Flechada






Não tem comparação. Mar é mar, Brasília é Brasília. E como ela, o conceito de superquadra é único no mundo e extremamente civilizado. Assim respondi à editora de “As Desventuras de uma mulher que levou um susto e sobreviveu”, ao me dizer, pela décima vez, que detestava a cidade. 




Birra tola de recifense que vive no Rio e, de antemão, não consegue ver as qualidades candangas porque o Rio deixou de ser a capital da república. 

Não sou uma defensora cega saramaguiana da minha terra-natal, mas caminhar pelas superquadras é passear por um grande parque urbano arborizado e florido. Poucos lugares no planeta oferecem esse tipo de fruição natural em harmonia com a selva de pedra.




Vir à Brasília e não conhecer as superquadras por dentro é não conhecer Brasília. Muito se fala do céu do planalto central, porém quase nada se divulga do prazer ímpar de transitar pelas áreas residenciais das 300,100, 200 e 400, que contam com calçadas e ciclovias sombreadas e idílicas.

Insisti na tese e consegui fazer com ela viesse comigo pelas calçadas da 106 a 303 sul.

Karla ficou boquiaberta com as árvores e estancou de frente para uma espatódea em flor. ‘Que árvore maravilhosa!”



“Lá está a igreja da crônica ‘Felicidades’ que você adorou, Karla!” E assim fui apontando uma coisa bacana aqui e ali, como a biblioteca pública infantil alojada na entrequadra 304/104 sul.

Sentamos num dos inúmeros banquinhos da área verde da minha quadra e a editora pode observar a criançada solta, brincando na folia. “Há quantos anos não via uma cena assim”, derreteu-se.

Pois é, isso ainda é o Plano Piloto. E isso é boniteza. 





Para coroar o olhar menos endurecido da mulher sobre Brasília, duas gurias se aproximaram vendendo pacotinhos de guloseimas. Moradoras da quadra, se explicaram:

 - A gente quer comprar um livro cada uma, mas como são caros para os nossos pais, decidimos juntar o dinheiro.



Parecia que havia contratado as meninas só para deixar Karla mais desarmada. Ela sacou da bolsa um cartãozinho da Confraria do Vento e pediu que as garotas escolhessem uma das obras infanto-juvenis da editora, que seria prontamente enviada para o endereço delas. 

A dupla saiu pulando de contente e a carioca por opção teve de dar o braço a torcer: Brasília não mais será apenas uma esquisitice arquitetônica de números e letras naquele coração flechado. 






Comentários

  1. Amo Brasília. Esse prazer de andar pelas ruas despreocupadamente não pode ser aplicado ao Rio e a Recife. Por lás, é apreensão. A gente olha o bonito rodeado por militares de fuzil ao redor da Lagoa Rodrigo de Freitas. Ou olha o bonito ao lado da infraestrutura precária do Recife antigo. Por cá, temos nossas lamúrias. Mas estão mais suaves por enquanto.

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  2. A gente nunca se arrepende de ir além da primeira impressão!

    Juliana Neto

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  3. Quanta história rendeu o lançamento desde filho, né! Imagino que você ainda deve estar prenha (como dizemos no PI) de outros relatos.

    Rodrigo Chaves

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  4. É sobre ir além...desbravar! Breve irei desbravar Brasília😉

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  5. É preciso aprimorar a percepção Lu. "Não é a visão que se altera, mas o modo como se vê as coisas."Saudades da minha quadra linda!!!

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  6. Amei! Me senti caminhando pelas superquadras.

    Hermínia

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