Bestseller também é cultura

Às seis da manhã eu lia a última observação da morte em “A menina que roubava livros”. Os derradeiros momentos do livro foram cativantes. Derramei algumas lágrimas. Mas não foi assim sempre. Custei um pouco a me entregar à obra. Não acreditei no poder dela. Estava errada.

Precisei conferir a pequena biografia sobre o autor, Mark Kusak, para sacar que o cara sempre escreveu para crianças. Daí a clareza de expor a morte sem pudores: cruel e livre. E de retratar as crianças com precisão em diálogos nonsenses e sentimentos cristalinos que só são encontrados neste estágio da vida.

Recordo que postei um continho no blog do Vicente que falava da mensageira do além. Alguns comentários demonstraram o desgosto com tema tão sorumbático para o fim de semana. No entanto, “A menina que roubava livros” continua a capturar milhões de leitores mundo afora. Um livro que é a morte do início ao fim. Perdas, perdas e perdas. Interessante, não? Os bestsellers estão cada dia mais profundos e bem escritos, ou são os leitores que buscam, a cada dia, livros mais consistentes? Eis uma pergunta tostines que não quer calar.

Há algum tempo, apenas Sidney Sheldon, Irwing Wallace, Paulo Coelho e similares vendiam como água. Por isso dá alegria constatar que “A menina que roubava livros”, “O caçador de pipas”, “A distância entre nós” e outras histórias que merecem ser lidas estão realmente sendo lidas, batendo recordes de venda. E eu que era preconceituosa e fugia da lista dos mais vendidos, agora tenho que rever minha opinião: bestseller também é cultura.

Entretanto ainda me intriga pensar que um livro profundamente dilacerante tenha conquistado tantas almas. Deve ser a vocação do ser humano para o masoquismo. Eu não levei “A menina que roubava livros” para as férias na Alemanha justamente porque não queria borrar a visão do país com os dramas do holocausto. Agora fiquei impressionada por saber que andei em ruas nas quais bombas destruíram casas, cidades e pessoas. Que admirei paisagens amadas por judeus assassinados...

Levantei da cama ainda tomada por este assombro e saí no corredor. A luz estava acesa no quarto do meu filho mais velho. Cheguei à porta e encontrei o mais novo sentadinho à mesa, compenetrado em folhear um livro enquanto o pai digitava no laptop ao seu lado. O pequeno me olhou, sorriu e veio ao meu encontro. Ganhei o abraço mais reconfortante desta existência e das demais (ainda à procura da crença na reencarnação).

Rômulo me resgatou da dor daquele livro. Da angústia das minhas próprias perdas, como se soubesse que eu precisava exatamente daquele gesto. Um ano, dois meses e 25 dias de genuína elevação espiritual. Buda.

Comentários

  1. Não sei por que ficou na minha memória a última vez em que fomos à fazenda eu, vc e o Bernardo, aí vc brincou com ele: "Ahã, te peguei lendo bestseller, hein?" rs. Acho super válido também lê-los e, se assistimos aos filmes baseados nos bestsellers, por que não lermos os livros? Falando nisso, mandei uma dica de livro prá vc via e-mail. Além dessa dica que te mandei e que tem muito a ver com a próxima, é o livro: "A Coragem que Vem de Dentro". São narrativas de superação na vida bem interessantes. Gosto desse tema, pois os exemplos nos fortalecem.
    bjs
    Patty

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  2. Parabéns!! Muito bom nos proporcionar boa leitura, diversão e muitas curiosidades.

    Abraço,

    Priscilla Mattos

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  3. Bem... Estou fora do ar há dois dias...
    Um raio destruiu a comunicação via rádio do MPDFT e eu praticamente não acesso internet em casa.

    Já que você disse que não era para me censurar vou deixar meu comentário...

    Até tentei ler O Caçador de Pipas mas... fala sério... larguei na metade. A Menina que roubava livros eu não tentei. Mas li toda a coleção de Irwing Wallace, quase tudo do Sidney Sheldon e só larguei o Paulo Coelho no último. Ou seja, estou lendo mais que grande parte da população brasileira (risos)

    Livro para mim tem que prender. Não estou muito a fim de sofrimento. Leitura para mim é distração.

    Mas fico feliz de saber que estes autores citados estejam conseguindo entrar na lista de best-sellers. Só espero que seja porque estamos tendo mais leitores ávidos e não porque até os blockbusters deixaram de vender.

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