Então é Natal!! Fazer o quê?





A campanha publicitária de uma rede de farmácias diz: “Quem dera fosse Natal o ano inteiro”, ou algo parecido. Do volante do meu carro (o item mais importante do automóvel, segundo o especialista Rômulo), li a mensagem no grande cartaz afixado no ponto de ônibus. Um calafrio percorreu minha espinha: Cruzes! Natal o ano inteiro???? Quem poderia suportar ofuscante sensação? 

Acho que a publicidade vai surtir efeito contrário do esperado. Se eu, que adoro Natal, me senti apavorada, imagina aquela turma que dá bode no fim do ano, fica deprê, essas coisas? Natal só é bom exatamente porque é único, indivisível, pontual. Uma overdose de sentimentos e gastos. Uma orgia do prazer sensorial, por mais que tentemos, sempre, relembrar que 25 de dezembro pede oração e elevação do espírito. 

A gente cheira perfume, sabonete, panetones; a gente olha com gula as vitrines exuberantes e a decoração natalina das casas e prédios alheios (nem sempre de bom gosto, mas inevitavelmente chamativas). Tocamos nos tecidos das roupas que sonhamos em vestir, causar efeito e boa impressão. Ouvimos cantatas dos filhos na apresentação final da escola e outras musiquinhas bem intencionadas de amor fraterno e felicidade, ou seja: nossos cinco sentidos passam o mês assoberbados de experiências. 

Energia sobre-humana é dissipada na árdua tarefa de não esquecer nenhum presente. Outros tantos precisam ser embrulhados, pois você resolveu economizar e ser socialmente responsável, comprando lembrancinhas artesanais customizadas que não vêm prontas para ser colocadas embaixo da árvore.

A árvore, capítulo à parte, você decora junto com os seus filhos. Eles mais atrapalham do que colaboram e o pinheiro fica com cara de Frankenstein, o que leva você, na calada da noite, a refazer todo o trabalho (a fim de não ferir a genuína vontade de ajudar das crianças). 

E o presépio em cima da mesa, e os laços e anjinhos... E comprar os ingredientes para a sobremesa, que é sua responsabilidade no almoço de Natal, além de incentivar a família a entrar no famigerado amigo oculto de todos os anos, que encantam os mais novos como se fosse sempre inédito etc, puf, puf, puf... Resultado: não chegamos nem na metade do mês e o cérebro apresenta sinais de exaustão. O corpo pede rede e praia logo depois. De repente, 30 dias de férias de verão se tornam vitais. Um viva para Getúlio Vargas!!! 

O Natal é um trator esteira, levando tudo e todos pelo caminho... Deixa quem entra na roda plano, liso e lesado. Dá vontade de começar a babar e falar darhhh... Dá vontade de dizer para o planeta: “Eu quero que me esqueçam!” e dar patadas dignas do inesquecível (infelizmente) equino bípede João Baptista de Oliveira Figueiredo. 

Mas aí eu respiro fundo e lembro o quanto o Natal já me deu tantas alegrias. O quanto mamãe se esmerava para fazer aquele pernil de porco bem temperado. E no quanto é bom ter família grande, muito barulho e nenhuma civilidade nesses dias festivos.

Acompanho a expectativa crescer na contagem regressiva dos meus filhos: faltam 14 dias para o Natal, mamãe! E agradeço esse somatório de E,E, Es... dezembrinos. Tento desanuviar e mudo de discurso: “Se é para o bem de todos e felicidade geral da nação, diga ao povo que participo!”




Comentários

  1. Tudo igualzinho aqui em casa... É o que me consola: eu sou normal!!!!! rsrsrs

    Beijos,

    Marina Caldana.

    ResponderExcluir
  2. Enquanto voce fala em ficar, eu falo em chegar. Eu queria chegar na casa de alguem, ser convidada para o Natal. Eu queria me trocar, por minha roupa vermelha, por meu chapeu de papai noel, eu queria exibir o meu brochinho de arvore de natal no meu casaco. Eu queria apertar a campainha segurando um prato de sobremesa na mao e uma sacola cheia de presentes na outra. Mas isso nao vai acontecer... Entao eu vou ficar em casa com a minha arvore de natal e com os presentes que eu comprei para a minha pequena familia. Eu vou fingir que alguns convidados vao chegar na minha casa e que eu vou servir egg nog.E por um momento vai parecer Natal.

    Ho Ho Ho,

    Evelyn

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Querida Eve,

      realmente o way of life americano é muito estranho para nós, brasileiros. Posso sentir a sua solidão, pois eu passei um bocado dela quando morei aí. No Natal, a gente se reuniu com outros brasileiros sem família para sentir um pouco do calor humano. Foi bom, é claro, mas nunca é igual à bagunça familiar gigantesca que acontece em boa parte das casas no Brasil.

      Eu me adaptaria a tudo nos EUA, menos ao inverno de tantos meses e a essa distância polida, educada e sistemática dos americanos.

      Qualquer ano, venha passar o Natal aqui com a gente! Vocês 4 vão adorar! Já estão convidados!

      Beijão,

      Lulupisces.

      Excluir
  3. Engraçado como você começou a crônica, exatamente com a frase que o Rodrigo leu na rua e fez as nossas almas gelarem.... Depois eu me lembrei que você não é da turma do bode.
    Taí uma coisa que os filhos fazem pelos pais, obrigam-nos a curtir, tendo ou não alergia natalina pré-instalada, né?
    Bom, você me sugeriu a minha primeira resolução de ano novo: tentar não detestar tanto o Natal.
    Bom, isto se o desejo da drogaria Rosário não se realizar....

    bjs,

    Daniela.

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

Ousadia

Presentim de Natal

Horizonte de Eventos