Eleven

- Vai dormir logo, meu filho, que amanhã você já acorda no seu aniversário!

- O problema é que depois de amanhã já não vai ser meu aniversário!

Sim, ele é ansioso, está sempre uns dez pulos na frente com respostas rápidas, zunindo sem titubear a cada argumento que temos.

Ele gosta de pimenta e outros condimentos exóticos, como os da comida etíope pela qual se apaixonou. 

Ele nunca é convencional, como se tivesse lido um manual do avesso. Aliás, manuais são adoráveis para ele.

Ele quis entrar dentro da 5ª Sinfonia de Beethoven aos quatro anos.

Seus olhos brilham de curiosidade por todas as coisas.

Ele nasceu no Dia do Motociclista e se parece com um daqueles malucões de jaqueta, livres de amarras e de boas maneiras (juro que tentamos ensiná-las todos os dias!). Preciso me conformar e serenar o coração de mãe para os desafios que me esperam.

Ele abraça de costas para a pessoa que está sendo abraçada.

Ele já tomou choque em cerca elétrica. Ele já se intoxicou com rivotril que roubou do criado-mudo da mãe. Ele já levou quatro pontos na face e oito na coxa. Anteontem, quase caiu – literalmente - do cavalo durante a aula de equitação.

Ele é protegido por Santa Bárbara, a padroeira dos que adotam profissões perigosas. Pelo andar da carruagem, ou melhor, do carro de fórmula 1, ele não será nada menos do que um aventureiro testando os limites da sobrevivência.

Ele gosta de polir pedras, de arrumar cajados pelas ruas (e trazer pra casa), de achar grilos e de receber massagem nas costas.

Ele é filho de Marte, guerreiro do bom combate e já teve festa de aniversário de Indiana Jones, do Motoqueiro Fantasma, de Detetive, de Roma...

Seus filmes da infância foram Spirit, Peter Pan e Arthur e os Minimoys

Ele gosta de escrever como a mãe e de pesquisar no microscópio e telescópio como o pai.

Ele é surpreendente todos os dias. Um prazer e uma demanda. É como se compartilhássemos nossa vida com a personificação de E=mc². Uma criatura que, sem dúvida, estabelece a equivalência quantitativa da transformação de matéria em energia e vice-versa.

Viva o leonino da gema, que, de quebra, ainda vai ganhar um eclipse da lua de sangue em seu aniversário solar! Poderia ser diferente para quem não quer pouco, assim como outro leonino?

“Eu sempre quis muito

Mesmo que parecesse ser modesto

Juro que eu não presto

Eu sou muito louco, muito

O meu desejo

Parece pequeno

Muito é muito pouco, muito

Eu nunca quis pouco

Falo de quantidade e intensidade

Bomba de hidrogênio

Luxo para todos, todos

Mas eu nunca pensei

Que houvesse tanto

Coração brilhando

No peito do mundo louco...”

(Caetano Veloso)

 Feliz Aniversário, leãozinho! Mamãe te ama!