Liberdade essencial





Marília Gabriela é mesmo uma grande entrevistadora. Ela consegue deixar interessante até pessoas nada inspiradas. Não era o caso da entrevistada de ontem, a exuberante diretora de TV Amora Mautner. 

Eu não curto muito programa de entrevistas. Para uma jornalista eu estou mais para cineasta. Mas a Marília tem charme, inteligência e simpatia. E a Amora é filha do maluco Jorge Mautner, um maldito que admiro (tem CD dele lá em casa e eu já conferi show do cara). Além disso, ela dirige. Ser diretora é uma praia que eu gostaria de conhecer. Mandar é comigo mesmo. Eu queria entender um pouco mais dessa história de coordenar atores, programas; dos bastidores de uma novela ou série. Tenho tesão pelo making off. 

Mas o que mais me chamou atenção entre todas as perguntas da Marília foi: “Com pais intelectuais, como foi dizer para eles que você ia parar de estudar para virar diretora de TV?” Mãe é uma categoria única no universo. Quem não é não alcança. Quem é se reconhece. Como vários amigos e parentes consideram que Bernardo e eu somos pais intelectualizados, me vi presa pela questão posta pela sagaz entrevistadora. 

Não que eu me considere uma intelectual de fato. Tenho a pretensão, é verdade. E meus filhos estão imersos nesse universo de livros, exposições, recitais, cinema e teatro. Gostaria que eles tocassem um instrumento. Acredito que seria a mãe mais feliz da galáxia se um deles se tornasse um pianista de renome, um artista conceituado. 

Entretanto os dois não parecem ter pendor para as artes nesse nível. No máximo serão apreciadores felizes como o pai e eu. Mas essa história de parar de estudar... Como reagiria ou como reagirei se um dos meus filhos quiser parar de estudar? Se decidir não ser formar, fazer especialização, mestrado ou doutorado? Ó céus, e se um deles for um trombadinha escolar, repetente e aluno medíocre? 

Sempre fui uma CDF. Não no sentido nerd, de boletim nota dez em todas as matérias, mas na essência. Eu sempre gostei de ir para a escola, de aprender. Meus cadernos eram caprichados. Prestava atenção nas aulas apesar de ter sido sempre bastante contestadora, falante e líder de motins estudantis. Minha mãe nunca se preocupou em me mandar fazer qualquer tarefa. Nunca ficou no meu pé para não faltar ou para me dedicar mais aos estudos. 

E seus meus filhos forem exatamente o oposto de mim? O oposto do pai, que está aí, na carreira acadêmica? E se eles quiserem parar de estudar para virar grafiteiros, DJs ou qualquer outra profissão insana que pode dar muito certo e também muito errado? Será que eu agirei com eles com a lucidez da liberdade essencial? 

Isto é: eu permitirei que eles sejam o que eles querem ser? Minha mãe, sem estudo, nada intelectual, permitiu. Ela era uma alma sem amarras, uma libertária sem ter a noção do tamanho de seu exemplo. E assim deixou que eu voasse do meu jeito. Sem saber que estava deixando (ou saberia?), fez um bem danado à minha autenticidade. 

Agora que estou do lado de cá, serei capaz de me libertar das minhas expectativas em relação aos meus filhos e não me intrometer em seus caminhos pelo mundo, a não ser que suas vidas estejam correndo perigos terríveis? Concederei a eles a graça de ser uma mãe intelectual maluca que achará lindo seus voos solos em terrenos nebulosos da vida pessoal e profissional? 

Não que eu queria que meus filhos se tornem médicos, advogados ou engenheiros. Longe disso. Mas que mãe não morre de medo do filho “não dar em nada”? E esse nada significa realmente o quê? Os pais dos Rolling Stones e de todos os roqueiros bem sucedidos do mundo, em algum momento, também se viram tomados pela indagação... 

Ê, Marília... Isso é lá pergunta que se faça a uma mãe num domingo à noite? 


