Pintou um clima


para Cynthia, que me pediu um texto sobre o tema







(...)"Cale a boca

E não cale na boca

Notícia ruim" 


Não pretendia falar sobre ela até a década de 50. A minha década de 50. Para alguém que queria viver a década de 30 em dobro, o 5.0 num corpinho de 1.0 já tá bem ali. Fui surpreendida me chateando com a velocidade do tempo. Alguém anotou a placa do modelo que me atropelou? 

Nunca pensei que iria me importar com o tal processo de envelhecimento. Mas a história que a gente projeta quase sempre não é a história que a gente sente. E cá estou a me lamentar pelo início do climatério sem aviso prévio, sem autorização. Apenas chegou, embolado com as desgastantes emoções dos últimos dois anos. 

Mudar de casa, de país e de cultura cobrou seu preço. Pode não haver base científica alguma no que vou dizer: porém acredito que a pré-menopausa está sendo uma consequência do estresse envolvido nessa aventura incrível, todavia, insana em sua demanda psicológica e física. 

E agora é se acostumar com a realidade de que, sim, o corpo envelhece e também a mente. Não ao mesmo tempo, espero. Entretanto, venho apresentando umas convicções de cérebro rabugento, tipo: para quê preciso fazer cursos on-line para me sentir jovem e engajada? Ou ainda: detesto conviver com a geração millenium, autocentrada, superficial e individualista. 

Terrível esses julgamentos todos que me assolam e me mostram o quanto estou longe de ser tão contemporânea assim. Embora nem sejam essas tolices as sensações que mais me afligem ultimamente. Grave mesmo é quando o seu cabelo decide romper contigo! Ele passou a ser uma unidade autônoma, ainda que indivisível de mim. Nenhum xampu é páreo para tanta independência! Testei dos mais chiques aos mais vagabundos e as madeixas seguem espevitadas como espigas no milharal. 

Cremes para pentear, hidratantes, óleos de abacate, argan, ojon, macadâmia, amaranto, buriti, coco, alecrim, rícino (se server para laxar o intestino por que não os cabelos?). Bem-aventurada a indústria de cosméticos, lucrando cornucópias com as neuras femininas de toda ordem! As rosáceas? Vão bem, obrigada! Ensaiam um retorno triunfante nesse momento de baixa nas trincheiras. A insônia, então, alcança níveis recordes de audiência.

Me meti a ler os tais sintomas do climatério, palavra feia, rima com cemitério. Túmulo dos anos de juventude nos quais corríamos o risco de engravidar num vacilo qualquer. Aquele frio na espinha quando a menstruação atrasava. Hoje, ela vem e some quando bem entende e você descobre que aquela barriguinha ovo de avestruz, bem abaixo do umbigo, não vai desaparecer com abdominais. Só mesmo no dia M da menopausa.

Porque foi algo que aprendi nessas leituras: é equivocado afirmar “estou na menopausa”. No meu caso, entrei no climatério, que pode durar vários anos até uma bela manhã, a última em que farei uso de um absorvente feminino na vida, a não ser, claro, como palmilha de sapato. Economia, minha gente! O problema é sair do sempre livre para cair nas fraldas geriátricas. Ô! 

E o que dizer do tal fogacho? Caraca, é um porre! Calorenta sempre fui. Atualmente, trabalho numa espécie de estufa com vidros pra todo lado. Venho de camiseta, saia, vestido de alça (sem mais me importar com os músculos do tchau), mas alivia não. De repente, nonada, um maçarico invisível toma conta do seu rosto. E você sua aos borbotões na frente do seu chefe (que ama a andragogia , mas tá longe da andropausa) discutindo coisas in-crí-veis como o novo aplicativo da Google para a Educação a distância... 

Meu nariz, que se comportava como o de um canídeo, virou uma cachoeira e o ar-condicionado para dormir agora é todo dia. Será que as maduras no hemisfério norte sofrem menos com as ondas de calor? Naquele frio todo, uma tocha pra aquecer a qualquer momento do dia ou da noite pode vir a calhar!

