (pra vc literalmente) lutar, e onde devo aceitar os meus limites, pois a coisa é tão maior e abissal... que pede anos de esforços coerentes e bem intencionados de muita gente boa junto. Refletir sobre o tema e levar a sua perplexidade adiante é um começo. bj

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  2. Um dos melhores textos que voce ja escreveu!!! Ah adorei a foto de abertura do seu blog!!
    Sabia que voce pode fazer a diferenca na vida de alguem? Ha algo que voce pode fazer pela Ruane!! Voce pode convida-la para a sua casa e ajudar com o dever, ou fazer um doacao de livros..? Sentir a dor do outro eh o primeiro passo mais nao resolve nada se o sentimento nao eh acompanhado por action!!!

    Beijos e continue observando o mundo!

    Eve

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  3. Bom... Eu tenho o exemplo aqui em casa. A Madalena se acaba de trabalhar e levou mais de 3 anos para conseguir uma vaga na escola pública aqui do Plano para a filha dela.

    Ano passado, no Grupo de Sopa, eu inventei de fazer uma biblioteca. Depois, para incentivar a meninada, armei um concurso de leitura, divido por faixa etária e prometi um Notebook, com impressora e livros de introdução à informática para o vencedor.

    São 150 crianças. No começo todo mundo quis participar. Primeira constatação: os livros que leio para a Larissa (tipo da fada Polly) é o máximo que a galera que está no 5º ano consegue ler.

    Aquela coleção com O Escaravelho do Diabo, Memórias de um cabo de vassoura etc. está lá juntando teia de aranha. Muito avançado até mesmo para as crianças de 13 ou 14 anos.

    No final do ano, havia menos de 10 participantes no concurso. Cumpri a promessa e dei o Notebook ao vencedor. Fizemos uma arrecadação e conseguimos dar uma bicicleta para a segunda colocada e um laptop de brinquedo para o terceiro.

    Alguém ainda quer saber se este ano houve novo concurso? Claro que não. É pedir demais a quem mal tem o que comer.

    Por isso quando as pessoas dizem que a educação é a solução, eu fico me perguntando se é mesmo. Dá para educar quem tem necessidades tão mais básicas? Qual é a perspectiva de vida dos alunos das escolas públicas (exceção aos poucos que estão lá por opção)?

    Digamos que por um quase milagre um deles consiga entrar numa universidade pública. Ele tem dinheiro para fazer o curso? A gente sabe que não dá para fazer universidade dependendo de biblioteca. Internet é para quem tem computador e pode pagar pelo acesso. Fazer download não é para quem usa internet discada.

    Quem vai sustentar esta pessoa enquanto ela faz o curso em horários que não vão permitir que ela trabalhe?

    Eu não tenho a resposta para todas estas questões. Então, como a Eve, penso que o que podemos fazer é ajudar. Sempre. Por mais apertados de grana que estejamos, lembrarmos sempre que temos muito mais do que eles.

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  4. Uma reflexão profunda, que inevitavelmente surge em situações como essas,e que tem muito a nos acrescentar como seres humanos.Sentimentos tão desencontrados,surgem do nosso âmago... tristeza, indignação,uma forma de raiva refinada,um certo conforto interno ao perceber que as nossas necessidades são outras, num patamar superior, o que também traz junto um sentimento de culpa, que verdadeiramente não temos... a constatação, que as diferenças sociais existem,sempre existirão,é kármico, e partir delas , a motivação vinda através dos questionamentos é que nos apontam para um caminho...ajudar da maneira que nos for possível, servir, compartilhar o que temos, mas sem o sentimento de culpa, que deve ser substituido pela compreensão de que cada um esta no seu momento, cumprindo o seu Dharma(destino), compaixão,servidão,é o nosso Dharma, servir àqueles que "nessa" estão numa situação menos privilegiada ...só de ter a oportunidade de lidar com uma situação, que nos tira de nossa zona de conforto,já é um tremendo despertar...
    Beijo grande...paz profunda...continue assim,quem sente isso é a alma...sensibilize-se.Namastê!
    Cynthia

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  5. A Bruna fez o 2º e 0 3º maternais numa creche pública. Ela não gostava do ambiente, tadinha. E tinha razão, as professoras eram esquisitas, bravas e pouco maternais. Mas foi a maneira que eu arrumei para poder trabalhar, ela ficava de manhã à tarde. A escola era chamada de "Larzinho" (parece nome de fundação para menores abandonados, né? rs). Até que a coordenadora, que trabalhava lá e também numa ótima escola particular daqui e que oferece bolsas de estudo, me chamou e perguntou se a Bruna não poderia participar da seleção para a bolsa... topei na hora. E a Bruna entrou para a escola em que está até hoje. Essa coordenadora serviu de "olheira" nessa creche e escolheu a Bruna. Será que é por que a Bruna era uma das poucas crianças clarinhas e bonitinhas dali? Acho que teve a ver, né?

