"Riacho do Navio corre pro Pajeú, o rio Pajeú vai despejar no São Francisco, o rio São Francisco vai bater no "mei" do mar" ...


Ponte sobre o São Francisco entre Petrolina/PE e Juazeiro/BA


Ribeirão Mestre D’Armas
Pipiripau
Paraim
Riachos Fundo
e Grande
Rio dos Macacos
Córrego dos Veados
Senhoral
Rio Buritis
Corrente
Branco
Riacho do Jardim
Grotão do Lava-Pés
Rio Pajeú
Palmeira
Paraim (outra curva)
Buritizinho
Gurgueia
Sucuruiu
e Piripiri
Riacho Morto
Paracatu
Rio Dantas
Caldeirão
Canindé
Coité
Piranhas
Santa-Fé
e Seriema
Riacho do Pereira
Barreiro
Canabrava
Marimba
Rio Portinho
Parnaíba
Poty ou Poti
Gamboa
Ubatuba
Canzuim
e Jacaúna
Riacho Tapera
das Casinhas
Patú
Macaquinho
e Catolé
Rio São Francisco
Houve uma viagem na qual decidi anotar os nomes das fazendas ao longo das rodovias. Dessa vez, prestei atenção nos rios, nossas artérias, veias a céu aberto. Não imaginei serem tantos e de tantos formatos, além das alcunhas variadíssimas. Às vezes poéticas; outras, engraçadas.
Um único rio, riacho, córrego, é a vida de centenas no sertão. Vários deles não receberam a deferência de uma placa, principalmente no agreste pernambucano. Talvez por haverem sido sepultados pela seca ou pela imprevidência dos homens, que lhe tosam as margens e as nascentes.
Devo ter perdido um par de sinalizações na velocidade do carro ou na soneca. Mas tentei reparar até onde a vista ia. Belos e distintos eram quase todos os fluxos de água, com pouco sinais evidentes de poluição. Alguns abrigavam canoas, gaiolas, algazarras da molecada ribeirinha, pescadores, aves, gado. Cada qual com a sua cor, a própria curva e densidade. Nenhum rio é igual ao outro, assim como os indivíduos que lhes desfrutam a abundância. Deveríamos, portanto, respeitá-los de acordo com a dignidade de seus direitos fluviais de existir.
Grandes, modestos, caudalosos, mirrados. As pontes são pedidos de contemplação, ainda que numa fração de segundos. Vontade de fazer tchbum daquele trampolim de concreto.

Ponte sobre o Velho Chico em Ibotirama/BA

Ao nascer do sol ou ao poente de mais um dia, rios são narrativas; memórias levadas pela correnteza. Formam cascatas, cânions, poços, igarapés, vórtices, diques, lagos artificiais. Onde passa um fio d’água, há esperança. Broto verde-novo; plantação, subsistências.
Cidade sem rio, lago ou lagoa perde a metade da graça, quem sabe toda ela.  Deve ser o caso de Luís Eduardo Magalhães, um tabuleiro de xadrez sem um pingo de água à flor da pele para chamar de seu. As zonas urbanas que possuem a bênção de um curso cristalino deveriam render loas diárias aos seus mais ilustres habitantes. Não é que o fazemos, muito pelo contrário.
Terminar o desbravamento dessas chapadas e planícies profundas do Nordeste ancorando no Velho Chico foi o ponto alto das férias. Conhecê-lo intimamente ao ser abraçada por suas águas mansas e mornas provocou, em mim, uma emoção ancestral. Mergulhar para ouvir o roçar dos seixos nos pés da gente era voltar ao útero da terra-mãe.

São Francisco benevolente, caridoso. Sabe compartilhar cada mililitro de sua dádiva em canais que multiplicam a fartura onde antes só havia desolação. Que a lama da morte não lhe atinja. Que a ganância dos homens não lhe turve a alma.
Rio Doce, Tietê, córrego do Feijão, Paraopeba: quanta destruição!
O destino de todo rio deveria ser a eternidade.

Comentários

  1. Descrição tão poética quanto a natureza linda e frágil dos rios caudalosos e belos. Amei, sua linda. Beijos da Marcita, my teacher 😚

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  2. O nosso Brasil e lindo ,não fica a desejar pra nem um país né Lu! E olha que que já viajou tanto pra esse mundo afora 🙌🙌💙

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  3. Muito bom! Depois de todo esse contato com a natureza e a simplicidade, estou achando que você ficou ainda mais voltada para a natureza.

    Renata Assumpção

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