“Depuration”

...So take my hands and come with me
We will change reality
So take my hands and we will pray
They won't take you away... 
( trecho de Animal Instinct)

Sempre no tema música, pois sem ela a vida, bem, não seria... Eu estava lá, um alfinete a mais na caixinha lotada de alfinetes coloridos que conferiram o show do The Cranberries. Não sei se eles subestimaram o número de fãs e curiosos ou se não ligaram mesmo para o fato de que reservar metade do ginásio Nilson Nelson, sem direito à arquibancada, transformaria as tais pista e pista premium num forno apertado.

Suei em baldes e mal pude me mover, o que para mim significa pular freneticamente e alucinadamente desconjuntando pernas, braços e cabeça. Tive que ficar ali me comportando, que coisa! Aliás, tinha uma menina na minha frente que parecia um muro de contenção de entusiasmo. A mulher não se movia. Como é que pôde assistir à Dolores cantar “Linger”, “Salvation” e “Ode to my family” sem esboçar a mínima?

Mas eu não me intimidei. Me sacolejei no meu microespaço e gritei horrores. Não palavras de ordem como “volta pelada”, “gostosa”, “linda”, que ouvi várias vezes sair da boca das garotas. Não sabia que a Dolores era uma musa das lésbicas. É? Havia dezenas de casais femininos por lá. Todos muito à vontade em beijos, abraços e amassos. Antes que me chamem de preconceituosa, só estou relatando um fato que, para a minha geração (cruzes), seria impensável. Por isso me surpreendi um pouco, mas não achei ruim, combinado, patrulha pela diversidade sexual!!

A Dolores estava mesmo uma gracinha. Se tivesse tesão por mulheres mignons branquíssimas, em curtíssimos vestidos brilhantes pretos, teria surtado. Talvez meu marido tenha fantasiado qualquer coisa, pois é bem o tipo dele (o que me faz perguntar: como é que ele se casou comigo?). Um coturno compunha o visual da líder da banda, assim como aquele cabelo joãozinho que me deu saudades. Saí de lá com uma vontade de passar a máquina nessa minha cabeleira maria-madalena-sem-arrependimentos.

O show não foi arrasador. Mas foi honesto. Ela é ela mesma, com sua voz entre a súplica e a revolta. Um tom único que, apesar de esganiçado, não é irritante. Dolores foi muito simpática e parecia estar se divertindo como a gente. A apresentação atrasou uma hora, um ponto a menos para a noite. Porém, ela se redimiu ao intuir que era preciso atacar de frente os bocejos dessa mãe esgotada em dia de semana. Cantou minha música preferida, “Animal Instinct”, logo de cara, number três na playlist.

Aí eu acordei! Embalada pela gororoba líquida do cranberrie ice (sei lá o que era essa mistura suicida de álcool e groselha), parti para a depuração definitiva de tudo o que não vale a pena na existência. Uma mulher no limiar dos “enta” delirando em plena terça-feira à noite. E o mais legal: eu não era a única!

Por hoje é só, pessoal!

Comentários

  1. E nesse momento abre-se um portal para os tempos de faculdade... Lu, aqui é a Débora, do Jornalismo da UnB... Da nossa convivência, tive o prazer de receber de presente um livro do Mário Quintana (que amamos!) com uma linda dedicatória sua. Tenho até hoje. E folheio até hoje. Encontrei por acaso com o Bernardo na academia, que me deu o link de seu blog. Depois de 15 anos em Fortaleza, estou de volta a Brasília. Vamos nos reencontrar? Meu e-mail: deboracmp@hotmail.com
    Um beijão

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  2. Querida Debs!!!!

    Pois é, o Bernardo me disse que te viu lá na academia. Obrigada por entrar no meu blog. E que bom que segue lendo Mário Quintana. Eu sei que te dei o livro e continuo superfã dele, é claro.

    Vamos sair sim, é só me dizer quando. Vou te enviar uma mensagem e continue por aqui, tá?

    Saudades,

    Lulupisces

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