O misterioso sumiço de Bob

Se eu fosse uma escritora de verdade, tinha o prato cheio na mão. Se soubesse contar histórias encantadas para crianças, não poderia pedir um tema mais interessante. E a narrativa talvez começasse assim:

Numa cidade concreta, onde os museus parecem discos-voadores e o palácio dos reis escolhidos pelo povo (que monarquia confusa) é a letra H que tomou fermento, viviam dois irmãos: Sensato e Danado. Sensato era o mais velho e por ser mais velho era mais ajuizado. Será que já nasceu sabendo que era o primeiro?

E melhor nome não podia ter o menino que até avisava aos pais que tinha dever de casa quando os pais, distraídos, falavam para ele ir brincar:

- Mas eu tenho dever de casa!

Danado, ah, era danado. Sempre a tagarelar tudo sobre todos ou todos sobre tudo:

- Mamãe, você sabia que o Nemo mora numa Anemola.
- Agora eu vou me chamar Sensato. Tô achando o som de Danado muito chato.
- Eu não quero mais dormir de noite. Eu só gosto de dormir de dia.

E falava, e perguntava, e fuçava, e sorria. Um sorriso tão alegre e bonito que a gente se esquecia das danações dele.

- Ah, esse Danado é tão bonitinho!, dizia Sensato, que tinha muita sensatez com o irmão. Aquela paciência de elefante, de Jó, de irmão mais velho ciente de suas obrigações morais, cívicas e fraternais.

Um belo dia, Sensato e Danado foram viajar. Era aniversário do primo em outra cidade. Corre daqui, corre dacolá, arruma mala, pega brinquedo, pega presente, faz xixi, toma água, dá comida para os peixinhos, dá comida para o Bob, fecha as janelas, tranca a porta e... pé na estrada.

Um final de semana inteiro para brincar numa cidade que tem ruas de verdade e praças redondas como a Lua, mas sem museus que parecem discos-voadores. Sensato e Danado se divertiram a valer! Como é bom ter uma família com tanta gente diferente e maluca!

- Mamãe, eu não quero ir embora!

Choro pra lá e choro pra cá. Mas a confusão estava na hora de acabar! Sensato e Danado dormem profundamente e acordam, plim, de volta na cidade do H que tomou fermento.

- Nossa, a viagem foi rápida, mamãe!

Abre a porta de casa, acende a luz, malas no chão, oi para os peixes, oi para o Bob. Bob? Onde está Bob? Danado megadanado deixou a portinhola do abrigo do hamster aberta. Bob fugiu, Bob desapareceu. Procura-se Bob, mas Bob ficou invisível. Será que Bob foi abduzido pelo museu-disco-voador?

Passam-se os minutos, passam-se as horas, passam-se os dias. A casinha de Bob continua vazia, à espera de seu dono. Bob se perdeu dentro de casa, evaporou... Entrou pelo ralo? Mas não há ralo que caiba Bob bolota. Será Bob contorcionista ou ilusionista?

Espia-se dentro dos armários, no fundo dos sapatos, atrás das caixas, dentro do vaso. Bob, cadê você? Nada de Bob. Sensato chora. Sensato é sensível e leal. Danado não liga. Já está pensando na próxima travessura.

O mistério continua. Morreu de fome, Bob? Morreu de sede? A mãe de Sensato e Danado prefere acreditar que Bob foi levado pelos extraterrestres que se disfarçam de obras de arte naquele museu.

Comentários

  1. Estou duplamente chocada: Então Dumbo havia morrido? Eu nem sabia! E "Nosso Querido Bob" (é nome de filme!) sumiu no ar??? Tadimmmmm!!! Ih, acho que assim você vai ter que antecipar a chegada do "pulguento", hein? rs...

    Beijos

    Patty

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  2. Bob infiltrou-se na mochila de Danado e veio parar na cidade que tem ruas de verdade e praças redondas como a Lua. Assim como os meninos, Bob não quis ir embora. Bob agora vive em um dos parques da cidade que tem ruas de verdade e praças redondas como a Lua. Eu vi Bob.

    Valdeir Jr.

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  3. Ah que historinha bonitinha!!

    Quando eu era crianca tambem tinha um Bob e um dia nosso Bob escapou da gaiolinha. Meu pai ficou desesperando arrastando o sofa da sala, na cabeca dele Bob ia roer o sofa inteiro. Minha mae ja chorando antecipando o pior. Finalmente achamos o Bob estava metade vivo e metade morto entre o sofa e a parede. O nosso Bob chamava Malhadinha e ela nao resistiu :(
    Para o seu Bob prefiro dar um final mais feliz - Bob achou um cantinho na casa e de la nao sai mais.

    Evelyn

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