Bivitelinas

Pôr do sol no rio Douro
Fiquei totalmente apaixonada por Coimbra. Porto, com suas casinhas encarapitadas umas nas outras parece desafiar a lei da gravidade, pronta para mergulhar no Douro. Coimbra, por sua vez, olha o rio Mondego sem pretender uma íntima aproximação, altaneira. Porto é boêmia, juventude de algazarra. Coimbra é intelectual, juventude politizada e contestadora a grafitar nas paredes: “Facismo nunca mais”; “greve geral em 25 de abril”; “Portugal precisa de você...longe daqui”.

Espero que tal marcação territorial não seja direcionada para os milhares de turistas do mundo inteiro que desembarcam no país. Mas não era não. Não senti por parte dos portugueses nenhuma hostilidade. Eles são mais sérios do que nós. Só isso.

Passear pela Universidade de Coimbra é sentir pulsar no cérebro mais de 700 anos de conhecimento. Quantos milhares de alunos e professores pisaram as mesmas pedras, miraram o mesmo delicado horizonte lá de cima, ensinaram e aprenderam teorias que foram rechaçadas ou comprovadas ao longo do tempo?

A noite, com a lua pela metade, cobre os ombros de Coimbra. Eu, da janela do hotel que viveu de glórias passadas, contemplo as águas do Mondego a sassaricar rumo ao tão esperado embate com o oceano. Gostaria de ter uma desculpa qualquer para viver nessa lusa cidade íngrime. O cartaz oferece um mestrado em Criminologia. Hum, parece uma boa ideia para a menina que sempre curtiu história policial.

Universidade de Coimbra - Faculdade de Direito
Bela escolha não planejada esse Astoria. Um três estrelas com janelas para uma constelação, um céu todo para mim. E segue a inevitável comparação entre Porto e Coimbra, similares em tamanho, topografia e história. Irmãs gêmeas, mas bivitelinas.

Vista panorâmica de Porto
Porto ferve. A decadência romântica convida gajos e raparigas a um eterno passeio hedonista pelas margens do Douro. Porto é verão com sua leveza e frivolidade. Coimbra combina mais com o outono, pois confabula nos becos medievais. Há discursos políticos espreitando na próxima escadaria. A branca elegância da cidade incita a gente a procurar respostas internas.

Não é à toa que Coimbra é a cidade xodó dos portugueses. Um povo cuja melancolia é decantada em versos e fados, ganhando sempre as notas mais altas.

Comentários

  1. É bom que aquelas mensagens não sejam para afugentar turistas. Depois de ler seu texto a vontade que dá é reservar já as passagens e embarcar para a terra dos patrícios.
    Anedota: em Porto, um vinho do Porto é apenas vinho?

    Beijos.
    Parabés pelo Blog.

    Valdeir Jr

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  2. Realmente, depois de suas palavras e fotos,dá uma vontade imensa de conhecer tudo, e talvez, até ficar por lá apreciando e absorvendo toda essa cultura. Beijos.Parabéns pelo Blog. Suelene
    21 de outubro 2010.

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  3. Prefiro, sempre, eternamente, o Porto. Coimbra para mim sempre foi uma grande república com casas desarrumadas, cheia de estudantes - apesar do belo mondego. mas, então, só por causa disso, é bom dizer que não há rio mais dramático que o douro.

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  4. É verdade, Ribondi. Dramático é o adjetivo perfeito para o pôr-do-sol no Douro, um rio com tantos afogados a nos assombrar e maravilhar...

    Obrigada pelo comentário,

    Lulupisces.

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