Life is but a dream




5.25 da manhã. For the very first time in this adventure of living abroad again, ouço os primeiros early birds, trinados simpáticos nos dias que já se anunciam mais curtos... Logo, logo o calor e umidade dignos de Rio de Janeiro darão lugar ao divinal outono. Tive muitos sonhos interessantes durante a noite. Quando a melatonina funciona é assim: dorme-se menos horas, mas o sono é fecundo. 

Nas oniricidades pintaram a amiga Mônica (Marisa, não fique com ciúmes, pois você ainda é o meu alter ego onírico). Mas talvez a resiliência de Mônica seja mais carecida nesse momento. Ou apenas seja tudo culpa do livro que ela me deu um pouco antes da mudança:"A amiga genial". Um turbilhão de evocações infantis e seus sentimentos hiperbólicos. Maravilhoso para qualquer pisciana. No sonho de Mô, ela tinha um chevette psicodélico pintado com um sol que escorria raios do teto, abraçando toda a lataria. Será eu me despedindo do verão escaldante?

Sonhei também com meu chefe e a esposa dele. AugustoBoss e Cacau, pessoas que entraram mais recentemente na minha trajetória, porém já deixaram sua marca de amabilidade. Íamos pegar um amigo de Cacau no aeroporto, Augusto e eu. Na volta de ônibus, perdemos o ponto de descida no início da L2 Sul, ali, pelas bandas do colégio Santa Rosa. Chegávamos para o almoço suados e fazíamos uma ciranda em torno da mesa posta. Acordei renovada e com uma urgência de escrever que só os escrivinhadores compreendem.

Queria registrar que os EUA não são mais aqueles que deixei há 15 anos. A latinidade explodiu por aqui. Posso passar 1 ano e meio no país sem falar uma palavra de inglês e ser entendida. Boa parte das lojas tem cartazes de ofertas em espanhol. Intrigado, Bernardo refletiu:"todo mundo no Equador deve conhecer alguém que mora aqui, afinal, qual é o tamanho do país para se ter tantos morando em Nova Iorque?" Todavia, seguimos sem ser confundidos com eles. Nosso sotaque falando em English é bem diferente. Eles permanecem vivendo em guetos, só que cada vez maiores. A TV aberta oferta dezenas de canais na língua hispânica, a cable TV, idem.



Se você vai subindo rumo ao norte, os preços das casas nas belas vilazinhas também vão. Os cuca, obviamente, rareiam. As melhores garages sales estão nesses lugares. Excelentes produtos do legítimo American way of life por pechinchas. Ontem garimpamos uma especialmente boa. Jovens organizavam as vendas: eram os netos da avó que passava a viver com eles. O bonito rapagão americano perguntou de onde vínhamos, respondemos Brasil, ele emendou: ah, Portuguese, I was realizing how beautiful sounds when you speak".

Todavia, não somente latinos do México, Equador, Peru e brasileiros de tantas partes abundam na terra do consumo - segue inabalado. Há também uma profusão de muçulmanos, indianos, coreanos, chineses... Os EUA virou um mosaico absurdo de línguas e costumes, uma toda NY, ao menos nas margens leste e oeste. O meiäo deve continuar essencialmente branco, mas nas faixas litorâneas, rola a babel. Agora começo a compreender porque o discurso estúpido de Trump tem milhões de adeptos. Deve ser avassalador para um americano que nunca foi além das fronteiras de seu estado, ver o país invadido pelos bárbaros, desconsertando o mundinho de conto de fadas que eles criaram com tanto zelo e puritanismo. 

A pobreza aumentou. Hoje, vejo pessoas catando latinhas de bebida, abarrotando carrinhos de supermercados. Jamais imaginaria algo assim 15 anos atrás. Confesso que também tive um momento de preconceito. Sozinha no gramadão brincado com Frida, vi assomar-se dois latinos de um lado e outro pela retranca. Eles me olhavam insistentemente e me dei conta de que estava em completa desvantagem: lugar ermo perto de uma mata. Se quisessem, poderiam ter feito o que bem entendessem comigo. Me senti muito desconfortável, desprotegida, como se à mercê de uma metrópole brasileira. 

Os americanos não encaram as mulheres. Não as cobiçam com esses olhares incisivos de machismo latinoamericano. Em 2001 e 2002, não passei por constragimento semelhante. Imagina para uma americana autocentrada experimentar o assédio dessa forma brutal? Trump promete devolver aos americanos o país que tinham. Depois de um episódio deste, soa um tanto sedutor. Voltei para casa mais rápido, acuada e triste com a minha parcela de xenofobia.