O marido, atordoado com as transformações diárias da esposa, constata: “é, você deve estar mesmo na menopausa”. Stop. Proibido falar essa palavra dentro dessa casa! Tadinho... Não sabe o quanto é sensível para uma mulher, ainda em estado de choque, admitir verdade tão pungente. 

"Como pode querer que a mulher vá viver sem mentir?” 


*participação especial de Caetano Veloso




Comentários

  1. Muito bom Lu sua reflexão...e tem que se ter humor, muito bom humor, e muita yoga pra transitar nesta fase, mas o consolo conforme te disse,pois tenho experiência nesta área, é que VAI PASSAR😁😁😁😁😘🌷🙏

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  2. Muito legal! Divertido, hilário!
    Leva de boa como sempre...
    Curta tudo!

    David Doss

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  3. Acabei de ler seu texto. Sabe, esse mês desceu duas vezes para mim. Estranho não acha? Acabei de entrar na década dos 40. Então não sei... Pode ser stress!!! Gostei do tema e da sua sinceridade.

    Evelyn Ross

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  4. Amiga amada, eu sei que eu não sou politicamente correta, mas acho envelhecer uma joça. A mente, o espírito, as emoções, legal, eles amadurecem, mas o corpo, cacete, ele realmente oxida kkk. Eu certamente não estava preparada pra essa decadência... E agora que eu consegui ficar feliz com meus 40, estou prestes a entrar nos 50. E nem entrei no climatério ainda, Jesus! Terror puro!

    Marisa Reis

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  5. Não precisa tanto! Estou com 73 e meu médico continua a dizer que a suadeira que sempre sinto ainda é a bendita.....dá para acreditar????!

    Socorro Melo

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  6. Não sou blogueira, mas tenho algumas dicas para cuidados com as madeixas: caso use tintura recomendo a da marca Lanza (é mais cara, mas é excelente a impressão é que ao pintar está fazendo hidratação). Outra dica fazer uma hidratação com vinagre de maçã, busca no YouTube tem tutoriais, faz milagres. Também gosto dos produtos da Lola Cosméticos, são de excelente qualidade, você encontra na Drogasil/Droga Raia...e por fim me apaixonei por um shampoo que experimentei há menos de 1 mês, não vale rir �� o Tio Nacho, estava com muita queda de cabelo, reduziu 90% e como comprei o de camomila ganhei até mechas loiras, de verdade o tal shampoo do Tio Nacho cumpre o que promete, recomendo. Espero ter ajudado!

    Anna Luiza Lima

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  7. Adorei seu texto!
    Ainda não entrei no climatério,mas deve estar bem próximo(pânico rsrs).
    Quanto a amenorreia,não me importo,acho um alívio,pois já e fato há dois anos por conta de alguns cistos uterinos e ovarianos.
    Mas só de pensar nos malditos fogachos,insônia,irritabilidade...já sofro com antecedência.
    Mas,creio que nós não deveremos fazer as tais reposições hormonais,portanto,sofreremos mais um pouquinho...



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  8. É, Lu, não é fácil. Eu fiquei nessa loucura de calor, frio por 5 anos. Hoje, com meus 62 e a minha temperatura equilibrada sem reposição. Já consigo dormir com edredom. O triste é se olhar no espelho e perceber que está virando um maracujá de gaveta. A pele não é mais a mesma, e temos obrigação de nos aceitar pra não entrar em parafuso com a transformação do corpo. Ficamos mais sensíveis e esperamos que todos ao nosso redor nos entenda...

    Leila Brandão

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  9. Há 15 anos faço reposição hormonal e minha vida melhorou em todos os aspectos. Até minha ansiedade diminuiu.

    Márcia Holanda

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  10. Luzinha, não quero te desanimar, mas os 40 são bem melhores que os 50. Ainda não entendi esse negócio de melhor idade, será que você se acostuma com tanto crec, croc? Rrsrs...
    Foca na mente, por que se essa envelhecer, aí estamos perdidas!