    Admirável a sua iniciativa dos meninos na escola pública. Sei que em Brasília funciona melhor e é um bom aprendizado para eles. Por aqui, não conheço filhos de professores de escola pública, como eu, que tenham filhos estudando em escola pública, são raros.

    Bjs
    Patty

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  6. Você enxerga e escuta os outros, Lu, e eu acredito que isso já faz uma grande diferença. Sei que é aterradora a noção da gravidade de certos problemas, e isso costuma me causar culpa social. Bem isso mesmo: como eu posso reclamar dos meus problemas sendo que essas tantas outras pessoas vivem "isso"? Bem, é sempre importante colocar as coisas em perspectiva, para não cairmos na tentação de acharmos que temos os maiores enroscos da humanidade - mas da mesma forma que não devemos supervalorizar, acho que também não devemos minimizar nada. Cada um tem os seus calos, os seus desafios. E é aí que entra a importância de todos tentarem se colocar no lugar do outro, num esforço para oferecer ajuda aos desafios alheios. Acho que é assim que conseguimos avançar nos nossos próprios dilemas. Acredito que o mundo só tem jeito se for assim: um ajudando o outro simultaneamente, seja lá de que forma. Gosto muito da sua sensibilidade e das suas reflexões. Beijos, Débora.

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  7. O blog tá 10. Amei a Gisele nele.
    E as fotos do cerrado.
    Parabéns.

    Davide

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  8. Já imaginou quantos divãs a céu aberto existem por aí?
    Vermelhors, cinzas, de madeira descascada.


    Pra aliviar, já deu uma olhada nisso: http://omelete.uol.com.br/cinema/rock-brasilia-critica/

    Vai encarar?
    Valdeir Jr.

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  9. É Luciana a gente é feliz e ainda se dá o luxo de reclamar de vez em quando...graças a Deus que temos saúde e um teto quentinho e cheio de amor... Beijos até amanha na casa da Marilena.

    Leila.

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  11. Galera comentarista,

    ação não me falta, é claro. Queria saber quem tem culhão para colocar o filho na escola pública podendo pagar escola particular para ele? Então, não me falta ação. A questão é muito mais complexa do que agir e "ajudar". É mudar mentalidade.
    É a velha máxima de não dar o peixe, mas ensinar a pescar...
    Então não adianta só fazer caridade. Os pobres do Brasil precisam aprender que só eles podem mudar o destino deles de forma realmente coerente. E o caminho é a escola sim!
    Não há outro. É lutar para que a escola pública melhore a cada dia. Só o ensino de qualidade para todos transforma as pessoas.
    E não adianta fazer biblioteca (eu também já fiz), doações de tempo e dinheiro e todas essas coisas que a gente faz para se sentir menos culpado pelas mazelas do mundo.
    Também não sei como fazer para que o pobre de hoje não seja o pobre de amanhã. Só sei que desse jeito que está não adianta nada. As crianças estão ali, com a escola na vida delas, mas elas não participam da escola como deveriam. O que fazer sobre isso?
    Não escrevi esse texto para me vangloriar ou me execrar. Escrevi para mostrar que o Brasil é isso ai. Isso que eu vejo acontecendo todos os dias quando deixo Tomás na Escola Classe 305 sul. E como mudar isso? Como mostrar para esses pais e essas crianças pobres que a escola é a única saída e que para isso eles precisam respeitá-la?
    Como fazer para o brasileiro respeitar o professor e o ensino? Como fazer para a TV parar de dar tanto espaço para modelos, atrizes e celebridades e dar espaço para quem realmente faz a diferença, quem produz, quem estuda e transforma a sociedade?
    São essas as questões, meus queridos. Muito além de sentir pena, fazer caridade ou colocar o filho em escola pública achando que está construindo um mundo melhor.