O dia está despontando. Corvos dão sinal de sua sinistra onipresença. Edgar Allan Poe viveu nessas bandas, logo se vê. Porém, quando vejo NetFlix, parece que não saí do Brasil. Caio em mim quando olho pela janela e desvendo a paisagem estrangeira. Minha lista de filmes continua a mesma. Sigo batendo papo pelo zap e me relacionando com os amigos e amigos dos amigos pelo FB sem prejuízo causado pela distância. Agora é menos sofrido viver fora do que antes. A solidão se diluiu. Só o inverno deve continuar barrar como sempre foi, até para os nativos. 

Navego pelos cursos que tenho vontade de fazer no Westchest College: The Art of Ancient Civilizations;The Road to Modernity in Art & Architecture; Murder, Mayhem and Ghostly Presence in NYC; Hannah Arendt: Her Life and Work; History through Literature; The Music of Lennon and McCartney... Passatempos aprazíveis, pois girls just to want have fun, além de limpar a casa e lavar banheiros. 

6.43. Romulito acaba de pintar na sala. Por que acordou tão cedo, pirralho? Porque eu sonhei que a gente tinha voltado para o Brasil. Sonhos, esses, sim, janelas da alma.

See you soon, hasta luego, até breve!


Comentários

  1. Muito legal Luciana!!

    Abraço para o Bernardo.

    Beijo.

    Paulo.

    ResponderExcluir
  2. Lu, cada dia que passa me deleito mais nos seus contos! Agora, verdadeiramente me senti inserida em um deles. Um beijo pra family!!

    Cacau Leal

    ResponderExcluir
  3. Gostando demais de todos os contos e pontos. Parabéns e muitas felicidades família zeprepé.

    Davi

    ResponderExcluir
  4. Delicia seus textos...bjs!
    Namastê!
    Cynthia

    ResponderExcluir
  5. Delicia seus textos...bjs!
    Namastê!
    Cynthia

    ResponderExcluir
  6. Muuito legal Luciana!!

    Quer dizer que vocês levaram a Frida? Show!!
    E o Rômulo sonhou que tinha voltado para o Brasil??

    O seu relato me lembrou filmes que mostram uma New York no futuro, cheia de estrangeiros bem estranhos.
    Parece que a ficção vai se tornando realidade.

    Imagino eu, que todos estejam aí de forma legal, ou seja, com a permissão dos americanos, não?

    Um beijo,

    Paulo.

    ResponderExcluir
  7. Nice Lu! legal Lu! The american life it's good can be latinmerican! Godnight kis you! Vary nice very ....

    ResponderExcluir
  8. Pronto! Achei o mote do livro, Lu! Esse olhar comparativo entre os EUA de 15 anos atrás e os de hoje é muito interessante...!!! Não lembro de ter lido algo a respeito com essa abordagem, com essa crônica social espirituosa que você faz tão bem...! E no mais, pare de comer feijão de noite para não ficar sonhando mais comigo!! kkkk It´s a nightmare!!! kkk

    Um abração!!!

    Augusto

    ResponderExcluir
  9. Adorei estar no seu sonho! Eu, aqui, imersa nessa rotina chata e massacrante, devo estar rodopiando por aí, pelo menos no inconsciente! Enquanto isso, tento resgatar a pisciana-hipponga-viajandona lá no fundo do meu quintal de alma. E acompanhando suas aventuras/reflexões. Fique bem, Lu!

    Beijocas,

    Mônica

    ResponderExcluir
  10. Uau, Luciana!

    Coincidência, não sei, mas, esses dias, estava comentando com a Lara que gostava de ler seus textos postados.
    Que bom receber este e-mail, agora, posso "passear" por entre suas palavras novamente��.

    Bjs! LUTCHA��

    ResponderExcluir
  11. como sempre uma delícia seu texto, beijos e estamos bem por aqui, fiquem em paz total!!

    ResponderExcluir
  12. Bom saber que vc está bem.
    Manda ai um abraço ao Obama!

    ResponderExcluir
  13. Bom saber que vc está bem.
    Manda ai um abraço ao Obama!

    ResponderExcluir
  14. Muito bom e bjs em todos!!!

    Mario

    ResponderExcluir

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

Ousadia

Presentim de Natal

Horizonte de Eventos