Iluminismo
O trajeto é o mesmo, rotina quase cegante para o belo. Mas quase não é totalmente, ainda bem, e ao sair do buraco da garagem, do lúgubre escuro do subsolo rumo à claridade, ela própria, com todo o seu esplendor natural, me jogou seu flash de encantamento: nossa, o céu de Brasília é realmente de embasbacar!
A foto não é do mesmo dia, mas exemplifica |
A cidade pode estar mais feia, maltratada, mais lotada, mais violenta, entretanto o céu de Brasília ainda não pertence apenas aos voos rasantes do helicóptero da Polícia Militar e nunca vai ser arranhado por algum edifício de mau gosto pós-contemporâneo. Graças à Unesco, estamos tombados. O Plano Piloto deitado eternamente em berço esplêndido de verde, espaço, luz, horizonte. (I hope so...)
Essa tonalidade verde-Brasília é qualidade de vida |
Morar dentro do Plano Piloto é um bálsamo. Quem vive aqui sabe. Basta uma caminhada besta para se deparar com florestas, gorjeios de sabiás. Isabel, habitante da Octogonal de passagem pela Asa Norte, se derrete: “Brasília é linda. Tenho adorado morar aqui nas quatrocentos, e, com tempo, redescobrir a cidade da minha infância e adolescência...Tantos caminhozinhos legais por entre árvores, jardins, pássaros... Somos privilegiados por ter uma cidade assim”.
Horizonte bíblico |
Somos mesmo, mas pena que muitos não percebem e seguem machucando Brasília com suas faixas horrendas, seus puxadinhos comerciais decrépitos, suas grades de portão e janelas cafonas, pichações (não grafitagens), estacionamentos irregulares e uma sorte de atentados violentos ao pudor brejeiro-modernista dessa cinquentona, que sofre os efeitos da idade.
Porque para estragar parece que todo mundo leva jeito, né? Embelezar já são outros 500 anos de caminhada para o Brasil aprender que o espaço público é para as pessoas. Que o urbanismo não é somente um modismo ou frescura da “academia”. Por isso, a gente se deslumbra quando visita o exterior. Simplesmente pelo fato de lá haver respeito às leis de urbanidade para as cidades, mantendo-as habitáveis e refrescantes.
Mas eu queria é falar do céu que me arrebatou naquele dia e estou perdendo meu foco. Pois bem, sai da garagem e fui socada no estômago por uma réstia de sol depois da tempestade. Ela pegava as prumadas dos prédios, lá em cima, quase saindo da arquitetura para cair no vácuo. Era uma luz perfeita, daquelas de fotografia de cinema que quer levar o Oscar. A Natureza se exibindo escancaradamente. Não sabia se dirigia ou abandonava o carro pela câmera.
Porque para estragar parece que todo mundo leva jeito, né? Embelezar já são outros 500 anos de caminhada para o Brasil aprender que o espaço público é para as pessoas. Que o urbanismo não é somente um modismo ou frescura da “academia”. Por isso, a gente se deslumbra quando visita o exterior. Simplesmente pelo fato de lá haver respeito às leis de urbanidade para as cidades, mantendo-as habitáveis e refrescantes.
Mas eu queria é falar do céu que me arrebatou naquele dia e estou perdendo meu foco. Pois bem, sai da garagem e fui socada no estômago por uma réstia de sol depois da tempestade. Ela pegava as prumadas dos prédios, lá em cima, quase saindo da arquitetura para cair no vácuo. Era uma luz perfeita, daquelas de fotografia de cinema que quer levar o Oscar. A Natureza se exibindo escancaradamente. Não sabia se dirigia ou abandonava o carro pela câmera.
Pausa para a contemplação |
Segui, correndo risco de provocar engavetamentos, pois não conseguia tirar meus olhos daquela luz inacreditável. O sinal fechou e me pus feliz (uma novidade nos centros paranóicos urbanos) de poder curtir por alguns segundos aquele espetáculo luminoso. E eis que reparo em um radiante arco-íris postado bem na frente do meu para-brisa. Não fazia curvinha como nos desenhos de criança, seguia impávido em linha reta, a sumir na nuvem.
Era o céu sem modéstia de Brasília: imenso, intenso, cantável, prosável e poetizável. E arrematando a experiência iluminadora, ao virar a cabeça para entrar no eixinho de cima, vejo a mesma trajetória da luz do sol encharcando os prédios do Banco Central e da Caixa Econômica Federal. Os gigantes de concreto embrulhados para presente. O pacote mais dourado e inesquecível que minha memória visual ganhou na vida.
Era o céu sem modéstia de Brasília: imenso, intenso, cantável, prosável e poetizável. E arrematando a experiência iluminadora, ao virar a cabeça para entrar no eixinho de cima, vejo a mesma trajetória da luz do sol encharcando os prédios do Banco Central e da Caixa Econômica Federal. Os gigantes de concreto embrulhados para presente. O pacote mais dourado e inesquecível que minha memória visual ganhou na vida.
Nossa, seu texto ficou lindo, poético mesmo, porque movido pela paixão. Você que já viajou tanto e que conheceu tantos lugares fantásticos, se encanta com seu quintal. Você não acostumou seu olhar, não passa batido e se encanta e encanta novamente, a cada nova pintura desse quadro magnífico que é o céu de Brasília. Isso é saber viver. Quantos saíram de casa naquele mesmo dia que você e seguiram cegos, fixados em seus pensamentos, ignorando o espetáculo gratuito bem ali, a sua frente?
ResponderExcluirFeliz de quem já presenciou, ao menos por um dia, a visão do céu de Brasília ao acordar... coincidentemente, hoje estava tentando "explicá-lo" para alguém, através de uma imagem pela televisão... mas não dá, palavras são limitantes... ah, é azul, tão azul, super azul clarinho! Muitas vezes sem nenhuma nuvem!... o céu vai "até o chão" (rs!), porque não tem morros, montanhas, nada para atrapalhar sua visão... e a luminosidade? Você tem que apertar os olhos até se acostumar! Só vivenciando.
Imagine o estrangeiro chegando aqui, vindo de seu país cinza, claustrofóbico, frio e triste, se deparando com um visual assim, extremamente amplo, luminoso e por isso tão alto astral? Acho que ele fica por aqui não? rs... gente, façam como a nossa autora e aproveitem a festa mais democrática do planeta!
Beijos,
Patty
Esse final do comentário da Patty me lembra meu quase primo indiano-canadense chegando aqui, filmando tudo, e eu só o escutava dizendo "ooohhhh", "uau..." E, por sinal, as fotografias que ele tirou também ficaram belíssimas, arrebatadoras, parecia outra cidade, e era a nossa mesma cidade, apenas vista com um olhar muito amoroso, como esse da Lu.
ResponderExcluirBeijos candangos.
Ééééeéé... Brasília é isso mesmo, essa pausa, esse intervalo grávido de horizonte. Quando vou pra outras cidades lá pelas tantas começa a me dar uma agonia, uma vontade de ter nada na frente pra olhar. E os arco-íris daqui (como se faz o plural dessa palavra?) são mesmo singulares: há os que não terminam e buscam o infinito, os bonitinhos feito desenho de criança, os que se enamoram e se amontoam em grandiosas trepadas pelo céu... enfim, Brasília é o quintal mesmo. Foi onde eu plantei meu pé de flor.
ResponderExcluirbjim
Isa