    Abraço,

    Lulupisces.

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  12. Luciana,

    eu gosto de um bom debate. Acho que só trocando idéias chegaremos algum dia a uma solução.

    Eu não tenho culhão de colocar filho em escola pública por dois motivos: quero a melhor educação para a minha filha e não estou disposta a arriscar o futuro dela "investindo" na escola pública; acho que os pobres já têm muito pouca oportunidade e portanto não acho justo ocupar uma vaga se eu posso pagar pela escola particular;

    Concordo que melhor que dar o peixe é ensinar a pescar. Temos vagas para voluntários no Grupo da Sopa.

    E apenas para deixar claro, não sou voluntária por que me sinto culpada pelas mazelas do mundo (ainda que eu também deva ser). Sou voluntária porque acredito que cada cidadão deve desempenhar o seu papel na busca de uma sociedade mais justa.

    Concordo totalmente com a sua conclusão sobre dar espaço para quem realmente faz a diferença, mas acredito também que não é porque a gente não consegue atacar as questão em nível macro, que devemos nos isentar do trabalho.

    E, apenas para deixar claro para os demais leitores que não me conhecem, não me considero uma pessoa que faz a sua parte. Dedico apenas uma parte muito pequena do meu tempo e do meu patrimônio às pessoas que precisam. Para ser ruim eu ainda teria que melhorar muito!

    Bejos,

    Lara

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  13. Eu nao acho que eh culhao colocar o filho em escola publica quando se pode colocar o filho na escola particular. Nao vejo action nessa situacao, vejo simplesmente uma escolha!

    Um homem estava assistindo televisao viu um programa que mostrava um monte de crianca com fome em uma aldeia. Ele se sentiu triste pelas criancas e ao mesmo tempo orgulhoso de si mesmo por sentir compaixao mais nao fez nada a respeito. O sentimento dele nao matou a fome de ninguem!

    Para deixar claro, nao estou sugerindo que as pessoas devem sair por ai ajudando todo mundo que precisa. Mais as vezes quando uma situacao te toca em especial, faca a diferenca por menor que seja - ofereca uma carona para a escola - ja eh um comeco!!!

    Eve

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  14. Lara e Eve,

    não sei porque vocês duas acharam que eu estava atacando vocês de forma pessoal. Não foi nenhum ataque pessoal. Inclusive houve alguns leitores que nem entenderam toda essa polêmica em cima do que não era para ser polêmica alguma.

    Acredito que vocês não entenderam o que eu quis dizer. O que eu quis dizer é que fazer caridade, apenas, não funciona. Não tira ninguém do buraco da pobreza. Nunca disse que a caridade não vale a pena. Só disse que ela, sozinha, não faz diferença quase nenhuma, pois não tira a pessoa da situação de marginalizado.

    Quanto à vaga na escola pública, Lara, isso é uma besteira sem tamanho. Não estou tirando vaga de ninguém. SOBRAM VAGAS NA ESCOLA PÚBLICA. SOBRAM!!! Se você conhecesse a realidade de perto, saberia que as professoras e diretoras vivem pedindo para a gente fazer propaganda, na época da matrícula, para que outros pais venham matricular seus filhos na escola pública.

    Eu faço caridade desde pequena. Muito antes de várias pessoas, pois minha madrinha foi uma alma de doação. Viveu a vida para ajudar os carentes. E eu ia com ela desde dos meus 3,4 anos nos orfanatos. Sempre fiz caridade e faço até hoje. Não sei de onde vocês tiraram a ideia de que eu não ajo. Ajo bastante, inclusive de dentro mesmo. Quando meu filho "riquinho" leva seu conhecimento do mundo e sua capacidade de agregar aos filhos pobres, ele também está fazendo caridade e voluntariado. É isso que eu estou ensinando para ele.

    E as professoras dele - todas - dizem que o Tomás é o menino mais humano e agregador que existe. Sempre preocupado com os outros, com quem está sendo deixado de lado pelo grupo. Essa informação, para mim, é a mais importante de todas. Ele está virando um cidadão de verdade. Nenhuma escola particular daria essa visão de mundo real para ele.

