Amigos quilométricos



Hoje eu tô clichê. Esmalte vermelho descascando das unhas, cabelos no volume, naturalmente densos, caindo pelos ombros. Um vestido de brechó. Rindo à toa com as sacadas criativas dos outros e sem vontade alguma de trabalhar. 

Antigamente (nem precisa pensar em termos de séculos, mas de uma, duas décadas) uma pessoa como Paulo Tiefenthaler (Paulo Oliveira), apresentador do programa Larica Total, jamais chegaria a lugar algum. Ficaria no limbo, perdido. A sociedade não era capaz de aceitar ou entender alguém nesse nível de irreverência e autenticidade. Que bom que os tempos mudaram e quase todo mundo pode encontrar seu espaço no... Mundo. 

Em compensação, a gente lê no jornal que um garoto de 22 anos atropela um ciclista, o braço da vítima fica preso no parabrisas, o motorista não socorre e, ainda por cima, joga o membro do rapaz no córrego mais próximo, impossibilitando qualquer tentativa de reimplante. 

A gente aceita as idiossincrasias alheias com mais flexibilidade, porém não as culpas, as responsabilidades. Juventude imatura, individualista, cruel. A culpa não é só da mãe, mas dos pais ausentes ou presentes em corpo, entretanto não em espírito de autoridade, dignidade e ética, palavrinha em desuso prático total. 

Pausa na indignação. E não é que quem tem amigo realmente não precisa de muito mais coisa para ser feliz? Eu avisei que estava óbvia hoje. Sei lá, de repente sou todo texto de uma obviedade patética e fico crente que não. O fim de semana foi de culto aos bons amigos reais, que calham de ser virtuais também. A gente sabe que a recíproca nem sempre corresponde. 

Gente existe que perde a oportunidade do olho no olho, braço no braço, dente no dente. Eu não. Chamou, tô dentro. Exceções: se adoecer, filho atrapalhar, dinheiro impedir. Agraciada fui com um almoço italiano de sábado no delicioso apê tranquilo e iluminado de uma amiga na Octogonal. A noite foi regada a saquê e sushi na celebração de aniversário de outra amiga. Dessa vez, numa casa interessante, bem decorada e elegante nos confins do Condomínio Verde. Papos abençoados por um céu estrelado de verão no coração do planalto central. 

No domingo, meu marido e sua máfia da Física se reuniram para um churrasco que rolou em uma chácara simples e acolhedora pros lados de Brazlândia. Bacana ver aquele povo envelhecendo junto. Os filhos encumpridando, mudando, trilhando seus caminhos... Os colegas se divertindo bestamente como crianças grandes que entornam cerveja e se entopem de carne. 

Fotos para a posteridade, picolés derretidos, conversas de botequim, de professores e de mulheres de cientistas malucos (francamente, uma comunidade que merece uma série tão ou mais divertida que “The Big Bang Theory”). 

Isso porque ainda podia ter pintado um piquenique no Jardim Botânico e outro niver no bar UK... O fimdesemana é curto para dar atenção devida aos bons amigos, pois eles merecem nossa dedicação, empenho e gratidão ao enriquecer nossas vidas com suas trajetórias, por mais rotineiras que sejam. 

Eu alertei que estava chovendo no molhado. Gastei meio tanque de gasolina rodando Brasília. Contudo, foi por uma boa causa.  




Comentários

  1. Um viva pros bons momentos ao lado dos amigos! bons papos, boas risadas, boas lembranças... e, às vezes, um frango de padaria que não faz feio. ;)
    bjitos
    Isa

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