Climatério




O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas da ONU (IPCC) afirma que o Brasil pode elevar em até 0,7º C a sua temperatura durante este século. É manchete nos jornais de hoje e eu respiro aliviada por não viver para sempre. Até o fim do século eu já virei pó, né? E se não tiver virado, com esse calor, com certeza já terei derretido.

Realmente eu não gosto de calor. Cheguei a essa conclusão. Adoro sol, adoro pegar sol (dermatologicamente incorreta até a alma), amo praia, dias azuis, mas detesto suar em bicas. Não suporto a pele cozinhando debaixo da roupa. Preciso mudar de país, ó céus!! Ou, pelo menos, mudar de cidade... Brasília está mais para sertão de Tocantins do que para Serra da Mantiqueira (um grau comparativo de superioridade que só tende a crescer e me deixa muito aflita).

A verdade é que o clima corrente de certas cidades tem efeito repelente pra mim. Entendo, como cidadã brasileira, que deveria conhecer a Floresta Amazônica e o Pantanal. Mamãe morreu e eu não a levei ao Pantanal... Pesa em mim essa culpinha. Afinal, nunca me esforçava o bastante para tal empreitada porque só de pensar na boca daquele forno, no bafo quente de dragão, nos mosquitos e na minha pele em brasa - não pelos motivos luxuriantes deleitosos, porém porque é possível fritar um ovo no asfalto em Cuiabá e Manaus – eu simplesmente desistia e continuo desistindo.

A primeira vez que estive em Teresina, Piauí, foi trau-ma-ti-zan-te. Até hoje fico chateada por ter dado uma impressão distante e antipática aos hospitaleiros parentes do meu marido. Não queria fazer nada além de ficar parada numa sala com o ar-condicionado em temperatura de inverno austral. 

Sobre o corpo, apenas short, chinelos e camiseta. Mesmo assim, uma torrente pingava por debaixo dos meus seios. Era praticamente o Inferno de Dante. Tomar banho numa ducha que deveria ser fria, mas era morna de tanto sol nas tubulações, e estar pipocando em gotas suadas dois segundos depois de pegar a toalha, não parecia ser coisa de gente. 

Nas poucas vezes em que saí do abrigo do ar-condicionado, tive muita pena das pessoas apertadas nos ônibus desumanos como os raios ultravioletas que as deixavam esmaecendo, tinta escorrendo no óleo sobre tela... A população tremeluzia. Centenas de chamas, autocombustão. O Brasil dá nó na garganta. Pobre sofre mais no frio ou no calor? As pessoas se acostumam com essas adversidades diárias? Sofrimento rima com costume? 

Quando chego à aula de yoga, vou logo me posicionando perto das janelas. Vejo que a maior parte dos alunos não se importa de mantê-las fechadas. Eu, não, preciso escancará-las. Nasci com o termostato pifado. Dirão as más línguas que tenho fogo no rabo. Não é bem o caso, mas até que seria bom. Tenho mais fogo é nas ventas, na língua e nas ideias do que diabo no corpo. 

Só me quedo pensando na época do climatério... Os tais calores, fluxos repentinos de deserto do Saara no meio da noite, numa reunião de trabalho... Se hoje eu já vivo num eterno borbulhar, não sei o que será de mim daqui a pouco. Porque eu não tenho nariz, tenho focinho de cão. Ele mina como nascente, sempre molhado...

Faz umas décadas, o orientador da tese de doutorado do meu marido disse que era bom suar no rosto. A pessoa que transpira na face demora mais a envelhecer, afirmou o físico cubano. Não confundam com médico cubano, se bem que talvez ele tivesse uma queda pela dermatologia, não? 

Vou ficar na torcida! 



Comentários

  1. Neste exato momento, pós-chuva na Asa Norte e dentro do apartamento, estou aqui também suando em bicas... Imagina nós aos cinquentinha... beijos, Mô

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  2. Deu certo! A chuva veio como um mini-dilúvio!

    Alexandre Jorge

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  3. Tô de acordo. Eu não aguento calor demais, mas também não aguento frio demais. Sou intolerante com desconforto físico, um horror. Imagina a menopausa? Vou ter que ser trancafiada (mais) em algum lugar.

    Má.

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  4. Luciana,

    Olha, você falando no calor de Teresina, deu até pra sentir na pele.
    É o que sempre imaginei.
    Também não gosto de calor demais, porque também suo às bicas.
    A Eliane é outra. Ela, muitas vezes, sente até mais calor do que eu.
    Ela gosta de dormir com o ventilador em cima dela.
    Eu não gosto de vento direto, mas um movimento de ar é sempre bem-vindo.

    Um beijo,
    Paulo.

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