    E quanto ao conteúdo, não estou rifando o futuro do meu filho. Ele não deve nada aos alunos das escolas particulares. Está no mesmo nível dos coleguinhas da idade dele que estudam em ótimas e caras escolas de Brasília. Por quê? Porque os professoras da escola pública têm, geralmente, uma formação muito mais adequada. Não é fácil passar num concurso...

    Portanto não há polêmica. Há só constatação. Como já disse, eu escrevi o texto para mostrar que o Brasil ainda precisa evoluir muito em matéria de Educação. Que não adianta apenas criar vagas para todas as crianças na escola. É preciso MOSTRAR QUE A ESCOLA É IMPORTANTE. QUE SÓ ELA SALVA DA POBREZA. É preciso fazer campanhas para valorizar o professor, a escola, o estudo. É preciso colocar ônibus escolar para todas as crianças, sem distinção. O aprendizado é uma rede que envolve família, poder público e escola. Todas as pontas devem estar muito bem amarradas.

    Beijo,

    Lulupisces.

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  15. Minha querida Lú,

    Salomão disse que quando os justos governam, o povo se alegra, quando os injustos governam, o povo geme.
    Estou te enviando uma cópia de meu documento contra a injusta forma de desconsiderar um
    humanista com minha formação no Brasil. Sim, sou nordestino, negro,pobre, mas culto. E isso
    é, sim, vergonha para meu país. Porque aqui, seja onde seja, o que interessa é fazer parte da máquina corrupta e esmagadora dos direitos humanos.

    Sim, cumpri, durante 44 anos, a cartilha da busca do saber como forma de ser livre, responsável,socialmente, incluído e livre. Mas ao contrário de outros, estou excluído de meus direitos constitucionais porque um lobby
    se mantêm no poder em nome de uma falsa autonomia. Desmereçe a qualidade, assim como
    impede o acesso de todos nós à educação de qualidade.Bam, o tiro de misericórdia.

    Hoje eu pensei em te enviar esse documento e relutei comigo mesmo. Até que o universo te fez enviar o e-mail sobre a educação pública no Brasil. Agora seu amigo faz parte do grupo dos denunciantes. Enviei esse documento para câmera, senado e muitos lugares.
    A vergonhosa máquina estatal que sucatear as universidades, acabar com o ensino público, desmerecer os qualificados e nos sustentar com programas que não modificam o ser.
    Uma andorinha só não faz verão, mas 190 milhões pode transformar o tempo. Chega de descaso no que é primordial para um ser: sua própria formação.

    Bjus,

    Davide

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  16. Sendo nordestino, estudei toda minha vida em escola pública, paguei minha primeira faculdade sendo porteiro de escola, sofri todos os tipos de falta de apoio, abri mão de projetos pessoais, sem usar recursos de bolsas que poucos conseguem em nosso país. Tudo isso para realizar o sonho de ter meu curso de mestrado e doutorado. Deixei de acumular riquezas materiais. Mas posso assegurar-lhes que o maior bem que tenho é o de ser um homem que venceu sua negritude, o estigma de ser de um país pobre, de uma região pobre, de um país onde a exclusão se estabeleceu historicamente como paradigma e normalidade. Hoje, eu sou Davi dos Santos, Mestre em Filosofia pela Universidade Complutense de Madrid, professor com experiência no ensino médio, graduação e pós, desempregado graças a esse sistema injusto vigente em nosso país, não obstante estar apto para defender duas teses em universidades européias.

    O fato de eu ser mestre em filosofia e doutorando em filosofia e em ciências da religião na Europa em universidade de reconhecida excelência é no entendimento da representante que indeferiu a revalidação de meu título de mestrado, demérito e não honra. O que comprova que o sistema implantado em nosso país não é só para impedir o acesso de nós estudiosos de diferentes áreas a formação de mestre e doutor. Como àqueles que diante da falta de vagas em nossas universidades que se destinam com escassos recursos a outros países. Inclusive, os de primeiro mundo.

    A prova desta minha última colocação é que a Ufba, assim como outras instituições brasileiras, julgam de forma arbitrária e injusta processos que decide não só o presente e futuro de pessoas sérias como o denuciante. Enquanto isso, universidades como a Complutense de Madrid possuem um histórico de serviços a humanidade. Por esta razão, é um absurdo uma universidade brasileira se julgar em condições de desmerecer uma universidade de mais de 700(setecentos) anos de existência, já que avaliadora de meu aproveitamento presencial em um curso na Europa. Além de não respeitar o tempo estabelecido por lei, subtrair prova de meu processo, e colocar uma data que ainda não existe no tempo para o indeferimento.