    Renata Assumpção Queiroz

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  11. Nunca pensei que fosse dizer isso, mas queria ser que nem o governo Temer: voltar 20 anos em dois! :)

    Marcya Reis

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  12. Quando você se der conta da beleza que se agrega à mulher com a maturidade, esquecerá desse clima que pintou com o climatério.

    Walton

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  13. Se eu mostrar pra minha mãe corre o risco de parecer uma ofensa?

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  14. Comecei a ter quedas de pressão, algumas ondas de calor inexplicáveis, mas como sempre fui calorenta não dei muita atenção. Na época tinha uns 44 ou 45 anos e era cedo pra isso. Cedo pra quem tem seus níveis de ferro e ferritina em ordem, o que não é o meu caso. A menstruação, sempre um relógio digital, começou a enlouquecer. Os fios de cabelo, então raríssimos, começaram a despontar aqui, ali e acolá, sem pedir permissão. Era ela, a danada, a pré-menopausa! Aguentei a chatice cerca de 1 ano. Cortei logo essa história. Na visita anual ao médico, fiz os exames necessários e passei a fazer reposição hormonal. Minha vida mudou! Como é bom não menstruar! É libertador! O remédio é carinho mas vale cada centavo e não me arrependo da decisão. Comecei a fazer RH há uns 4 ou 5 anos e estou bem. De maneira alguma estou sugerindo que você faça o mesmo. Cada uma tem que achar o que mais lhe convém, no seu tempo. Agora assisto à chegada da menstruação à minha afilhada de 12 anos. E assim vamos nós.

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  15. Não me fale, palavra horrorosa, fase horrorosa, tudo horroroso, já saí do climatério, a única coisa boa é não sofrer com cólicas, nossa como sofri......agora tomo umas pilulinhas e bola pra frente. Bjs e bem vinda.... rsrsrs
    Igualzinha à você, recebi a noticia como uma paulada na cabeça, qdo estava me recuperando psicologicamente da noticia veio uma osteopenia....kkkkkkk.....isso pq estava fazendo caminhada, academia, funcional e balé...mas apesar disso continuo a vida sem maiores sintomas...

    Marina Caldana

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  16. Envelhecer faz parte do ciclo da vida!!! e posso afirmar que me sinto privilegiada ... chegar aos 65 anos com mt alegria!!! saúde dentro da normalidade senil..rsrsrs

    Ambrosina

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  17. É verdade !!!Envelhecer com alegria é ser sabia! De nada adianta ficar se lamuriando pelos cantos e viva nós Rsrsrsrs! !

    Terezina Militão

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  18. É gente, me divertir lendo os depoimentos de casa uma.
    Eu tbm me preocupo com as "perdas" das capacidades do corpo e da mente, tenho medo de ficar débil, senil, dependente...
    E cada vez que me olho no espelho, vejo minhas sombrancelhas de aproximarem dos cílios...
    É como se fios invisíveis puxassem de forma implacável, seu rosto para baixo, kkk.
    Evito dar muita importância a essas mudanças físicas e preocupo mais com minha saúde, invisto na minha alegria e encantamento pela vida. Pequenas e grandes coisas que fazemos para nos alegrar e sou grata pela vida que me é dada...
    E vamos em frente, sem contar muito os anos e matando um leão de cada vez...
    Cada uma de nós, sabemos onde aperta o nosso calo...

    Marilena

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  19. Amei! Vi na Oprah uma médica falando sobre menopausa.... Me preocupei.... Rachel Welch contava o que havia sido pra ela passar por todas as transformações....Eu tinha uns 30 anos.... comecei a me preparar para o tempo fatal.... fato é que quando ela chegou me pegou tão desprevenida.... meus sintomas nada tinham a ver com tudo que li... ou seja, estamos iniciando uma jornada... temos poucas informações....mas podemos ler textos nos contando experiências de pessoas reais como nós.... assim vamos construindo um novo lugar para nós... mulheres de 50 anos! Obrigada Lu!

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