Vísceras







Uma das coisas que eu curtia na Rádio Verde Oliva era ouvir o hino nacional às oito em ponto, no trajeto para o trabalho.

O hino é uma coisa linda; a bandeira, outra perfeição do espalhafato (e isso não é uma crítica, pois sou do quanto mais colorido, mais legal).

Mas a Bolsonaroland me tirou a alegria de admirar esses símbolos da nossa brasilidade. Se distraída estou sintonizada na estação e começam os acordes patrióticos, mudo de frequência na velocidade da luz.

Desenvolvi tipo assim um estresse pós-traumático, eu acho. Igual ao que tenho em relação aos atentados às Torres Gêmeas. Atuei como figurante naquele filme-catástrofe real e vivenciei suas consequências imediatas: depressão coletiva, acirramento dos extremismos.

Não é diferente agora. “Essas pessoas na sala de jantar ocupadas APENAS em nascer e morrer” se esmeraram em eleger canalhas, patifes e estúpidos de toda ordem. Bolsonaro, Joice H., Alexandre Frota, Witzel, Ibaneis, Flávio, Carlos e Eduardo (três patetas sórdidos de uma família abjeta). Sem falar em Damares, Weintraub, Olavo e outras aberrações.

Tenho aversão a qualquer opinião de viva-voz emitida por eles. Troco o canal. Rola uma negação, um embrulho no estômago, uma vontade de estapear as pessoas que votaram nesses dementadores. 

Prefiro ler as notícias. No escrito, ter ciência das imbecilidades que eles propagam me dá menos efeitos colaterais imediatos. Vê-los gesticulando, proferindo preconceitos, barbaridades e ignorância a plenos pulmões me provoca ânsia de vômito e a reação não é metafórica. Desgosto visceral. 

Mas creio que é um bom sinal ter alergia aguda à mediocridade. Melhor ser uma idiota útil - que ama Artes e Literatura e reverencia a escola e os verdadeiros mestres que teve - do que ser uma torpe inútil e obtusa.

Porque a inutilidade só é admissível num belo poema de Manoel de Barros.



Comentários

  1. Também prefiro ler , quando consigo e não é todo dia.

    Renata Assumpção

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  2. Há algum tempo ando também traumatizada com os símbolos nacionais que sempre achei bonitos. Sei que a bandeira nacional e o hino não são exclusivos dessa turma, não podemos deixá-los se apropriarem. O Brasil é muito mais diverso do que eles defendem, tô fora dessa lógica dessa onda nacionalista-messiânica deles.

    Débora Cronemberger

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  3. caramba, me identifico com cada letra, cada vírgula.

    Marina Oliveira

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  4. Tenho o mesmo sentimento, Lu.

    Juliana Cruz

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  5. Tem razão, estou desse jeito com esse governo. Mas essas pessoas apenas foram acrescidas a minha extensa lista, que conta com Lula, Dilma, Gleise e outros também abjetos.

    Ana Claudia Loyola

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  6. Essa semana pensei que estava passando por um processo parecido com o que acontece em Laranja Mecânica e descrevi exatamente assim: aversão visceral.
    É grave, mas será crônico? Se for, @#$&.

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