Espírito que sopra fundo

Tanta coisa boa que a música traz para mim... Sempre ela, acontecendo na minha vida, me rodeando. Flerte eterno. Só me faltava mesmo tocar um instrumento. Mas aí já não seria perene namoro, e, sim, vocação.

Mas quem sabe em outra encarnação eu volte violoncelo? É possível reencarnar em objetos inanimados? É justo chamar de inanimado um objeto que exala música? Não vou começar um debate espírita, não é o caso, mas vou falar de um espírito indômito: Engels Espíritos.

Calhou do cara ser primo da minha amigazona Ceci. E por causa disso, estava lá eu no show de gravação do primeiro DVD da banda dele. Para quem não conhece, Engels é gaiteiro hors concours. Uma figura conhecida no meio cultural brasiliense. Já havia ouvido seus assovios melodiosos na rádio Cultura FM, mas nessa terça foi minha estreia frente a frente com o músico em carne e osso. Um encontro real com o espírito que anda, melhor, que sopra como se possuído fosse por encantamentos celtas, indígenas e jazzísticos.

Engels delira na gaita, instrumento pouco óbvio para quem quer seguir na música, ainda mais para um menino de família goiana chucra. Emocionado que nem guri, ele confessa à plateia vip (só para convidados) que nunca se adequou e enquanto seus amigos e primos queriam ser advogados, engenheiros e médicos, ele sonhava em ser super-herói. Conseguiu! É o Fantasma, o espírito que levita pelo palco. É Batman, carregando seu cinto com mil e uma gaitas.

Achei muito gratificante estar ali, vendo o sonho de outra pessoa se tornar realidade. Sendo parte fundamental da concretização do desejo do artista: alcançar a massa, ser aplaudido com veracidade e reconhecido em seu talento.

Curti de montão a engrenagem da gravação de um DVD: “Câmera, rodando, ação!" Engels Espíritos infla e desinfla as bochechas de forma sobrehumana e arranca uma locomotiva da gaita. Daqui a pouco: “Errei, vamos lá de novo!” . Os cinegrafistas correm para lá e para cá e captam cada ângulo do performático gaiteiro-cantor e de seus companheiros de delírio.

É o momento maior na vida de um artista. Ele se supera, excede. O DVD é seu presente de Natal. A gaita gemendo, doendo, expurgando, secretando blues, forró, pop e heavy rock... O metrônomo marca a entrada da banda a cada take. Todas as faces da gaita desfilavam em notas perfeitas, para deleite dos convidados afetivos e penetras, como eu. Mas longe de me sentir deslocada, retribui sintonizada. Palmas, uivos e sentimento, na certeza de que é essa a química que um músico mais espera de seu público.

Comentários

  1. Depois de ler seu texto procurei por alguns vídeos no youtube.
    O cara manda mesmo bem.
    "For the love of God", "El Fuego" e, principalmente "Voodoo Child" quase te fazem entrar em transe.

    Para quem quiser conferir: http://www.youtube.com/watch?v=L6tc1fv-65w&feature=related

    Copie e cole na barra de endereços.
    E aumente o som.

    Bem bom.

    Valdeir Jr - 16.12.2010

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  2. Nossa, fui atrás e bicho é bom mesmo... Valeu Lu, valeu Valdeir Jr!!
    Isa

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