Comentários

  1. Rsrs!!! Adorei sua reflexão... Serve pra muitos. Então vamos lá... Primeiro você aprenderá com a vida que o mais importante é que eles sejam felizes... Aí o caminho fica mais leve.

    Você sabe disso e terá a sensibilidade pra perceber que o melhor pra eles nem sempre é o melhor pra você, mas se estão felizes isto basta.

    Agora DJ é o musico moderno rsrs é a manifestação musical com a tecnologia e eles se dão muito bem. Você já deve ter percebido que sou amante da tecnologia. Amo mais que meu marido engenheiro.

    Adoro os livros, a música, as exposições, o cinema o teatro como você. Deus não nos deu esse dom. Deu o dom de pensar...pensar...e questionar...
    Boa sorte, prima! Seus filhos serão felizes sempre. Aliás, eles já são. Basta ver os olhinhos deles.

    Renata Guedes Assumpção Queiroz

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  2. Espero que a pergunta da Marilia nao tenha te tirado o sono ontem a noite... Eu acho que dar em nada eh um risco que todos os pais tem que correr com seus filhos. E o nada as vezes tambem nao significa nada. E o muito tambem nao guarante a felicidade de ninguem.
    O importante eh criar nossos filhos com ferramentas saudaveis para saber lidar com decepcoes, frustracoes, derrotas, sucessos para enfrentar a vida, porque essas emocoes vem para todo mundo; inteligente ou burro.
    Integridade, compaixao e responsabilidade sao coisas que eu gostaria muito de passar para as minhas filhas.
    Dizem que dar o exemplo certo ensina o caminho certo para os filhos.
    Seja la o que for eu quero estar sempre orgulhosa de minhas filhas e que se dane o mundo.!!!

    Boa segundona, aqui chovendo,

    Eve

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  3. É meio complicado mesmo.. Procuro não ficar pensando muito nisso. Aliás, não assisti à entrevista ontem. Acho que foi melhor! Rsrsrsr...

    Marina Caldana

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  4. Oi Lu ,acabei de ler o seu Blog.

    É isso aí, preoucupação com filhos é pro resto da vida. Quanto aos seus pimpolhos, não darem em nada, impossível no meio em que vivem.É só acreditar na visão da vida que vcs passam p/eles.

    Muitos achavam que meus filhos não iam chegar a lugar nenhum. Principalmente Roberto.Que ele não passaria de um pivete qualquer. Doeu na época, mas hoje me orgulho muito dos filhos que eu tenho.Mesmo com dificuldades, eles estão aí... Só falta passar num concurso e seguir em frente.

    Vc vai chegar lá e poder se orgulhar muitos dos seus filhotes.

    Beijo no coração e uma boa tarde!

    tia Leila.

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    1. Oi tia Leila e amigas comentadoras,

      eu não tenho medo que meus filhos não deem em nada. Eu tenho medo é de eu imponha, eu force a barra para que eles sejam o que eu gostaria que eles fossem... Eu sei que eles estão crescendo no caminho do bem e serão bons homens.

      O grande dilema dos pais é deixar os filhos escolherem seus próprios caminhos, mesmo que eles sejam diferentes, exóticos e incompreensíveis para a gente.

      E se eles quiserem ser bichos-grilo vegetarianos vivendo no meio do mato numa comunidade haribô? KKK!

      E aí? E aí eu vou ter de entender e aceitar. Isso sim é desapego e amor.

      Mas que é complicado é. Sair do convencional, dos padrões, é sempre um frio na espinha, um desafio.

      Beijos,

      Lulupisces.

