Viagem ao centro do âmago (redundante em homenagem à Vera)

Oi, gentes!!

Ainda estou aqui, à procura do chocolate perfeito. Mas como ninguém parece ter se comovido com o relato sincero de uma viciada convicta (não recebi nenhum convite irrecusável para um chá com bolo), acho que vai sobrar para mim mesma me presentear com um chocolatinho “humilde” da Stans.

Mas falando em humildade, fim de ano é época de a gente ler nas revistas e jornais as indefectíveis matérias-dia-da-marmota. Para os não iniciados em jornalismo, sugiro conferir “O Feitiço do Tempo”. Em poucos filmes a gente tem a noção exata do que é ter de repetir dia após dia, ano após ano, as mesmices jornalísticas da vida. O longa é uma joia rara com a deliciosa e talentosa presença de Bill Murray. Vejam, revejam, reflitam.

Mas voltando ao assunto de novo (caramba, hoje eu tô que tô fazendo cera), essas tais matérias de fim de ano tipo: “Faça uma ceia de Natal dos sonhos!”, “Surpreenda quem você ama com um presente inesquecível” e “Os melhores looks para não passar o Natal em branco, ou para passar o Réveillon em branco” (ei, gostei desse último título, não roubem!!! Registro aqui o direito autoral!!!) são sacais demais, meu povo! Coitados dos coleguinhas que são obrigados a ficar reinventando a manivela todos os dezembros. Não é feitiço, é maldição.

OK, entretanto o que tem isso a ver com a tal humildade que eu estava citando lá em cima? Pois é, o que mais me irrita, além da obviedade dos temas abordados nessas peças jornalísticas, é a falta de sanidade existente nas ideias nada humildes de quem as escreve. As redações das revistas e jornais devem combinar, em bloco, como publicar o luxo vazio, sem dó nem piedade. É tanto ingrediente caro nas receitas que não dá para não ficar gostoso, né? Mas como fazer e não dever?

Na mesma linha seguem os trajes para as festas. Com uma blusinha Bob Store (R$ 549); short Mary Zaide (R$ 265); sandália Ávida (R$ 149); brinco (R$ 209) e pulseira (R$ 259), ambos da Bárbara Strauss; anel (R$ 746) e colar (R$1.100), ambos do Fabrizio Giannon, você arrasa na noite e também na sua conta bancária por meses a fio.

Trem capcioso esse tal de jornalismo que na página três publica: “Como não ver o seu 13º escoar pelo ralo”. E na página cinco, um show de sugestões de consumo opulentas. Num texto te pedem para poupar; no outro, para extrapolar. Ah, qual é, deixa de ser chatinha Luciana!! É Natal!!

Então o que acontece é que o espírito Vera Fischer baixa em cada editor de redação Brasil afora, e todos saem em coro a reproduzir o pensamento "ímpar" dessa loura que, no caso, é burrinha mesmo: “Meus personagens nunca são pobres, são sempre ricos porque eu não sei escrever pra gente pobre. Eu detesto. O universo dos ricos é mais interessante. Cada livro meu tem uma viagem ao exterior”.

Nesses momentos de total perplexidade, almejo ardentemente por um milagre natalino capaz de levar coleguinhas - e demais seres humanos desprovidos de desconfiômetro - a uma viagem, com passagem de valor inestimável, ao interior de si mesmos.

Comentários

  1. Oi Luzinha,

    Também, não tenho paciência para essas matérias de sempre, de fim de ano... a mesma mesmice, as mesmas pergutinhas básicas aos consumidores natalinos, as mesmas respostinhas básicas dos consumidores natalinos, as risadinhas dispensáveis dos apresentadores de telejornal ao final da matéria, para no minuto seguinte franzirem a testa fazendo cara sisuda ao falar das tragédias provocadas pelas chuvas de Dezembro... isso é uma epécie de bipolaridade jornalística? Haja feitiço do tempo!

    Beijos,

    Patty

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