Memes do Ego

Zapeando pelo FB nas primeiras horas da manhã, faço a panorâmica da vastidão dos sentimentos. Passeio num grande mural psicológico e comportamental. Pessoas à procura de identidade, solidariedade, irmanação, prestação de serviço... Rostos em busca de conexões mágicas, de aprovação, reconhecimento, alento. 

Que me desculpem os feios, mas o FB é fundamental no que ele tem de mais emocionante: humanidade. Do sem gosto ao lirismo, tá tudo ali. A espécie em sua transparente imperfeição. Recados, declarações de amor, broncas, ironias finas e estúpidas, obviedades e clarividências. Tudo posto. Tudo exposto. 

Mas hoje uns posts me deram choques n’alma. Não, nada sobre o golpe de 64. Sou uma mulher de “desacontecimentos” (roubei da jornalista Eliane Brum). Uma amiga aqui, outra em Fortaleza desabafando sobre a dureza do existir fluida apesar da concretude (ou decrepitude?) do status quo.

A vida pede pra gente ser forte todo dia e a gente fraquejando em borboletas, versos e azul do céu. Quem tem uma inquietação interior muito forte será sempre inadaptado crônico à rotina e às pequenezas do mundão. Eu tenho 43 anos e ainda penso em ser dândi ou beatnik. Não é fácil ser assim, porém mais delicado!

Porque essa engrenagem faz dos diáfanos um caldo de cana diário. Entendo a dor dessas gurias artísticas por também ser alguém que habita esse lugar onírico. Sou da turma à caça da brisa, do aroma do chocolate... Aquela que não poupa tempo pensando: já não se fazem mais roupas com casinhas de abelha! 

Visto a carapuça dessa costureira dos moldes de seda, dos pensamentos tortos. A andarilha dos caminhos de Santiago. A substituta de Adélia Prado que – talvez não tarde - vai sentar à direita de Deuspaitodopoderoso.#semagouroporfavor! 

Fica assim não, bichinha!! Ser artista no Brasil é foda!!!!! Torço por você, pois minha alma é de circo, é de palco, é de instrumento... Cê ainda vai brilhar muito, viu?

Querem que os delicados sucumbam à pressão da eficiência, dos modelos da microeconomia. Só que tem uma coisa: quanto mais a gente é imprensado contra a parede, mais pensa em virar aborígene. Seguir “o rastro dos cantos”, a flauta mágica ou os girassóis da Rússia (se é que o Putin não mandou arrancar todos). É tão reconfortante pensar que tem gente que larga tudo pra vender artesanato na praia. Ciente estou de que é possível abandonar o plano do impossível para a realidade de uma trajetória extracurricular. 

Ansiava por essa bravura. Será que ainda dá tempo ou vai ficar pra próxima encarnação? Ou serei da estirpe de Clarice Lispector, Van Gogh e demais artistas incompreendidos - e pobres - em sua época e tão reconhecidos nas gerações posteriores? Eita, mulher, aí você já foi longe demais. Perdeu a compostura. KKKK! 

Pelo menos meus filhos, ou melhor, meus netos (quero ter uma longa descendência a louvar meu egocentrismo artístico) serão abonados. Meu blog será uma descoberta literária tardia, antes que nunca. E minhas frases e textos serão postados no FB ou Twitter do próximo milênio; apropriados indevidamente por outras autoras populares, como de praxe. 

Não importa, pois não terei delirado grande em vão. Minhas delicadezas mentais: legado. Memes a ecoar – histéricos - pela eternidade. Diva é pouco! Hehehe...