Kitsune




Em outra esfera, tempos e tempos atrás, um rapaz sussurrou ao irmão: “Aquela menina tem cara de raposa!”. A menina, astuta e observadora, leu a mensagem no movimento dos lábios do jovem que lhe pareceu uns cinco anos mais velho, ou seja, muito velho para uma menina de 14. 

As férias nas praias baianas se acabaram, o flerte febril da adolescência também, mas aquela intrigante comparação nunca abandonou a memória da menina, que jamais descobriu ao certo: fora elogio ou fora destrato? 

De todo modo, a cada dia, a menina assumia a feição voluptuosa do gênero Vulpes vulpes: porte médio, focinho comprido e uma cauda-cabeleira longa e peluda-farta nos tons mel avermelhados da espécie, além de orelhas de abano eretas e sensíveis aos variados tons e semitons. 

As pupilas ovais, semelhantes às pupilas verticais dos felídeos, tornou-se um dos traços físicos mais marcantes da menina, que constantemente era chamada de gata ou onça, tailandesa ou árabe, talvez. 

Curioso é que a menina, sem se dar conta, também se revestia do comportamento do canídeo selvagem. Transformava-se em um ser desconfiado, misterioso e solitário, capturando suas presas de forma oportunista. A técnica de caça, aprimorada desde a juventude, consistia em pular sobre o escolhido para matá-lo rapidamente. 

A dieta da menina-raposa era diversificada, incluindo mamíferos mais altos, alguns répteis desprezíveis, aves raras, anfíbios esquecíveis, peixes intragáveis, ovos e frutas silvestres. Mas, assim como seu alter ego de quatro patas, a garota só caçava o suficiente para o consumo individual, sem ménage à trois. 

A raposa, digo, menina, já foi avistada na América do Norte, Europa e algumas localidades da América do Sul. Com faro apurado, consegue se livrar de muitas armadilhas, mas não resiste ao chocolate, guardando seu alimento preferido em diversos esconderijos. 

De hábitos crepusculares, a menina aprecia o pôr-do-sol e não perde uma noite de tranquilidade sozinha – de preferência – na frente de qualquer filme que, por ventura, lhe seja interessante. Da raposa também incorporou a insônia, mas ainda não decidiu se sai para caçar, assiste a outro filme ou termina a montanha de livros à cabeceira. 

A mulher-vulpes promove grandes contatos com os humanos por onde passa. Todavia, atenção: trata-se apenas de uma artimanha astuta e mágica. A menina Kitsune se transforma em gente e engana todos ao seu redor, mas o coração de sua alma permanece intocado. 

Infelizmente, as raposas selvagens podem viver até dez anos. Expectativa que a mulher canídea pretende reverter à custa de atividade física, alimentos saudáveis e banhos de mares desertos, é claro.


Comentários

  1. Acho que Kitsune é uma das personagens do Naruto. Conversa com os meninos que eles te dão mais detalhes.

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