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  5. É isso Lu, um desafio, sempre ele, nosso mestre do crescimento, do fortalecimento, é a nossa força, perseverança sendo colocadas à prova, a todo instante.Entender e aceitar, é pra mim as palavras mágicas.Lembra que comentei sobre a minha neta, que esse ano não estudou,pois é, isso mexe muito, só que , ela não ficou sem fazer nada...ocupou seus espaços em sua agenda, com música, aprendendo a tocar instrumentos, linguas e até pintura.Foi e está sendo uma novidade, nunca na família havíamos passado por isso, porém as circunstâncias nos colocou nessa sinuquinha, e aí, como fazer? Aceitamos aquilo que é.Daqui pra frente, só Deus sabe...quem sabe ela se encante, encontre verdadeiramente o seu dom e siga-o, artista, musicista,pintora, escritora, ela gosta muito de ler e escrever.
    Torço por ela.
    bj.Namastê!
    Cynthia

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  6. Querida Luzinha

    Obrigada pela força, no email e no blog! rs Conexões...

    Mas me responda: A filha querer ser tatuadora também entra aí no rol da liberdade essencial? Ai...ai...rsrsrsrsrsrs

    Bjs
    Patty

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    Respostas
    1. Com certeza, Pattygirl! Tatuadora entra no rol da liberdade essencial.

      E o meu filho que quer ser agente secreto? KKK!!

      Beijos,

      Lulupisces.

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  7. Ei Lu,

    obrigada pelo carinhoso cartão. Desejo um criativo e libertador 2013 pra você e sua família.

    E como elogios nunca são demais, queria te dizer que adorei acompanhar os seus textos cheios de vida, personalidade e inquietações, que nos fazem refletir e evoluir. Um luxo!

    Compartilho muito da sua visão crítica e sensível, e espero que possamos estreitar mais esse laço virtual e "antenado" que nos une.

    Um grande abraço,

    Marina

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  8. Adorei seu texto, prima!

    Como você consegue escrever assim tão bem, noooooooossssssssssa! Dizem que sou inteligente, mas não me considero. Penso que sou esforçada e atualmente não ESTOU assim. Inteligente é você, o Júnior, o Bernardo... Enfim, vcs enxergam longe, têm a cabeça aberta e veem o todo além da parte. E isso é inspirador. Boa tarde!! Te adoro e tenho orgulho de você!

    Quanto aos seus filhos, não se preocupe: não tem como eles não darem em nada.Serão naturalmente bem sucedidos,com a graça de Deus e o respaldo de vcs.

    Beijos,

    Jôsy.

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  9. É interessante como seu texto é pobre do conteúdo intelectual que você tanto almeja. Me parece que ele serve unicamente ao propósito de enaltecer a sua "pretensão". São ideias bastante coerentes, não tiro seu mérito, mas elas apenas carregam a liteira sobre a qual repousa o seu ego. E é claro que você tem todo direito de pintar a imagem que você quiser aqui no seu blog. No entanto, como um leitor não particularmente interessado na sua pessoa, o seu texto deixa transparecer um estereótipo bastante superficial do que é intelectualidade, pincelado por exaltações, "CDF" (essa parte eu achei infinitamente divertida), livros-exposições-recitais-cinema-e-teatro, parentes e amigos emitindo opiniões deliciosas aos ouvidos, artistas conceituados, motins estudantis (outra parte que me fez dobrar na cadeira) e toda sorte de outras afirmações. No fim, o que se tira do texto é que você, no que tange a intelectualidade, é, realmente, pretensiosa.

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    Respostas
    1. Paulo,

      O ponto fulcral do texto (superficial, é claro) era refletir sobre a competência (ou não)de uma mãe "com pretensões intelectuais" para deixar seus filhos livres para ser o que quiserem, burros até. Idiotas. Não leitores nem de Veja e muito menos de blogs idiotas como o meu.

      Achei o seu comentário desnecessariamente rude, como se eu tivesse lhe ofendido em algo muito particular.
      Não estou aqui para provar a você e a ninguém o meu conhecimento intelectual. Escrevo e debato ideias de forma descompromissada, livre, informal. Não estou defendendo tese alguma. Só botando no papel minhas maluquices.
      Se você deseja se munir de opiniões realmente intelectuais, procurou o blog errado.

      Att.,

      Lulupisces.

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