Mulheres com M + Homens com H = HM ou MH (a ordem dos fatores não altera o produto)

Uma coisa leva a outra e falar de amor juvenil leva a pensar na criação de meninos. Meninos no sentido masculino, não generalizado. Até livro específico sobre o tema eu já li, mas não é que o trem é complicado? Essas espécies tão diversas de nós, mães, gênero feminino, dão nó no nosso cérebro. Fazê-los crescer sensíveis, leves e ainda Homens. Equação complexa. 

Nas famílias de meninas e meninos acaba rolando uma polarização ou as mamis enfrentam os mesmos dilemas? Meu mais velho é o tipo de menino que chora. Nostálgico, até melancólico. Se tivesse outro pai, talvez estivesse levando tapa pra virar homem.

Gente, o que é virar homem? Quero que meus filhos sejam bacanas, descolados, que gostem de ópera, que curtam artes plásticas, toquem um instrumento, amem fotografar... Entretanto, não sei se queria que eles dançassem balé... Viu? Taí a minha dose de preconceito! Penso que não sou machista, mas serei? 

Quero que eles sejam vaidosos na medida certa e qual seria essa medida certa? Sei lá, que tomassem banho todos os dias, pelo menos. Que passassem um perfumezinho atrás da orelha e usassem camisetas transadas com uma calça jeans de caimento sexy. É o que eu tento fazer com o meu marido, que se fosse deixado livre na Natureza, passaria longe de qualquer medida certa de vaidade. 

Não aguento metrossexuais!!! Engomadinhos sem um fio de cabelo fora do lugar, trajando ternos impecáveis. Ui, isso me brocha! Homem tem que ter pegada meio rock’n roll, punk ou arqueológica a la Indiana Jones. Bem, pelo menos essa é a minha fantasia de homens interessantes que eu gostaria que meus meninos se tornassem. Assim, eles serão capazes de atrair meninas antenadas e inteligentes como a mãe deles. Hahaha! 

Semanas atrás, Tomás debutou em sua primeira apreciação ao vivo de La Traviata. Uma montagem singela, porém muito eficiente da minha ópera favorita, produzida pelos alunos de canto erudito do Curso Internacional de Verão da Escola de Música de Brasília. Não sabia se chorava de emoção pelas árias ou por causa do rostinho iluminado dele que, ao final, disse: “muito mais legal ao vivo do que no disco, né?” Pronto! Picado pela sutileza da Arte que toca no centro do coração. Meio caminho andado... 

Ontem, o mais novo teve sua primeira aula de violão. Vinha insistindo há meses que queria aprender o instrumento. Abri a porta do apartamento e ele abriu aquele sorrisão de felicidade plena com o bichão colado ao peito, mãozinhas apertando as cordas, ainda desajeitado, mas pura euforia. Não podia ter ganhado presente mais lindo. Pronto! Picado pelo prazer de tocar. Meio caminho andado... 

Tento mostrar para os meus filhos que as mulheres são diferentes, mas igualmente brilhantes. Com um pai PHD em Física em casa, o mantra tem de ser forte e exaustivamente repetido até que eles entrem na minha onda alfa de ser. Procuro comer pelas beiradas, explicando a importância de pentear os cabelos antes de sair à rua ou de não misturar listrado com xadrez. Todavia, sinto um profundo tédio vindo do centro de seus olhos que dizem: “Isso é coisa de mulherzinha". Pior: "Isso é coisa de mãe!”. 

Estarei conseguindo criar meus homens? Serão bichas ou serão machos? Machos do bem, com delicadeza para curtir um filme lindo como “As Sessões”, por exemplo. Sem deixar de se amarrar, é claro, no Chuck Norris ou no Batman Begins. Pois eu sou mulher-macho, gosto de tudo isso e mais um pouco: vampiros, lama, cavalos. Mas não gosto de dirigir, ir ao cartório e pagar contas no banco (mesmo virtual). Prefiro que um homem faça isso por mim. Quero o meu direito de ser gueixa e receber flores vermelhas. E ganhar bombons e ser levada para jantar... 

Eles já começaram a arrumar a cama, a lavar a louça, a cozinhar... Homem que é homem precisa se virar e fica irresistível de chef. Mulher que é mulher precisa trocar pneu? Xi, tô frita! Vale saber calibrar? 

Então que meus filhos cresçam lutando karatê e entrando na fila de ingressos para a temporada da sinfônica. Afinal, Pepeu Gomes é que sabe o que diz: “Ser um homem feminino, não fere o meu lado masculino. Se Deus é menina e menino. Sou masculino e feminino”.