Seria um telequete daqueles





CONFUSÃO DE PESO

Vim comprar ração pra minha cadel(x). As vagas no estacionamento da loja são bem estreitinhas. Quando saía do carro, uma moça veio em minha direção. Ela olhou pro espaço entre meu veículo e o dela e fez uma cara de poucos amigos. No ato, já voltei pro interior do carro. Mas a simples ideia de que eu ia retirá-lo pra que ela pudesse caber no diminuta brecha fez com que a moça desse um guincho de horror. Ah, eu consigo entrar, não precisa mexer em nada. A mulher começou a se espremer toda e a dar mais guinchos. Apareceram logo uns gatos pingados (humanos, apesar de ser um pet shop) meio sem compreender o que acontecia por ali. Como imaginei, a mocinha acabou ficando mesmo entalada. No momento em que escrevo estas mal traçadas no café da loja de artigos para animais, o pessoal de apoio ao cliente está tomando as devidas providências para o resgate. É complicado pra mim, não posso negar. Mas acho que teria sido bem pior se eu tivesse insinuado que ela estava acima do peso. A coisa já estaria, por baixo, no STF. Sem direito a habeas-corpus.

(Carlos Castello em Crônicas por Quilo, site do Estadão)


Li o textinho divertido acima e me lembrei que outro dia estava pensando exatamente sobre o mesmo assunto. Taí, a gente precisa escrever rápido sobre o que pensa, caso contrário pode parecer plágio. Acontece que as vagas traçadas nos estacionamentos públicos do Superior Tribunal de Justiça (STJ) são tão estreitas e espremidas, que pessoas com sobrepeso, gordinhas, fofas, Jojô Toddynhos e assemelhados deveriam entrar com um processo de danos morais. É quase um bullying diário aquilo ali.

Entrar e sair do carro demanda habilidades atléticas, beirando ao contorcionismo explicito. Não raras vezes, bato joelhos, cotovelos e até a cabeça tentando me esgueirar in ou out of my car!!!!! E olha que pratico yoga há 13 anos, hein!!!!

Mas nenhuma filosofia milenar teria me preparado para o que vivi há alguns meses. Uma servidora insana (pleonasmo?) parou o automóvel dela tão milimetricamente ao lado do meu, que não havia como entrar ou sair do carro, a não ser pelo porta-malas (exatamente o que ela fez, segundo os seguranças que ficam zanzando pelo estacionamento). Eles garantiram que imploraram a ela que não fizesse isso, mas ela fez. E arremataram: “não foi a primeira vez, não!”

Queria voltar pra casa e não podia. Eles tentaram encontrar a servidora para que ela viesse até o estacionamento. Eu decidi que era melhor deixar quieto. Nem os meus 13 anos de meditação me salvariam de agarrá-la pelos cabelos, o que poderia culminar num processo administrativo, em muitas fotos no Instagram e FB alheios e numa rádio-corredor tremenda em todo o Tribunal.

Não quis saber quem era a infeliz com o mundo, ainda que um dos seguranças estivesse torcendo por um show gratuito de telequete entre mulheres de salto alto: “A senhora é servidora como ela, pode dar na cara dela!” Sério, ele me sugeriu tal ousadia. Se tivesse gravado a proposta, o incitador perderia o emprego. Comecei a rir, imaginando mil cenas pastelão. Era tudo o que a mal-educada merecia, sem dúvida.

Peguei um táxi e me mandei ligeiro, voltando ao STJ às nove horas da noite, com o marido estupefato a tiracolo, para resgatar o carro. Não sei se ele comprou a história de que não passava nem um cartão de crédito entre os veículos ou se se convenceu – em definitivo - da minha barbeiragem como motorista. Afinal, o estacionamento já estava vazio quando avistamos o hondinha fit ano 2016 abandonado no meio de centenas de vagas.

O segurança da noite, que havia sido avisado pelos companheiros do turno da tarde, me olhava divertido tipo assim: “ah, a senhora foi mais uma vítima daquela servidora louca (rendundância?) que a gente tem de administrar todos os dias por aqui?” Era bem assim a cara dele, pode crer.

Restou o trauma. Nunca mais parei naquele estacionamento. Zero curiosidade em saber o nome da colega com mentalidade lata-velha. Ela passará, eu passarinho. 

Comentários

  1. Pois vou te contar, Lu: quem ficou curiosa pra saber o nome da colega servidora insana (redundância?) fui eu! Kkkkk

    Francis

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  2. Huum não sei se teria ido embora...sou meio invocada com esse tipo de atitude...tem que dar uma lição, até por que não tinha sido a primeira vez...claro que não precisava sair na porrada,mas bem que deu vontade 😂😂😂😂

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