A princesa da Pérsia

As datas redondas encantam a humanidade. Incitam o imaginário e o misticismo. A gente sente no ar a presença de um campo magnético diferente. Os amantes da Física Quântica de botequim adoram esses dias. Meu marido, que ama a Física Quântica de verdade, ri de tudo com escárnio. Besteira cristalina, diz. 

Realidade ou ficção, a verdade é que centenas de cesarianas são marcadas para datas combinadas Brasil afora. Momentos de meditação coletiva e profecias de fim de mundo também gostam de dias rimados. Rômulo escolheu nascer em 27/07/2007. Resultado: fiquei presa no congestionamento da maternidade... Mais de cinco horas até conseguir subir para o quarto, pois dezenas de mamães marcaram aquela sexta de setes para retirar seus filhotes da barriga de forma pré-agendada. 

Mas o apelo combinatório dos números, enigmáticos números, é quase irresistível. Acho que vou apostar na mega Sena da virada hoje: 12/12/12. Doze é o dia do aniversário do meu marido. Que é o inverso de 21, meu aniversário. Olha aí a conexão telúrica-quântica comprovando que os opostos se atraem. “E quem irá dizer que não existe razão nas coisas feitas pelo coração?” 

E Ravi Shankar, o mestre da citara, morreu ontem, mas a notícia só foi divulgada hoje, enriquecendo a aura mística do cara que foi uma lenda viva, uma entidade indiana. Um deus Veda, Brahma, Krishna. Iniciou The Beatles nos sons do Oriente e ensinou George Harrison a tocar o instrumento. E o próprio Ravi toca na gloriosa canção Norwegian Wood, umas das minhas favoritas dos besouros.

Sei lá por que isso mexeu comigo logo cedo. A chave para a ligação esotérica que tenho com o lado de lá do mundo deve estar nas palavras do pai da minha amiga Lara, um senhor versado nas entrelinhas espirituais. Anos atrás ele me disse que demorei muito para reencarnar nessa Luciana que vocês conhecem. Antes disso, estava viva na região arábica, por volta do ano 700 dc.

A revelação me marcou. Senti que poderia mesmo conter a elucidação para o meu estar à vontade com tudo o que diz respeito ao universo entre os rios Tigre e Eufrates. Tirando a burca extremista, obviamente. Explicado meu amor pelos aromas, cores, joias, tecidos, maquiagens, rituais e sons indianos, árabes e afins.

Devo ter vivido o pão pita que o deserto amassou, comendo tâmaras e castanhas, além de quibes, kaftas e coalhadas secas, pois jejuar não está entre os meus mandamentos. Compreendido porque o yoga entrou em mim como o pingo no i. Entretanto não consigo escrever yoga com i, apesar da metáfora ter se apresentado assim, como uma ironia. 

Se eu não for à Índia ainda nesta vida, vou ficar penando com o meu OM fantasma tatuado na omoplata. Só não sei como chegar lá sem ter de purgar meus pecados em mil horas dentro do avião. Será que ainda encontro o tapete mágico que eu tinha quando era princesa da Pérsia? 

Temas do post:

http://www.youtube.com/watch?v=Jj2k7yEnZGU

http://www.youtube.com/watch?v=PxxGVjLNpek

Informação extra:

http://oglobo.globo.com/blogs/pagenotfound/posts/2012/12/12/menino-nasceu-12-minutos-para-as-12h-comemora-12-anos-em-12-12-12-478646.asp