    Analisem o recurso que escrevi mais adiante ao tempo que me coloco a disposição para disponibilizar a esta casa a documentação comprovando o que está escrito. De forma que os senhores possam ter atestado a que ponto chegou os abusos em um país de baixíssimo nível educacional. Que não tem mestres e doutores suficientes para atender a necessidade do país.

    Como podemos ser considerados um país inclusivo quando um brasileiro que venceu as limitações do nordeste brasileiro e que sendo mestre em filosofia e doutorando na Europa em universidades de reconhecida excelência ser tratado com tal desrespeito e descaso?

    Como podemos dizer ao mundo que somos um país que lutamos pelo fim do analfabetismo, avanço da pesquisa e extensão, quando nossa burocracia age de forma tão desumana e tão irresponsável?

    Como posso eu, licenciado em filosofia, bacharel em teologia, mestre em filosofia, doutorando em filosofia, doutorando em ciências da religião, me encontrar impedido de trabalhar em meu país diante de tanta necessidade e isso como conseqüência da injusta forma de revalidação impetrada não só contra títulos do MERCOSUL, como também está provado, contra universidades que fazem parte do ranking das melhores universidades do mundo?

    Davi dos Santos

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  17. Bem... De minha parte em nenhum momento eu achei que você estivesse me atacando. Nem tampouco ataquei ninguém. Temos formas diferentes de pensar. O fato de eu não colocar a minha filha na escola púlbica para não tirar a vaga de outros, não quer dizer que as outras pessoas tenham que fazer o mesmo.

    O fato de eu achar que a escola pública, por melhores que sejam os professores aqui do Plano, perde em qualidade, não significa que ninguém tenha que concordar (ainda que existam as estatísticas do vestibular).

    Se sobra vaga na escola do Tomás, há que se indagar onde está a falha. Porque eu sou testemunha da luta de muitas pessoas para conseguir vaga numa escola pública aqui do Plano. Exatamente porque esse bom nível de ensino que você diz haver aqui, não existe em muitas das satélites (estamos falando de Itapoã, Águas Lindas, não de Taguatinga, Guará etc).

    Eu quero que fique claro que o objetivo de debater a questão, é que eu ainda acredito que discutindo o tema a gente possa (não aqui no blog, claro) chegar a alternativas de solução. Valorizar o professor é essencial. Abrir vagas na escola pública para todos, idem. Conscientizar que só a escola salva da pobreza é perfeito. Mas, eu não acredito que nada disso vá ser efetivamente eficaz, se não houver uma forma de tirar esta gente da miséria. Não acho que a criança que está com fome e sem casaco, vá aprender alguma coisa. Certamente vocês concordam com isso.

    Então, como ajudar? Dando bolsa escola? Acho que não. Deve ser dada sim, como incentivo. Mas só isso não resolve.

    Lá na Comunhão, a gente fez cursos profissionalizantes. Só que ninguém contrata ninguém sem experiência. E aí?

    Eu sou favorável a um programa social em que o governo ao cadastrar a família, ao dar a bolsa escola, condicione isto a uma capacitação dos pais (dada também, óbvio). Que ao capacitar um trabalhador destes, o próprio governo reserve vagas para que estes trabalhadores recém capacitados tenham sua primeira oportunidade de emprego.

    E não é difícil fazer isso. Hoje, falta mão-de-obra em Brasília. Trabalho no MPDFT com contratos de manutenção e as empresas penam para conseguir eletricistas, bombeiros hidráulicos, pintores etc. Pedreiro? Tá mais fácil contratar engenheiro.

    Então eu creio que se o governo fizesse programas sérios de capacitação dos pais destas crianças, vinculando em suas licitações que um percentual das vagas da mão-de-obra tem que ser aproveitada dos que concluíram os cursos, aí sim a gente começa a falar em elevar a família.

    Aí sim, a gente pode começar a exigir destes pais o comprometimento deles com a educação dos filhos.

    Por fim, gostaria de parabenizá-la pelo texto. Pela primeira vez vejo uma participação tão grande aqui no blog.

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