Wahe Guruuuu!

Nunca escrevo um texto sobre o yoga e sua importância para mim. Não sei se sinto reverência ou medo. Tudo que enxerga nossa alma com limpidez assusta um pouco. O yoga me oferta dádivas que não cabem em palavras. E me deu o maior presente de todos: a amizade da mestra. Um encontro de almas, com ela definiu, sem necessidade de retoques. 

Mas é que o yoga é mesmo indecifrável e indescritível. O primeiro contato que tive com esse mistério foi em 2001, em Nova Iorque. Consegui me matricular na YMCA com um pacote na medida para chicanos, ou seja, para os pobres. Não se esqueçam de que estamos falando da Associação Cristã de Moços, um lugar benevolente na selva capitalista da metrópole do mundo. 

A mensalidade me garantia algumas modalidades por mês. Não as mais em moda ou poderosas, but, who cares? Uma delas era de “Healthy Back”. Aula de costas saudáveis??? O nome me cativou na hora. Adoro seguir esse fluxo dos títulos, sabe? Eles já me conduziram a muitos livros bacanas e experiências imperdíveis. 

A professora se chamava Pauline e me adotou de cara. A espontaneidade dos brasileiros é muito apreciada em alguns mercados.:) Daí, num belo dia, ela me deu a pista que faltava: “não precisa ficar presa ao seu pacote não. Venha fazer outras aulas, who cares?” KKK!!! Então, na cara de pau, surgi na aula de yoga. Eram noturnas e eu até consegui arrastar o maridão. 

Mas nada havia me preparado para aquilo. A professora, coroa esguia, nos recebeu com afabilidade. A sala estava repleta. “Festa estranha com gente esquisita”, sacas? Umas faces de quem não tinha sustança. Minha mãe diria que faltava carne! Minha madrinha diria que faltava feijão preto! E lá vamos para a roda e aquele lance de “eu ocupo meu espaço e respeito o seu espaço...” 

Umas figuras tipicamente americanas não aceitavam dar as mãos aos colegas. Encostar é muito difícil entre ianques, normal. Americanos e outros povos nascidos no frio são, consequentemente, mais frios. 

Estava curtindo demais aquela loucura toda e o marido, que não é americano, mas é paulista, o que dá quase no mesmo, estava detestando. E lá vem a teacher com seus cabelos curtos prateados e se põe na postura do “angry lion”. Quando ela fez aquela careta horrenda e rugido africano ensurdecedor, quase caí para trás. Tive de conter o riso olhando de soslaio para Bernardo, que fazia sua expressão arrogante de “o que a Física diria disso”? 

Voltamos para o Brasil, o yoga ficou na lembrança com afeto. Só em 2006, ao mudarmos para a 303 sul, é que ele entrou na minha vida novamente. A faixa na Igreja São Camillo alardeava: Hatha Yoga aqui etc, etc. Incrédula (yoga na igreja deve ser uma M.), me aventurei na aula experimental. E desde então, estou lá. A aula se mostrou fantástica, a professora idem, o astral também. Fiz yoga durante toda a gravidez de Romulito e foi no meio de uma meditação que o nome dele surgiu, como uma evocação. 

Porém, é preciso dizer que a perseverança é a mãe do yoga. Pois nestes sete anos não posso dizer que faço metade da aula com precisão. Quem foi o maluco que inventou essas posturas? E quem são os literalmente desequilibrados que almejam alcançá-las? O canal GNT sentiu o potencial e lançou um programa: “Surtadas na Yoga”. É pra rir dos nomes dos asanas (posições) e das alunas que tentam, em vão, se tornar mais evoluídas física e espiritualmente. 

Poderia ser much better. Muito mais engraçado, se as atrizes fossem mais talentosas (Fernanda Young é boa escritora, mas daí a ser atriz é outra história). E o roteiro é um pouco frouxo e inverossímil. OK, fazer a postura do camelo, do pássaro Garuda ou da pinça também é. O que eu quero dizer é que o programa poderia ser hilário como algumas aulas reais da professora Cynthia que, ontem, nos colocou em situações inacreditáveis com sua Kundalini Yoga para as glândulas superiores. 

Quem passasse ali, na janela, chamaria uma equipe do Pinel. Um bando de mulheres com as mãos nos quartos, arqueando as costas para trás, abandonando a cabeça num giro esquerda e direita, esquerda e direita, respiração do fogo, clamando: Wahe Guruuuuuuu! Wahe Guruuuuu! E assim foi de quatro, de joelhos, agachadas... E tome-lhe Wahe Guruuuu!!!!! 

Em dado momento comecei a rir de mim mesma. Consegui abafar a gargalhada que me assaltou, mas não resisti e escrevi esse texto. Tô perdoada, né, superteacher? Somos umas surtadas, sem dúvida. Todavia, automedicadas com os poderes curativos do yoga. Namastê!