Quarta Dimensão





Ainda que sofra com a zoeira do marido, do primo-irmão e de outros seres racionais e descrentes do planeta, sigo me divertindo com as coincidências que a vida me dá de presente. Porque as recebo como bons presságios. 

A Lei de Murphy é impiedosa, verdade, mas prefiro contabilizar as conexões telúricas, essas, sim, um bálsamo para refrescar a rotina. Jato de água termal geladinha nas bochechas vermelhas. 

Perigo é encontrar sincronismos felizes em tudo, compreendo. Virar uma espécie de Pollyana, logo ela, nunca dentre minhas personagens favoritas da literatura infanto-juvenil. Mas creio que não corro esse risco, dada a natureza nebulosa da alma que me habita.

E essa alma escaldada, cansada e insone é parada dura. Ela não se regala leve por qualquer casualidade que se apresente faceira não. Tem de ter densidade e raridade, que nem a que me apareceu ontem sobre a cama.

Minha sogra avisa pelo zap que pegou um exemplar de “As Desventuras de uma mulher que levou um susto e sobreviveu” - para sortear entre o grupo de amigas dela - e que também deixara uma ‘lembrancinha’ para mim lá em casa. Oba!

Quando entro no quarto, visualizo um saquinho de veludo azul-marinho, desses que guardam preciosidades, junto de um bilhete com a letra deitada inconfundível de dona Paula: 

Luciana, já usei bastante, mas não sabia para quem deixar. Aí veio a capa do seu livro… Coincidência?
Paula

Não pude me furtar de pensar na evolução saudável de nossa relação ao longo dessa complexa intersecção sogra-nora-avó. Duas mulheres de personalidade forte e de línguas pontiagudas. No início, eram as trevas. A mãe do namorado, sempre brava e soberba, não demonstrava absolutamente nenhum apreço pela eleita do filho, uma doidivanas que não ia à missa e vinha de família anárquica.

Abri o saco colocado gentilmente sobre o meu travesseiro e surge um pingente antigo com um peixinho fossilizado idêntico aos que fotografei no sertão do Cariri/CE e que agora estampam a capa do meu primeiro livro de crônicas. Coincidência?, instiga a sogra. Conexão telúrica, se comove a espantada nora. 

O universo conspira ao nosso favor, de acordo com as teorias do mago Paulo Coelho, ou Deus não joga dados com ele, segundo as teses quânticas de Einstein? Incapaz de responder à questão filosófica tão galáctica, buraco negro a nos dragar para a quarta dimensão, finalizo também com ele, o pai da Teoria da Relatividade:

“Se Deus criou o mundo, sua principal preocupação certamente não era facilitar o entendimento para nós”.





Comentários

  1. Aiii que carinho dessa sogra!❤eu e minha sogra somos enamoradas! É uma das mulheres mais incríveis que conheço.Somos mt diferentes e aprendemos mt uma com a outra

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  2. Muito legal!

    Lúcia Andreya

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  3. Que barato!

    Márcia Romão

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