Sucesso é sorte (Sidney Sheldon afirmou e eu assino embaixo)


Depois não digam que eu não tentei. Eu dei a cara à tapa. Nunca me faltou coragem de saltar no escuro (tudo bem, tenho medo de águas turvas, mas até em lago de caverna sem ver o fundo já nadei). Eu vim disposta e com o coração aberto. Cheguei com o objetivo de não cometer os mesmos equívocos. De não tomar o elevador lotado com os problemas dos outros. De construir outra história que me deixasse em paz com a minha trajetória profissional. 

Mas tudo ficou com dantes no quartel de Abrantes. E aí eu deduzo: o problema podia ser metade meu, claro, mas é também da área. A Comunicação sucks! As pessoas são doentias, egocêntricas e perdidas. Não é lugar para principiantes ou para idealistas. É lugar para antropófagos. E eu não curto muito carne, que dirá, humana. 


Os chefes atuais dizem que meus textos são muito longos e autorais. Ou seja: eu tenho conteúdo e estilo. Isso não pode ser mesmo boa coisa nesse mundo frívolo de 140 caracteres. Eles não gostam do que eu escrevo. Eles querem que eu esquematize minhas ideias em tópicos. Bolinhas, bolinhas, bolinhas, 1,2,3. E eu quero que eles... Completem como quiser. 

Agora estou contando os segundos para entrar nas férias e no novo ano. Pausa para conseguir engolir meu orgulho, acalmar as entranhas, relevar e perdoar aos arrogantes porque eles não sabem o que fazem. Não sabem que a diversidade é alma de toda comunicação eficiente. E que num site, jornal e revista cabem textos dos mais variados tipos e densidades. Que há leitores de frases e há leitores de teses. Mais o mais importante: que eles não valem uma gota da minha bílis. 

Quando nasci veio um anjo safado de verdade, gente! Acho que ele me rogou uma praga ao invés de uma bênção. Agora estou sendo queimada por saber escrever. Por essa eu não podia nem sequer imaginar! Que cosa triste... E eu fico aqui misturando letra de música e jingle de campanha só para rememorar o que o chefe disse: “esse começo aqui está muito Polishop”. Polishop? Cheguei ao fundo do poço profissional. Nunca meus textos foram tratados com tanto desrespeito. Desisto. 

Quando voltar para o meu órgão de origem (que lindo o jargão da Administração), abandonarei, para sempre, a minha profissão. Vou, enfim, preencher as fichas de forma correta. Ocupação: servidora pública. Nada de levantar bandeira e fazer questão de escrever jornalista e publicitária. Isso eu pensei ser algum dia, lá atrás. Pretensiosa, otária. Chego aos 41 anos sem alcançar nenhuma evolução técnica. A impressão é de que eu saí da UnB na semana passada e estou por aí batendo cabeça à procura de ser levada a sério. Caralho, cansei!

Ainda bem que eu tenho amigos. Ainda bem que eu tenho o yoga. Ainda bem que tenho família. Oportunidades diárias de reconhecer que o universo é perfeito apesar do rol de chefes resident evil que tive nessa vida. Não sobrou um para multiplicar, somar e dividir. Só rolou subtração. Alguns vão dizer: que exagero! Rebato: é azar. 

Comentários

  1. Voce nao esta desistindo ne Luciana?
    Sabe, eu acho que voce teve o azar de pegar esse chefe, acho que voces dois nao se conectam e que ele nunca vai gostar dos seus textos, nao porque eles sao ruims mas porque voces sao diferentes!!!
    Escrever nao eh facil e aceitar rejeicao numa boa eh mais dificil ainda. Tem que ser corajosa, tem que meter a cara a tapas, levar o tapa e depois sorrir e agradecer!!! haja amor proprio!!!

    Beijinhos e boas ferias!!!
    Eve

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    Respostas
    1. É mesmo, querida Eve, haja amor próprio!

      Eu desisto é de tentar entender esse povo. Não desisto de escrever porque eu gosto de escrever.

      Ser feliz no trabalho parece uma utopia. Algo que nunca se atinge mesmo.

      Obrigada pela força!!

      Beijão,

      Lulupisces.

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  2. Lu querida, a sua escrita é de outras esferas, não tenha expectativas dentro do serviço público, no que tange ao reconhecimento daquilo que é verdadeiramente bom, se não, você viverá eternamente frustrada...A sua preparação que é naturalmente seu dom, seu talento, não encontra nesse trabalho a oportunidade, por isso,você diz , azar!se assim fosse , seria sorte e não azar, pois sorte é quando a preparação encontra a oportunidade, uma sintonia, de energia, mesma fala, você amiga é uma escritora..."ele" não consegue decifrá-la,lembra construimos o nosso alicerce para o Infinito, olha que radiância, é muita luz pra toda essa escuridão...
    bj.Namaste!
    Cynthia

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    1. Amada superteacher,

      quanto carinho nas suas palavras. Eu realmente preciso parar de criar expectativas. O serviço público, por sua natureza, é limitador e limitante. Não posso querer a luz do sol onde só tem luz de lanterna, né?

      Obrigada por vocês lerem e ainda comentarem meus desabafos. Tenho certeza de que se não fosse esse espaço de convivência e troca de ideias, eu estaria muito embrutecida pelas "sacanagens" da vida.

      Um megabluster abraço,

      Lulupisces.

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  3. Luzinha, cê vai poder voltar pro antigo? Bom, se ao menos lá seus textos são bem aceitos, isso já se torna uma vantagem, né? Mas vc precisou sair prá saber disso. Que bom q tem essa possibilidade. Trocar o "ruim" pelo "pior ainda" e sem poder voltar atrás é claustrofóbico. Credo! Imagino ou nem imagino vc tendo que auto censurar-se na hora de escrever, podar sua criatividade nata, "emburrecer" seus textos, enxugá-los, enquadrá-los. Isso não dá certo! Tá me lembrando a época mesmo da censura: "Ó, escreve isso aí diferente, viu? Tira essa palavra aqui, muda essa expressão ali! Assim eles não te pegam"...

    Bjs
    Patty

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